sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Veneno e Antídoto


Na ONG em que trabalho costumamos exibir filmes sobre temas sociais e em seguida realizarmos debates com alguém envolvido em sua produção. Ontem foi a vez do excelente documentário “O Veneno e o Antídoto – uma visão da violência na Colômbia”, dirigido por Estevão Ciavatta.

O filme nasceu de um convite recebido pelo Afroreggae para visitar a Colômbia e o grupo resolveu aproveitar a visita para filmar as maneiras pelas quais as pessoas lidam com a resolução de conflitos violentos. Tudo a ver com uma organização que nasceu como reação da sociedade às chacinas que ocorreram nas favelas do Rio de Janeiro no início da década de 1990. O documentário mostra iniciativas em três locais: Bogotá, Medellín e o povoado de San José del Apartadó, próximo à fronteira entre Colômbia e Panamá.

Em Bogotá e Medellín, o filme entrevista políticos, ativistas comunitários, ex-paramilitares em reabilitação, vítimas da violência e artistas. Impressiona a gama de políticas públicas bem-sucedidas implementadas nas duas cidades, como a instalação de centros de conciliação, espécie de juizados de pequenas causas dedicados a resolver conflitos entre moradores de favelas e áreas pobres. Os próprios habitantes locais são treinados para mediar nas disputas, com resultados excelentes. De fato, analistas do confronto armado colombiano apontam que a violência política acabou por contaminar as relações pessoais cotidianas, se espalhando para brigas banais de trânsito ou entre vizinhos.



Outro elemento importante é a reforma urbana empreendida com o propósito de valorizar os espaços públicos, tais como praças e parques. Um componente foi o de melhorar o acesso às favelas, como os teleféricos de Medellín (foto acima), além de ruas mais amplas. A idéia é que as pessoas passem a valorizar mais a cidade e que os laços sociais entre os moradores se tornem mais fortes.

Também houve incentivos culturais, dos quais o mais impressionante é a extraordinária rede de bilbliotecas públicas, sem paralelo na América do Sul. Na foto abaixo – uma delas, em Bogotá. Aliás, nunca canso de me maravilhar com o altíssimo nível cultural colombiano, algo que também chamou a atenção dos espectadores, porque as pessoas entrevistadas no filme eram muito articuladas e precisas ao narrar suas histórias.



Nas cidades colombianas a taxa de homicídios caiu para 10% do que foi no auge do conflito, mas a zona rural continua muito violenta. O documentário mostra a situação do norte do país, uma região disputada por diversos grupos armados por sua importância na rota para escoar drogas. Uma das mulheres entrevistadas no filme conta que perdeu filhos para cada um dos atores da guerra: Exército, paramilitares, guerrilhas.

Sendo assim, não é de espantar que muitos fujam do interior rumo às cidades, migrantes que na Colômbia são conhecidos como “desplazados” - na realidade, refugiados de guerra em seu próprio país.

3 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Interessante documentário. Näo savia da fama da rede de bibliotecas públicas na Colômbia.
Saludos

Maurício Santoro disse...

Meu caro,

na minha preferência pessoal, a riqueza da literatura colombiana só fica atrás da Argentina, e mesmo assim porque não é fácil competir com Cortázar & cia!

Abraços

Unknown disse...

Maurício,

Obrigado pelos elogios. Foi uma pena eu não estar no Rio para ir na exibição.
Para quem ainda não viu o filme e você quiser recomendar, ele vai passar no Festival do Rio no sábado, 27/09 e na terça, 30/09.
Abs!

Estevão Ciavatta