quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A Internacionalização dos BRICs



Nesta semana fui a Minas Gerais e participei de um congresso acadêmico sobre internacionalização das empresas dos BRICs, realizado na Fundação Dom Cabral. É o tipo de evento que ilustra bem as novas tendências das relações internacionais. Os países do bloco somam ¼ do PIB global e são responsáveis por mais de 40% do crescimento econômico mundial. Com exceção da Rússia, têm demonstrado dinamismo e capacidade de recuperação frente à crise atual, o que os coloca no centro da estratégia de muitas empresas para voltar a crescer.

Além disso, ao longo desta década os BRICs lograram criar suas próprias transnacionais. Os chineses estão muito presentes na área de infraestrutura e energia, e começaram a adquirir marcas globais (como a Lenovo fez com a IBM). Os indianos se destacaram em tecnologia da informação e em aço, os russos em petróleo e gás.

Na conferência da Dom Cabral acompanhei as palestras de executivos das principais empresas brasileiras e gostei muito do que ouvi, inclusive pela percepção generalizada de que não existe um modelo único para as firmas do país. Muita coisa ainda ocorre por tentativa-e-erro e permanecem vários desafios, em particular na China.

As multinacionais brasileiras começaram a atuar na década de 1970 e se ampliaram nos anos seguintes com firmas de construção civil que buscaram nos mercados externos o dinamismo perdido quando o governo suspendeu os grandes projetos de infraestrutura, após a crise da dívida. Mas foi só nos anos 2000 que a tendência se tornou forte, em grande medida pelos impactos combinados da estabilização e da abertura da economia, que facilitaram condições para a ação internacional, ao mesmo tempo em que intensificaram a competição com as firmas estrangeiras.

Setores inteiros da economia brasileira, como eletrônicos e autopeças, não conseguiram enfrentar a situação e passaram para o controle de empresas de outros países. Mas houve muitas firmas nacionais que floresceram no novo ambiente, como Vale e Embraer. Também há perspectivas interessantes na internacionalização de serviços, como automação bancária e software.

Em geral, as multinacionais brasileiras começam suas operações no exterior pela América Latina, por acreditarem que é mais fácil trabalhar nos países vizinhos, pela proximidade cultural. Daí partem para outras regiões, principalmente América do Norte e Europa.

A contribuição dos acadêmicos indianos também foi muito interessante, sobretudo na ênfase que deram para a busca de modelos de negócios adaptados à realidade dos países em desenvolvimento. Por exemplo, empresas que se especializem em vender à população de baixa renda, ou a classe média que ascende em todos esses países.

Em suma, o tema é interessante. Vou ler com calma os livros e artigos que recebi na conferência, mas já penso em dar um pequeno curso sobre o assunto.

4 comentários:

Anônimo disse...

Otima resenha, Mauricio.

Eu já tinha até esquecido o caminho pra chegar aqui no seu blog, mas agora eu nao esqueço mais e voltarei sempre.

Abraço.

Maurício Santoro disse...

Que bom, Luana, esteja sempre presente!

Abraços

Dreamer Girl disse...

Valeu, Maurício.
Seu olhar acurado sempre nos inspira e ajuda.
Abs,
Lisker

Maurício Santoro disse...

Salve, Eduardo.

Depois de cursar graduação, mestrado e doutorado com dinheiro público, é o mínimo que eu posso fazer... É isso ou virar senador!

abraços