segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Elegia para Mumbai
Entre os dias 26 e 28 de novembro, um pequeno grupo de talvez 10 terroristas atacou a capital financeira da Índia, Mumbai (Bombaim), matando cerca de 200 pessoas numa série de atentados contra restaurantes, praias, estações de trens, hospitais e centros culturais judaicos, culminando com a tomada do Taj Mahal Palace, o hotel mais luxuoso da cidade (mapa acima). As atrocidades foram atribuídas ao Lashkar-e-Taiba, um grupo terrorista com raízes no Afeganistão e no Paquistão, muito ativo na Cachemira. Como as outras organizações extremistas da região, tem vinculos profundos com os serviços de inteligência paquistaneses, e os ataques podem ter sido uma tentativa de inviabilizar a recente tentativa da aproximação entre Índia e Paquistão.
A Índia sofre com terrorismo religioso desde sua independência, ocorrida em meio a confrontos genocidas entre a maioria hindu e a minoria muçulmana que resultaram em um milhão de mortos. Nas décadas seguintes houve diversos atentados comentados por grupos fundamentalistas das duas crenças, ataques lançados por sikhs e tamils, com os assassinatos dos primeiros-ministros Indira e Rajiv Gandhi, e a longa ameaça da guerrilha comunista dos Naxalitas. Após o 11 de setembro, os choques entre hindus e muçulmanos se intensificaram, com os piores momentos acontecendo nos massacres cometidos em nome do hinduísmo em Gujarat e nos atentados perpretados a pretexto do Islã contra o parlamento indiano, que quase levaram a outra guerra entre Índia e Paquistão. O ano de 2008 tem sido particularmente violento.
Mumbai é a cidade mais cosmpolita da Índia, um emaranhado de povos, religiões, culturas e estilos de vida que formam a área mais dinâmica, caótica e fascinante do país. Por seu papel econômico, também é a porta de entrada para os estrangeiros, e não por acaso os terroristas tiveram como alvo exatamente os locais mais freqüentados por pessoas de outros países, em particular dos Estados Unidos e da Europa.
A persistência e aprofundamento da democracia indiana em meio a essa história sangrenta é um milagre, totalmente inesperado diante das previsões das teorias tradicionais da ciência política. Mesmo em constraste com as atrocidades do passado, os ataques dos últimos dias em Mumbai foram chocantes e diversos altos funcionários indianos da área de segurança renunciaram a seus postos, embora ainda não esteja claro se a decisão é definitiva.
O Partido do Congresso, atualmente no poder, enfrenta uma feroz oposição dos nacionalistas hindus do BJP, e precisa lidar também com a fúria e a indignação da população, que se sente desprotegida e acusa o governo de negligência diante do terrorismo. É provável que nas próximas semanas sejam apresentadas novas leis de combate ao terror, e algum tipo de reorganização administrativa, com reforma ou criação de órgãos públicos para enfrentar a ameaça.
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4 comentários:
Os ataques terroristas na Indias focado diretamente nos estrangeiros, ao mesmo tempo que o aeroporto da capital tailandesa esta tomado contra opositores do governo, sao um claro sinal de que a globalizaçao esta tendo um efeito inesperado. Tragedias e desgraças acontecen diariamente no mundo, com dezenas de vitimas anonimas.Focar no ocidental, no turista, no estrangeiro nao chega a ser uma novidade, mas mostra que todos estao aprendendo a lidar com a midia, e usa-la como arma em proprio proveito.
Sem dúvida, Gláucia. É uma maneira que os descontentes em cada sociedade encontraram de levar sua mensagem ao mundo todo, em particular à imprensa ocidental.
abraços
Me desperta curiosidade - e um certo asco - a aparente apatia e inação das potências ocidentais quanto ao episódio. Havia europeus entre as vítimas... Mas acho que ninguém vai meter a mão num balaio de gatos quando se sabe que os gatos têm arsenal nuclear...
Pois é, meu caro. Imagino que deve estar rolando muita pressão por baixo dos panos sobre o Paquistão, a Índia solicitou a entrega de vários suspeitos ao país, o que é uma questão bastante delicada para as relações bilaterais.
Abraços
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