quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Procurando pela Revolução


Já havia escrito aqui no blog sobre a excelente série de documentários “Por que democracia?”, projeto internacional que no Brasil é exibido pelo Canal Futura. Mas foi somente no domingo que consegui assistir ao episódio latino-americano. “Procurando pela Revolução“ é dirigido pelo cineasta argentino Rodrigo Vazquez e aborda a Bolívia nos dois primeiros anos do governo Evo Morales, com ênfase mais do que bem-vinda na mobilização das mulheres indígenas.

A protagonista do filme é Jiovanna, líder de um grupo feminino cujo principal objetivo é a geração de empregos. Ela é uma personalidade em ascensão no Movimento ao Socialismo (MAS), o partido de Morales, e é eleita deputada na mesma votação que consagra Evo como presidente. A expectativa das mulheres que militavam com ela é que sua atuação no parlamento resolva o problema da falta de trabalho, conseguindo recursos públicos para o programa que desenvolviam com grande dificuldade.

Você pode assistir a um trecho do documentário clicando abaixo:



Jiovanna parece comprometida com a causa das mulheres, mas também está fascinada com sua nova condição de deputada e o documentário a acompanha comprando roupas de luxo num shopping center ou falando com admiração dos colegas “inteligentes e cultos” com os quais convive no parlamento. Simultaneamente, Morales enfrenta dificuldades crescentes com os partidos de direita, incluindo insólita “greve de senadores”, que se recusam a votar projetos importantes para o governo.

Os meses vão passando e as mulheres que trabalhavam com Jiovanna não conseguem entender a incapacidade do governo de responder às suas demandas, o que leva a uma série de acusações e agressões contra a deputada. A situação piora quando sua principal auxiliar cai num escândalo de corrupção, acusada de pedir em dinheiro em troca da promessa de um emprego.

O MAS tem forte vínculo tão forte com os movimentos sociais que seus integrantes preferem defini-lo como “instrumento político” dos grupos populares, e não como partido. Nomenclaturas à parte isso se traduz em grande capacidade das bases em fiscalizarem os dirigentes e cobrarem a fidelidade às decisões coletivas. A relação é retratada de modo bem claro no filme e impressiona a força da mobilização do MAS.



A situação enfrentada pelas mulheres mostradas na história se parece muito com um caso que minha equipe e eu estudamos na Bolívia, só que envolvendo jovens da cidade de El Alto, que exigiam a criação de uma escola de formação de professores. Conseguiram, mas com um número de vagas bem abaixo do que desejavam. Certamente não falta vontade do governo Morales em atender a essas reivindicações, mas a escassez de dinheiro é brutal, e o Estado foi muito fragilizado pelas reformas que se seguiram à hiperinflação do início da década de 1980.

O belo documentário de Rodrigo Vazquez ajuda a entender o que acontece na Bolívia atual, minha única crítica séria é sua obsessão em traçar paralelos entre Morales e Che Guevara. Ora, os movimentos sociais atuais têm sua luz própria, e inovações na organização política deveras interessantes.

3 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Näo vi o documentário, mas gostaria. O que vi muitas vezes
é o "filminho" dos políticos idealistas que terminam deixando o povo por os colegas "inteligentes e cultos", täo cultos como o presidente que nos '90 tivemos na Argentina, quem tinha lido as Obras Completas do Sócrates e uma novela do Borges.
Como argentino é um honor que o documentário considere a um compatriota como o mais famoso revolucionário! HAHAHA
Saludos

Patricio Iglesias

Maurício Santoro disse...

Pois é, Menem é fora de série em qualquer comparação.

Sabe, há uma boa tradição de argentinos escrevendo sobre a Bolívia, ou fazendo filmes a respeito do país. Não há nada semelhante no Brasil.

Abraços

Claudia Cmdterra disse...

Muito bom os textos sobre a Bolívia. Parabéns pelo ótimo conteúdo do blog.Tenho muito interesse no que rola na América Latina, especialmente na Bolívia e Evo. Se tiver interesse em trocar ideia a respeito, gosatria que me mandasse seu e-mail.Um abraço. Valeu!!! Cláudia