quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Vinte Anos de um Clássico


Ocasionalmente meus alunos no preparatório para o Itamaraty me perguntam “Que livro você recomenda para quem nunca leu nada sobre política internacional, mas quer se dedicar ao tema?”. Minha recomendação, invariavelmente, é “Ascensão e Queda das Grandes Potências”, do historiador inglês Paul Kennedy. O livro completa 20 anos nesta semana e há uma certa festa na comunidade acadêmica para celebrar a data.

Kennedy examina a construção e declínio de diversos impérios, do Renascimento aos dias atuais. Sua tese central é que a expansão territorial leva as grandes potências a assumir um número excessivo de compromissos militares, que acabam por causar problemas à economia e impor um custo humano e político insustentável. O livro foi escrito em meio à ressurgência da Guerra Fria durante a presidência de Reagan, e afirmava que os Estados Unidos estavam no rumo da decadência. Ironias da história: é claro que não estavam, mas a tese de Kennedy se aplica à perfeição para explicar o colapso do bloco soviético, que ocorreu meses após a publicação da obra.

Em suma, Kennedy errou na análise de conjuntura, mas forneceu uma ferramenta importante para o exame de diversas situações de conflitos, para não mencionar o prazer da leitura de suas narrativas históricas. Embora o autor já fosse um acadêmico veterano, seu livro o catapultou para o status de celebridade global, e ele se tornou um debatedor importante nas controvérsias sobre política externa dos EUA. De seu posto em Yale, ressaltou a importância de se pensar em termos de “grande estratégia”, olhando além das dificuldades e problemas cotidianos.

Nos últimos 20 anos Kennedy continou ativo, escreveu um bom livro sobre tendências globais contemporâneas (“Preparando para o Século XXI”) e uma história da ONU, que não li. Ele agora trabalha num estudo sobre o escritor Rudyard Kipling, que a maioria talvez considere como um defensor instransigente do imperialismo, por conta de seu poema "O Fardo do Homem Branco", um apelo aos Estados Unidos para seguirem os passos dos britânicos. Pessoalmente, acho que a verdade é mais complexa. Kipling perdeu o filho na Primeira Guerra Mundial e se tornou bem mais amargo com relação ao militarismo e às aventuras coloniais, ambigüidade presente em algumas de suas melhores obras, como o conto "O Homem que queria ser rei".

5 comentários:

P.R. disse...

só de ver o nome do Kipling, me dá arrepios. esse cara era do mal. nunca li o kennedy. acho que não devia ter me formada em RI, rs! acabaram suas férias?
beijos!

Anônimo disse...

Não entendi a sua afirmação de que o Kennedy errou em dizer que os EUA estavam no rumo da decadência. Por acaso o que se viu de lá para cá foi ascensão? Na minha opinião, o processo está em curso desde a crise do petróleo e história não se faz em 20 anos.
Achei sua afirmação taxativa demais, como se fosse uma verdade comprovada que os EUA estão no rumo do crescimento como potencia e imperio mundial...

Maurício Santoro disse...

Olá, Pat.

O Kipling é bem mais interessante do que em geral se supõe, vale a pena assistir à adptação cinematográfica do Homem Que Queria Ser Rei, é um filmaço estrelado pelo Michael Caine e pelo Sean Connery.

Aiaiai,

O Kennedy havia escrito, basicamente, que a URSS levaria a melhor diante dos EUA. O que vimos foi o oposto e durante o pós-Guerra Fria os Estados Unidos expandiram muito sua área de influência, principalmente na Europa Oriental e na Ásia Central.

O pós-11 de setembro é outra história, e as aventuras militares deasastradas no Afeganistão e no Iraque estão mostrando os limites do poderio americano. Talvez Kennedy ria por último, quem sabe.

Abraços

Anônimo disse...

Acho que é por ai, mas história a gente tem que olhar com uma visão de longo prazo. De qualquer forma, o post me incentivou a ler o livro, já fiz até a encomenda. Valeu!

Marco Vieira disse...

Caro Maurício
Tive a grata oportunidade de conversar brevemente com o professor Kennedy na LSE por ocasião do lançamento do seu livro 'The Parliament of Man'. Eu indaguei sobre sua previsão quanto ao declínio dos EUA e se ela estaria correta porém um pouco atrasada, e se ela se realizaria no presente século. Ele de pronto concordou, e enfatizou a idéia de um novo período histórico de multipolaridade e da necessidade de fortalecimento da ONU nesse novo contexto. Abraço -- Marco