terça-feira, 12 de maio de 2009
O Papa em Israel
A visita de Bento XVI ao Oriente Médio é uma bem-sucedida operação diplomática. Com sua condenação ao antissemitismo e defesa de um Estado palestino, o papa apaziguou ânimos que andavam agitados nos dois lados do conflito árabe-israelense, em razão de atos recentes da Igreja Católica.
A relação do Vaticano com Israel é bastante complexa, mas melhorou imensamente a partir da década de 1990, quando a Igreja finalmente reconheceu o Estado judeu. Até então, o gesto havia sido evitado pelo medo de represálias aos cristãos que vivem em países muçulmanos. A preocupação do Vaticano também se estende aos palestinos que seguem o cristianismo – cerca de 9% do total – e aos cristãos que vivem nos territórios ocupados por Israel na Cisjordânia. Muitos deles têm abandonado locais sagrados, como Belém, em função do recrudescimento da violência.
Outro tema tenso é a relação da Igreja com o Holocausto. Bento XVI defendeu a beatificação do papa Pio XII, cuja atuação diante do nazismo é frequentemente criticada como apática e frágil, e muitos em Israel se ressentem do prestígio do qual ele desfruta na Igreja. A situação só piorou quando o atual papa reinstalou um bispo que nega o genocídio e autorizou que um apelo em latim pela conversão dos judeus ao catolicismo voltasse a ser rezado como parte de uma oração de Páscoa.
Nesse aspecto, há um contraste marcante entre Bento XVI e seu predecessor. João Paulo II presenciou a brutalidade nazista na Polônia e fez muito pela aproximação entre católicos e judeus, incluindo uma pungente reflexão sobre o Holocausto.
Em meio aos problemas, surge a notícia de que Barack Obama deverá propor uma grande conferência de paz no Oriente Médio, provavelmente no discurso que fará no Egito no próximo dia 4. Será que teremos um acordo abrangente, nos moldes dos que Carter e Clinton intermediaram?
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16 comentários:
Tenho lido alguns documentos do papado de Pio XII para ajudar uma aluna. Não há evidência dessa apatia. Hitler tinha sua própra religião...hehe
O interessante éque um dos melhores amigos de Karol Wojtyla era judeu. Vale a pena ver o filme "Karol".
abraço,
Helvécio.
caro santoro,
duvi-do-dó que esse processo de paz, agora sob obama, favoreça a solução de dois estados.
tem-se obstáculos maiores que aqueles do tempo de clinton. muros de concreto segregando comunidades palestinas, estradas privativas para israelenses, implementação de colônias ilegais na cisjordânia, guerra total contra os habitantes de gaza e por ai vai.
a realidade da ocupação israelense, que pode ser definida como política de colonização de um país habitado, é muito semelhante à época do apartheid da áfrica do sul.
outro agravante seria a nova liderança de israel. majoritariamente de extrema-direita com forte presença de judeus orientais da ex-união soviética, arautos da expulsão física de todos os árabes da região.
pelo lado palestino, aí é que complica. lideranças divididas, apoiadores árabes claudicantes,conservadores e autoritários como de costume.
sinceramente, santoro, talvez eu esteja dominado pelo desânimo depois de tanta desfaçatez, o que me lembra o barão de itararé: O grande problema é que o problema é grande demais.
abçs
Caro amigo:
Concordo totalmente com o Carlos: "O grande problema é que o problema é grande demais".
Respeito ao Pio XII, os detratores dizem que ele apoiu ao Adolf Hitler com seu silêncio cúmplice e seus defesores afirmam que era a única opçäo que tinha pra evitar o ataque aos católicos; mas, do que näo ficam dúvidas, é de que suas posturas foram muito menos duras do que as do seu antecessor, Pio XI, quem estiva por escrever uma encíclica contra o nazismo e seu projeto foi abandonhado pelo Pio XII.
Interessante cita, acorde ao caso.
Save que näo säo teólogo, mas há dois pontos que gostaria corregir. O papa ainda näo beatificou ao Pio XII; veja no Google: näo saiu a nota: http://www.google.com.ar/search?hl=es&q=Beatificaci%C3%B3n+P%C3%ADo+XII&meta=&aq=f&oq=
Sob os bispos lefebvristas, o que fez o papa foi só levar a excomuniäo aos quatro bispos que tinham sido ordenados ilícitamente pelo bispo "rebelde" Marcel Lefebvre, o qual näo implica necessariamente retorno pleno na Igreja. Lutero também (um pouquinho tarde)foi "desexcomulgado" faz um tempo.
Save que näo sou teólogo, mas aprendi issas coisas porque aqui se falou muito do tema. O bispo Williamson, quem dez que näo houve cámaras de gas na Shoah, vivia na Argentina até que deixou o pais quando iva ser expulsado pelo governo (decissäo que apoio totalmente, além de minhas diferenças com ele): http://news.bbc.co.uk/hi/spanish/latin_america/newsid_7900000/7900607.stm
Saludos!
PD: "Interessante cita, acorde ao caso" é sob a cita do Carlos de o barão de Itararé.
A prez pela a conversäo dos judeus sempre estivo (e é criticada) na missa do Sábado Santo, mas desde o CVII foi eliminado o adjetivo "pérfidos", palavra que os lefebvristas ainda mantêm no latim.
Helvécio,
Há muitas evidências da apatia de Pio XII ao nazismo, se é que essa palavra não é leve demais para descrever a concordata que ele assinou com a Alemanha na década de 1930 e suas ordens para que o partido católico saísse do caminho de Hitler.
Do ponto de vista pessoal, ele ajudou alguns judeus, mas a falta de reação da Igreja foi notável. Em Israel, ele é muito mau considerado até hoje.
(A pesquisa mais completa que conheço é de John Cornwell em sua biografia de Pio XII.)
Salve, Carlos.
"Otimismo" e "Oriente Médio" são expressões que raramente vem juntas e não me arrisco a prever o resultado da diplomacia de Obama na região. Você apontou muito bem os obstáculos que o processo de paz enfrenta, mas talvez a própria falta de perspectivas possa estimular algum tipo de acordo.
Olá, Patricio.
Você tem razão sobre o processo de beatificação, ele está parado desde outubro de 2008. Me confundi sobre esse ponto. Mas não entendo bem a questão sobre os bispos de Lefebvre, eles podem rezar missa?
Abraços
caro santoro,
um cético otimista, como, às vezes, me defino foi atingido pelo "talvez a própria falta de perspectivas possa estimular algum tipo de acordo", o que seria: estamos no mato sem cachorro, temos que nos virar com o que temos em mãos, sejamos pelo menos civilizados, não nos amamos, mas não precisamos nos odiar até o apocalipse ou coisa que o valha ... é isso, santoro.
valeu
Caro amigo:
Os lefebvristas näo têm autorizaçäo pra rezar missa, aunque suas ordenaçöes foram válidas, já que um bispo que tinha a sucessäo apostólica (a Igreja diz que a sucessäo episcopal vem diretamente dos apóstoles e que algumas comunidades, como as ortodoxas ou a veterocatólica, ainda conservam issa sucessäo, mas näo por ejemplo os bispos anglicanos) ordenou a eles. O que aconteceu foi assim: o Lefebvre foi suspenso por näo aceitar o CVII e finalmente excomulgado por ordenar bispos sem autorizaçäo do papa (ilícitamente) en 1988. Fellay (o superior), desde a chegada do Bento XVI, está tentando se acercar a Roma e consiguiu, depois de falar com o Papa, que leve as excomuniöes e voltem as missas no rito tridentino, mas ainda näo estäo em comuniäo plena porque têm que reconhecer, como qualquer católico, o ensino do CVII. É um tema muito complicado, com muito de teologia. Tinha lido um artigo onde se explicava muito bem todo isso, mas agora näo encontro.
Leia. Temos um argentino bispo lefebvrista. Lamentavelmente näo falta nada a nós pra ser uma das capitales da extrema direita: http://www.elperiodicodemexico.com/nota.php?id=223446#Scene_1
Discordo meu caro, apesar de raramente discordar de você..hehe
colocam um peso no Pontífice que não é dele. As "divisões" do Papa atuaram até onde poderiam. Hoje isso é usado para vender livros e colocar os judeus contra os católicos.
Dos 5.715 judeus de Roma, registrados pela Alemanha para ser deportados, 4.715 foram acomodados em 150 instituições católicas, e deles, 477 em santuários do Vaticano. O embaixador britânico ante o Vaticano ratifica este fato. O Papa teve uma atitude similar na Hungria através de seu representante, o núncio apostólico Dom Angelo Rotta, que teve um papel decisivo na hora de salvar a vida de 5.000 judeus.
Veja por ex. David G. Dalin em seu livro «O mito do Papa de Hitler: como Pio XII salvou os judeus dos nazistas» («The Myth of Hitler’s Pope: How Pius XII rescued Jews from the Nazis»).
O rabino judeu Baruj Tenembaum, fez uma análise do que significa a aparição de um livro que analisa temas tão polêmicos e sua perspectiva autenticamente judaica.
Tenembaum é professor de estudos bíblicos e hebreu em diferentes casas de estudo e mestre de rabinos, intelectuais, sacerdotes, pelo que sua opinião constitui o ponto de referência. Foi um dos pioneiros do movimento inter-confessional, pelo que foi distinguido e condecorado pelo Papa Paulo VI e por vários governos. David G. Dalin é historiador, professor em Ave Maria University, ordenado rabino, que dedicou longos anos à investigação do tema.
Dalin em sua obra demonstra que Pio XII salvou muitas vidas judaicas durante o Holocausto. Ele cita o agradecimento de Golda Meir, a ministra de Relações Exteriores de Israel, a Pio XII, que enviou uma mensagem ao Vaticano por ocasião da morte do Papa: «Lamentamos, perdemos um servidor da paz. A voz do Papa durante o Nazismo foi clara e em defesa das vítimas». Dalin documenta e analisa a trágica deportação dos judeus de Roma a Auschwitz em 1943 e oferece uma análise exaustiva da questão com menções de fontes diversas, inclusive a princesa ítalo-católica Enza Aragona Cortes.
em uma época de trevas na Europa onde a maioria ficou em silêncio Pio XII foi um dos poucos a levantar a voz.
Helvécio.
outro fato sobre John Cornwell. Curiosamente as fontes dele são forjadas por agentes da KGB numa campanha de Kruschev para desmoralizar a Igreja e "torná-la" aliada do nazismo. Além disso, ele mentiu a respeito das fontes da sua reportagem, dizendo que havia feito extensas investigações na Biblioteca do Vaticano, quando as fichas da instituição não registravam senão umas poucas e breves visitas dele. O conteúdo da sua denúncia já estava desmoralizado desde 2005, graças ao estudo do rabino David G. Dalin, “The Myth of Hitler’s Pope”.
Helvécio.
Olá, Patricio.
Obrigado, você me esclareceu várias dúvidas. Realmente, o assunto é bastante complexo.
Salve, Helvécio.
Realmente discordo. Entendo que Pio XII tratou o nazismo como outros regimes autoritários com quem o Vaticano estabeleceu boas relações nas décadas de 1920/30: o fascismo na Itália, o franquismo na Espanha e o salarizarismo em Portugal.
É conhecida a ação do papa para salvar alguns judeus, inclusive os que ele acolheu em sua residência de verão, mas o que se critica é sua apatia pública diante do tema. O Yad Vashem, o museu sobre o Holocausto em Jerusalém, inclusive critica Pio XII como um espectador passivo diante do genocídio.
Seu processo de beatificação despertou reações furiosas em diversos setores da sociedade de Israel. O próprio discurso do papa em Yad Vashem, nesta visita, foi atacado pelo Jerusalem Post como uma oportunidade perdida. Consideraram sua fala demasiado genérica.
Abraços
Entendo amigo Santoro,
mas você leu uma versão viesada. no caso, Cornwell. As origens desse livro são, curiosamente, da KGB...hehe
Seria interessante que você lesse a crítica a ele com acesso aos dados oficiais (David Dalin). Principalmente as fontes que são ruins.
As concordatas eram normais e necessarias em uma época onde a Igreja deveria proteger seus interesses (escolas católicas) ante regimes que se tornavam laicos.
Essa idéia de que o Papa flertava com o nazismo para conter o comunismo também é estranha e popularesca. O Papa publicamente escolheu a neutralidade e desprezava Hitler tanto como Stalin.
Sobre o silêncio público cito o vaticanista Geogers Suffert, pois creio que foi o mais equilibrado e imparcial: "De fato, Pio XII temia que uma intervenção pública de sua parte desencadeasse represálias maciças contra os cristãos, sobretudo os católicos alemães e austríacos. (...) Ninguém pode julgar Pio XII. As responsabilidades que pesavam sobre seus ombros eram esmagadoras, e é verdade qe não havia uma boa solução".
repetindo, em uma época de trevas na Europa onde todos se calaram, creio que o Papa fez muito diante das possibilidades que tinha.
abraço jogador,
Helvécio.
Esse tema (do Papa Pio XII) é realmente polêmico. De fato, não somente faltam evidências sobre o real envolvimento do Papa com o nazismo, mas também há certeza de que ele pessoalmente ajudou os judeus.
O que realmente importa nessa questão, todavia é a omissão de Sua Santidade. Ainda que Pio XII não seja diretamente culpado pelas atrocidades cometidas durante o nazismo, sua apatia diante do holocausto contribuiu sim para que essa situação se perpetuasse.
Em uma época de trevas na Europa em que todos os homens se calaram, também Deus se calou.
Onde estão as evidências dessa omissão perpetuando o Holocausto? O que tem a ver o Holocausto com o Papa? E o que além de salvar judeus através de seus núncios poderia, realisticamente, o Papa fazer?
O silêncio público de Pio XII salvou vidas de vários cristãos.
Como disse anteriormente, criticar publicamente Hitler significaria retaliação contra cristãos. Aì teríamos uma perseguição cintra judeus e contra cristãos.
O próprio nome "Papa de Hitler" da "obra" do Cornwell é sensacionalista.
Helvécio.
Além disso meu amigo neo-brasiliense, (e caro aluno ariano) o próprio autor reconheceu seus equívocos posteriormente. Um mea-culpa meio tardio, depois que ganhou muito dinheiro.
veja:
"John Cornwell...who recently admitted he was wrong about Pius XII in light of the "debates and evidence following Hitler's Pope." ("The Pontiff in Winter" [Doubleday, 2004] p. 193).
no link: http://www.insidethevatican.com/newsflash/2005/newsflash-feb13-05.htm
Abraço e sem mais.
Helvécio.
Helvécio,
tentar desacreditar um historiador sério como cornwell chamando-o de inocente útil nas mãos da KGB é uma tática digna da Inquisição, você não acha?
Concordo que o título é exagerado, mas a análise que ele faz na obra é bastante moderada.
As concordatas com os regimes totalitários foram uma opção política da Igreja, que numa perspectiva otimista poderiam ser chamadas de escolher um mal menor diante do comunismo. Mas o entusiasmo com que o Vaticano abraçou o fascismo, o franquismo e o salazarismo me leva a crer que a coisa foi pior. A relação com o nazismo sempre foi mais complicada, pelo caráter anti-religioso do regime.
Pio XII continua a ser um assunto mal resolvido para a relação da Igreja com os judeus e as críticas dos israelenses a diversos aspectos da visita de Bento XVI mostram que esse seguirá sendo um ponto delicado.
Você me pergunta sobre o que o papa poderia ter feito em lugar do silêncio público. Diria que essa é a grande indagação que fazem muitas pessoas, e que a Igreja bem poderia se questionar sobre o mesmo tema. De que modo as coisas poderiam ter sido diferentes na Segunda Guerra Mundial?
Abraços
exatamente jogador, o que seria diferente? ainda creio que ele fez muito. Se atuasse publicamente a perseguição seria contra os cristãos.
Mas ainda gostaria, se você tiver tempo um dia, que você lesse um livro de um autor judeu sobre Pio XII: "The Myth of Hitler's Pope". Que eu já citei aqui. Você apresentou um lado da moeda, a versão de Cornwell, que ele mesmo reconheceu estar errada em vários pontos. Não é questão de seriedade, é que quando se fala em religião, muitas coisas podem estar envolvidas no interesse de Cornwell, se ele é tão sério assim porque um título sensacionalista sem comprovação histórica?
Não acho exagerada a versão sobre a KGB, havia uma atuação do regime soviético em desmoralizar a Igreja. Há evidências sim. Um ex-agente da KGB admitiu isso em uma entrevista na National Review meu caro: "In my other life, when I was at the center of Moscow’s foreign-intelligence wars, I myself was caught up in a deliberate Kremlin effort to smear the Vatican, by portraying Pope Pius XII as a coldhearted Nazi sympathizer. Ultimately, the operation did not cause any lasting damage, but it left a residual bad taste that is hard to rinse away. The story has never before been told". http://article.nationalreview.com/?q=YTUzYmJhMGQ5Y2UxOWUzNDUyNWUwODJiOTEzYjY4NzI=
Muitos em Israel consideram Pio XII um grande homem que ajudou os judeus naquilo que estava em seu alcance. (até mesmo Golda Meier) Os que negam isso podem simplesmente fazer isso para conquistar o apoio político dos mais radicais.
O exagero, na minha opinião, é considerar Pacelli apoiador dos fascismos. Como disse antes, odiava tanto a Hitler como Stálin. Pio XII tentou, inclusive, convencer Mussolini a não se aliar a Hitler. O que muitos afirmam ser um flerte com regimes fascistas eram, na verdade, preocupações da Igreja com a liberdade de culto dos seus fiéis. Sempre há uma sobrevalorização do uso da política sobre o Vaticano e o Papa. as concordatas foram mecanismos diplomáticos normais do Vaticano, preocupado principalmente com o ensino da juventude. Latrão foi uma das concordatas. Foram boas, pois garantiam a liberdade da Igreja em educar sem intervenção do poder estatal.
abraços,
Helvécio.
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