segunda-feira, 11 de maio de 2009
Pós-Guerra
Quer saber o que François Mitterand dizia de Margareth Thatcher, com esse olhar de canastrão com péssimas intenções? Tem curiosidade em entender como a Alemanha lidou com o trauma do nazismo e de que modo foi capaz de empreender a impressionante modernização econômica a partir da década de 1950? Ou você busca compreender as razões que levaram diversos Estados do bloco soviético a entrar em conflito com a URSS? Por que a União Europeia despende tantos recursos numa ineficiente política agrícola comum? Como se deu a transição do autoritarismo para a democracia na Espanha, Grécia e Portugal? Então o livro que você procura é o monumental “Pós-Guerra: uma história da Europa desde 1945”, do historiador inglês Tony Judt.
Judt cumpre o que promete no título, com ênfase nas transformações políticas e sociais (o livro é um tanto menos abrangente no que toca à economia e à cultura), abarcando tanto os países ocidentais quanto o antigo bloco comunista – incluindo diversas análises de repúblicas soviéticas, como as nações bálticas, a Ucrânia e a Rússia. Seu trabalho é uma obra-prima escrita em linguagem clara, objetiva e elegante. A tese principal: o período 1945-1989 foi o longo epílogo à era da “guerra civil europeia” (1914-1945), o congelamento dos problemas criados por ela, que só caminharam para a resolução após a queda do Muro de Berlim.
Tais dificuldades não eram pequenas. O que fazer com a Alemanha dividida, cujos esforços por hegemonia haviam provocado os dois conflitos mundiais anteriores? Como lidar com a área de influência que os soviéticos construíram no rastro da vitória contra o nazismo? Como recuperar um continente destruído, e que via sua influência internacional desmoronar diante do fim de seus impérios coloniais e da ascensão de duas superpotências?
Hoje sabemos quais foram as respostas: intenso processo de integração regional política e econômica, que vinculou a Alemanha Ocidental a seus vizinhos do Oeste, a proteção militar dos EUA, a aceitação, de facto, do direito de intervenção soviético em seus satélites da Europa Oriental e a construção de pactos políticos que criaram grande estabilidade por meio de Estados de Bem-Estar Social e mecanismos de divisão de poderes, recursos e cargos aos principais partidos e grupos políticos em cada país.
A perspectiva de Judt é a de um progressista sintonizado com a agenda de direitos individuais clássicos, talvez um tanto cético diante de novas demandas. Digamos que mais na linha de liberais como Raymond Aron e Isaiah Berlin do que as leituras de esquerda feitas por Eric Hobsbawm ou Mark Mazower. Por exemplo, sua análise dos movimentos sociais da década de 1960 é um pouco rabugenta e injusta e eu gostaria que ele tivesse se aprofundado na discussão sobre o terrorismo na Alemanha e na Itália (embora as escassas páginas que dedique ao tema sejam excelentes).
Como bom britânico, Judt é bastante crítico da União Europeia e de todo o processo, que merece um olhar mais afetuoso, e quem sabe uma organização diferente, com um capítulo só dedicado ao tema - no formato atual, a análise sobre integração está dispersa em vários trechos. Mas ele é preciso ao examinar como "a ideia de Europa" foi importante na transição democrática dos regimes autoritários do continente, de Portugal, Espanha e Grécia aos países do bloco soviético.
Em suma, grande livro. Vale muitas conversas em volta de um bom café.
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2 comentários:
Uma coisa me intriga... como um livro em português consegue, com isenção de imposto, ser o dobro do importado?
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/catalogo/busca.asp?tipo_pesq=autor&palavra=Tony+Judt.&topo=livro&sid=01987724211317578064865839&k5=10EC0567&uid=&lastreg=&parceiro=133434
Boa pergunta, Rodrigo...
Com frequencia compro livros editados aqui pela Amazon, e eles me saem bem mais baratos, mesmo com o dólar a mais de R$2.
Abraços
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