quarta-feira, 10 de junho de 2009
As Letras que Formam os BRICs
No fim de maio o Sergio Leo lançou em seu blog uma discussão sobre a política externa brasileira no que diz respeito aos BRICs. Os textos citados pelo Sergio, e os comentários dos leitores, basicamente apontavam para duas vertentes: aqueles que vêem a aproximação entre Brasil, Índia, Rússia e China como o embrião de uma aliança de potências emergentes e os que consideram que os interesses entre esses países são muito divergentes e que sigla pouco mais significa do que uma etiqueta de firmas de consultoria para designar nações de grande potencial econômico.
Proponho uma terceira interpretação, baseada em alguns debates dos quais tenho participado no Estado: a idéia de que os BRICs se tornaram uma importante referência internacional para a formulação de políticas públicas, e que a tendência é que seus membros passem a olhar com mais atenção uns para os outros, em busca de lições para seus processos de desenvolvimento. De modo crescente, é também nesse grupo que os EUA e a União Européia têm classificado o Brasil.
Talvez quem mais tenha dado voz a essas inquietações dentro do governo seja o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, que tem destacado em diversas entrevistas as possibilidades da maior aproximação entre os BRICs. O Instituto de Pesquisa Econômicas Aplicadas (IPEA), vinculado à pasta de Mangabeira, também tem feito uma série de levantamentos sobre as transformações recentes desses países.
Um exemplo é o estudo recém-publicado sobre a internacionalização das empresas chinesas, e das políticas de apoio governamental a esse movimento. Pouco antes de me tornar funcionário federal tive a oportunidade de participar de um debate com o presidente do IPEA, o economista Marcio Pochmann, e fiquei impressionado com a atenção que ele tem dado às mudanças nas relações internacionais. Sua ênfase me surpreendeu, já que sua especialização era em outros temas, mais ligados a mercado de trabalho e combate ao desemprego.
Variação sobre o tema dos países emergentes é usar outras combinações de países que não as dos BRICs, e no governo brasileiro há iniciativas interessantes envolvendo outra sigla, o IBAS – Índia, Brasil e África do Sul. Três democracias com graves problemas de inclusão social, mas também de experiências para tentar superar esses problemas. A Escola Nacional de Administração Pública criou um fórum de intercâmbio com suas congêneres nesses países, e o Ministério das Relações Exteriores inaugurou uma divisão para cuidar das relações entre as três nações.
No momento atual, me parece que o desafio para o governo brasileiro é coordenar e sistematizar diversas iniciativas dispersas pelos vários órgãos públicos, ou mesmo as ações individuais, como pesquisas apresentadas nas escolas militares e diplomáticas. É preciso fazer o levantamento do que se procura em cada país e de como seus programas podem contribuir para as políticas públicas brasileiras. Há candidatos óbvios, como as ações chinesas de estímulos às exportações, ou os projetos indianos de incentivo às indústrias de software e tecnologia da informação.
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4 comentários:
A aproximação dos BRIC's seria fundamental para o desenvolvimento dos quatro, mas não deixa de ser extremamente complexo tanto pela problemática interna de cada um deles como da própria tensão - e da ambiguidade - na relação trilateral que envolve Rússia, China e Índia.
Pois é, Hugo. China e Rússia se aproximaram muito nos últimos anos, a relação entre China e Índia continua complicada por diversas questões - problemas de fronteira, o Tibete, o Paquistão e a disputa por influência na Ásia austral.
Abraços
Maurício
Sim, sim, houve uma melhora considerável nas relações sino-russas - treinamento miltar em conjunto e tudo mais -, mas na questão da recente Guerra da Geórgia, os russos pediram apoio para os chineses e receberam em troca um posicionamento um tanto tímido, não sei calcular qual foi exatamente o impacto disso; por outro lado, a amizade entre russos e vietnamitas e indianos é histórica - e ambos são, à sua maneira e dadas as devidas proporções - adversários estatégicos da China na região; a Índia, pelo seu lado, tem essa amizade com a Rússia ao mesmo tempo em que é estratégica para os Estados Unidos e Israel (?!).
O Brasil ainda não tem uma política de Estado bem definida; se um lado das forças políticas nacionais - ora no poder - prefere uma posicionamento mais "não-alinhado", o outro lado prefere um posicionamento mais pró-americano, o que torna nosso país um parceiro ainda não muito confiável.
Mas, claro, seria muito interessante para os quatro países se aproximarem - principalmente se levarmos em conta que, juntos, eles já somam uma proporção do PIB mundial maior do que a dos EUA (é sério: 21,7% x 20,6%) segundo o CIA World Factbook.
Hugo,
Os problemas para as relações entre o Brasil e os demais BRICs dizem respeito à economia, e não às posições frente aos EUA.
São divergências que envolvem, por exemplo, as negociações na Rodada Doha da OMC, pois o Brasil tem uma agricultura muito competitva internacionalmente, e sempre pressiona por abertura de mercados nessa área, o que não é o caso dos demais parceiros.
Abraços
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