sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Feitiço de Áquila



O G-8 se reuniu em Áquila, na Itália, e tentou conjurar um feitiço: manter o prestígio de épocas passadas, e oferecer aos grandes países emergentes a honraria de se juntar às reuniões, como convidados especiais. O problema é que a magia já se dispersou. Sem a participação constante da China e da Índia, não é possível alcançar acordos sobre as mais relevantes questões globais, como ficou claro pelo fracasso de um compromisso para conter a mudança climática. Qual a lógica de excluir esses dois gigantes e manter, por exemplo, a Itália - que de tão desfuncional tem sua expulsão do G-8 cogitada pelos outros membros do grupo?

A agenda do encontro foi ambiciosa: crise econômica global, mudança climática, pacote de desenvolvimento para a África e esforços de concertação diplomática para lidar com os conflitos asiáticos (Irã, Coréia da Norte, Afeganistão e Paquistão). Ninguém questiona a relevância dos temas. O problema é que são melhor abordados em outros fóruns, mais amplos, como o G-20, a OTAN, a COP-15 em Copenhague etc. O máximo que o G-8 conseguiu foi reafirmar compromissos adotados em outras instâncias, ou anunciar referenciais como a meta de evitar que a temperatura mundial se eleve acima de 2º C.

O símbolo mais expressivo da progressiva perda de influência do G-8 foi a saída repentina da China (que participava como convidada especial, junto ao Brasil, Índia, México e África do Sul) cujo presidente precisou retornar às pressas para o país, alarmado pela escalada da violência étnica na região de Xinjiang. Talvez a França tenha sido a nação do G-8 que melhor se adaptou ao novo cenário, propondo junto com o Brasil uma aliança pela mudança, para reformar as instituições de governança internacional. O presidente Lula, sempre adepto do soft power, distribuiu camisas da seleção brasileira de futebol. Obama parece não ter gostado muito, quiçá pelo resultado da Copa das Confederações...



O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi deu pausa em seus escândalos sexuais com prostitutas e modelos menores de idade e optou por realizar a cúpula do G-8 em Áquila, a cidade devastada por um terremoto há poucos meses. Deve ter sido uma tentativa de metáfora sobre retomada da recuperação econômica, mas acabou como um cenário adequado para um mundo em crise. Aliás, manifestantes locais aproveitaram para um criativo protesto sobre a falta de moradias e de apoio do governo para reconstruir suas casas: “Yes, we camp” (Sim, acampamos) faz um trocadilho com o slogan de campanha de Obama, “Yes, we can” (Sim, podemos).

Agora é esperar a próxima cúpula do G-20, em setembro, na cidade de Pittsburg, nos Estados Unidos. Provavelmente não haverá tanto bom humor, mas quem sabe as decisões sejam mais efetivas.

8 comentários:

marcos disse...

Isso não é cara de desgosto, é cara de "yo man, that's fancy". ;)

Milton Ribeiro disse...

Eu vi toda a cena. Ele adorou a camiseta, o Marcos tem razão.

De resto, no they can´t.

Denny Thame disse...

Adorei a metáfora!
Nós, emergentes, somos a Isabele conscientes de nossa relevância global dissipamos o feitico, podemos nos encontrar com o Navarro, verdadeiro lugar que nos é devido na distribuiçao de poder global!

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Quém save se näo gostou? Isso é dizer "Yes, we play". O problema é que näo se interprete como "Yes, we play better than you all". Ha, ha, ha!
Sinceiramente, quando primeiro eu vi as letras, näo cheguei ver a "P" e pensava que tinham tentado fazer uma homenagem à Obama escrevindo "Yes, we can" mas que tinham cometido um erro e escrito "cam", o qüal era a brincadeira da reuniäo. Demasiada imaginaçäo... Infravaloro aos italianos! He, he, he!
Pessoalmente, e sei que é quase utópico, creio muito nos espaços mais amplos, em especial a Assembléia Geral da ONU, o lugar mais representativo onde desde os mais poderosos aos mais pequenos dos paises têm voz.
Saludos!

carlos disse...

caro santoro,

o "yes, we camp" dos desabrigados de áquila foi o melhor do encontro. os italianos, de vez em quando, principalmente nos tempos de agora, revivem o humor.

no mais, esse g-8 nã vai deixar saudades. morreu e não sabe. enterrem, pois.

abçs

ps: a mim também me parece que o obama gostou da canarinha dada por lula. o marcos acertou.

Maurício Santoro disse...

Salve, meus caros.

Não vi o vídeo, apenas a foto. Acho que o pobre Obama estava em maus dias para imagens paradas, como aquele registro do seu olhar para a adolescente brasileira, que deve tê-lo feito dormir no sofá, enquanto dona Michelle espera com um rolo de macarrão na mão!

Abraços

Anônimo disse...

Olá,
Sou Silvia Fachini, estava na internet "caçando" alguma coisa pra ler e gostei do seu blog ! vou visitá-lo com frequencia !
Ahh .. tb tenho 2 blogs, se estiver disposto a ler um pouco do que escrevo e até comentar, esteja à vontade !
Aqui estão os endereços:
http://srtabranca.blogspot.com e
http://estatudoliberado.blogspot.com
Este último é um blog meu, compartilhado c/ 1 amiga da faculdade, ele é novinho ainda, mas tenho certeza que promoverá boas discussões, afinal, eu e ela somos alunas do ultimo ano de direito e apesar de amigas, discordamos de muita coisa, nosso blog abordará todos os temas, espero que visite-nos !
Até mais...
Abraços,

Maurício Santoro disse...

Olá, Srta.

Sabe Deus e o Google em como você chegou aqui, mas seus endereços estão anotados, darei um pulo nos seus blogs.

abraços