quinta-feira, 28 de maio de 2009
Cenouras, Chicotes e Bombas Nucleares
Nesta semana a Coréia do Norte testou uma bomba nuclear e mísseis balísticos. Os experimentos demonstraram notável aumento de sua capacidade militar e acrescentaram mais um capítulo às tensas e infrutíferas negociações de desarmamento que o país desenvolve desde a década de 1990 com EUA, Rússia, China, Japão e Coréia do Sul. Embora a ditadura comunista de Pyongyang pareça ter saído de um episódio de South Park, o padrão de comportamento do Estado é racional: a Coréia de Norte testa o recém-iniciado governo Obama, procurando extrair por meio de ameaças a ajuda que necessita para alimentar sua população e manter de pé sua combalida economia. Também pesam disputas políticas internas: a luta da família Kim para se manter no poder, no contexto da saúde falha do presidente Kim Jong-Il, que sofreu um derrame há poucos meses.
O programa armamentista da Coréia do Norte cresceu ao longo das décadas de 1990 e 2000, em função dos riscos de sobrevivência do regime comunista no contexto da dissolução da União Soviética. Pyongyang assinou um importante acordo com o governo Clinton para restringir suas pesquisas militares, mas o tratado nunca foi integralmente respeitado e o país prosseguiu com testes que assustaram os vizinhos, como o lançamento de mísseis que poderiam atingir o Japão, mas também houve a formação do grupo de seis nações que se engajaram nas negociações de desarmamento.
O governo Bush declarou que a Coréia do Norte fazia parte do Eixo do Mal, mas apesar da retórica o jogo continuou parecido com o de Clinton: oscilou entre ameaças de sanções e ofertas de ajuda, em troca da interrupção do programa. Não adiantou, e em 2006, Pyongyang detonou seu primeiro artefato nuclear, embora a baixa potência e as deficiências técnicas da bomba tenham deixado dúvidas sobre sua capacidade militar. Houve avanços nas negociações e Bush até retirou o país da lista dos apoiadores do terrorismo.
O contexto atual é ainda mais complicado para o diálogo internacional, porque tanto Kim Jong-Il quanto Obama enfrentam pressões internas que restringem sua capacidade de fazer concessões. A proposta inicial de um bloqueio naval à Coréia do Norte lembra, claro, a crise dos mísseis cubanos. A China tem endurecido suas posições com relação a Pyongyang e isso pode resultar em melhor articulação internacional, eventualmente por meio de ações do Conselho de Segurança da ONU, e por medidas como o congelamento de ativos financeiros do país.
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6 comentários:
Maurício, sempre bom ler suas análises!
Abraços!
Achei o blog por acaso...parabéns.
O artigo tah incrível, novamente parabéns.
Abraço.
Jogador,
Além disso, há o problema do avanço na tecnologia anti-mísseis em uma cooperação entre Japão e EUA. O que pode quebrar a lógica da disuasão.
O segundo fato único na região é que qualquer conflito tem uma possibilidade altíssima de "escalar" para uma guerra internacional envolvendo grandes potências. China, Japão e EUA, sme falar na Rússia.
Sempre achei burrice essa política, vide KEDO, de dar dinheiro em troca do "congelamento" do programa nuclear. Kim sempre trapaceou!
Forte Abraço e acho que seu papel de militar norte-coreano em um novo 007 está garantidíssimo.
Helvécio.
Carol,
Sou pago para isso! Quer dizer, faço de graça, mas você entendeu o espírito!
Que bom, Lucas, seja bem-vindo.
Pois, é Helvécio. A península coreana parece a cozinha do inferno, todas as grandes potências da Ásia tem algum interesse por lá. Talvez como os Bálcãs pré-I Guerra Mundial?
Abraços
Sim Maurício, só que seria "balcãs" nuclearizado...hehe
Uma aluna minha conseguiu um gibi sobre a Coréia do Norte, escrito por um jornalista norte-americano (se não em engano). Muito bom! Depois te mando o nome.
abração!
Helvécio.
Salve, meu caro.
Não tinha ouvido falar! Me mande a referência, sim. Soube recentemente de uma HQ sobre Burma, escrita por um artista europeu ou americano que viveu por lá acompanhando a esposa.
abraços
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