domingo, 21 de setembro de 2008

O Colapso do Paquistão



A crise financeira global têm afastado as manchetes da piora acelerada da situação política no Paquistão, onde nas últimos dias houve um atentado que explodiu um dos maiores hotéis da capital (foto), além de incidentes militares envolvendo tropas paquistanesas e americanas, tudo isso no contexto da transição para novo e frágil governo de Asif Zardari e de ofensiva dos Talibãs no vizinho Afeganistão. O risco é de colapso da autoridade do Estado e da ascensão de grupos fundamentalistas, em país com armas nucleares.

Paquistão signfiica “Terra dos Puros” e o país surgiu como projeto de nação para os muçulmanos que viviam no império britânico no subcontinente indiano. Nunca alcançou este objetivo: mais islâmicos vivem na Índia secular do que no Estado criado para sua religião. O próprio Paquistão se fragmentou na década de 1970, com sua porção oriental se tornando o Bangladesh após guerra civil que se assemelhou a genocídio pela violência envolvida. Enquanto a política indiana mostrou notável adesão à democracia parlamentarista, a paquistanesa degenerou para o revezamento entre ditaduras militares e cleptocracias civis, em particular a da família Bhutto.

O mais recente regime autoritário foi o do general Musharraf e durou de 1999 até 2008. Década marcada por tensões com a Índia – uma guerra de fronteira na Cachemira, que quase teve replay três anos depois – e pelo apoio da ditadura à guerra da OTAN contra os Talibãs e a Al-Qaeda no Afeganistão. Musharraf se mostrou como aliado decisivo dos Estados Unidos no pós-11 de setembro, mas sua importância estava justamente em poder controlar sua frágil coalizão governamental, em particular os elementos rebeldes nas Forças Armadas, cujo vínculo histórico é com os combatentes muçulmanos no Afeganistão e na Cachemira.

Os militares paquistaneses também se mostraram inquietos com a crescente proximidade entre os Estados Unidos e seu rival tradicional, a Índia. As relações entre Washginton e Nova Délhi, ruins durante a Guerra Fria, tornaram-se quase uma aliança, na medida em que os americanos contam com os indianos para se contrapor à ascensão da China e, igualmente, como uma opção estratégica caso o Paquistão caia em guerra civil.

Apesar dos bilhões de dólares em ajuda militar americana, Musharraf perdeu popularidade rapidamente nos últimos anos e a violência política se multiplicou, tanto em atentados terroristas quando na ação de guerrilheiros talibãs nas chamadas “áreas tribais” do Paquistão.




Essas regiões correspondem à fronteira máxima alcançada pelo império britânico na Ásia Central e são administradas de maneira semi-autônoma por grupos étnicos que estão presentes tanto no Paquistão quanto no Afeganistão, como os pashtuns. Tem inclusive sua própria força policial de fronteira e as ligações com os Talibãs e Al-Qaeda são profundas. Há poucos dias os Estados Unidos perderam a paciência e Bush autorizou operações militares em território paquistânes. Os soldados americanos foram recebidos à bala.



Tradicionalmente, os meses de inverno costumam ser pacíficos na região, devido ao rigor do clima. Mas os analistas especulam que agora será diferente. Os Estados Unidos estariam planejando uma ofensiva no Afeganistão, como resposta ao crescimento dos ataques dos Talibãs durante o verão, que mataram muitos civis (gráfico acima). E a guerra já dura sete anos. Foi anunciada uma transferência de tropas do Iraque para lá, justamente para levar adiante as operações de represália.

6 comentários:

Anônimo disse...

Olá,gostaria de saber onde vc conseguiu essa revista qual é..estou procurando,tenho um trabalho na faculdade...vc por acaso ainda a tem?
abs
http://todososfogos.blogspot.com/2007/08/bolivianos-em-so-paulo.html

ariadne_romano@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Meu caro, muito bom, na verdade, excepcional esse seu blog.

abs

Sergio Leo disse...

O homem está vindo pra Brasília, leandro. Ele é bem arredio, mas vamos ver se a gente monta uma armadilha pro bicho e arrasta ele para um chop na capital, prele explicar bem direitinho essas coisas que conta aqui no blogue.

Maurício Santoro disse...

Oi, Ariadne.

Comprei a revista numa banca de jornais comuns, no bairro carioca do Catete. Ainda tenho a publicação.

Leandro e Sérgio,

agora falta pouco... Mais uns 50 dias e me mudo para a capital. Aliás, muita gente boa que conheço vai prestar a prova do Ipea, que abriu vagas específicas para relações internacionais. Se metade dessa galera passar, nossos chopes no cerrado serão antológicos.

Abraços

Anônimo disse...

Muito Bom jogador.
O problema de fato é o Paquistão. Enquanto a Al-Qaeda tiver um refúgio em território paquistanês a guerra contra o terror será inócua em todo resto do mundo.

abração brasiliense.

Helvécio.

Maurício Santoro disse...

Salve, Helvécio.

Acabei de ler um livro que o Bruno Borges me recomendou sobre o Paquistão e me impressionou o vínculo estreito que existe entre os militares e os grupos fundamentalistas, nos dois lados da fronteira. Tenho a impressão de que a coisa por lá acabará mal, muito mal...

Abraços