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No próximo mês darei uma série de aulas sobre África e estou revendo os dados mais atualizados sobre o continente, como o relatório da McKinsey sobre as perspectivas econômicas africanas. A última década foi excepcional para a região: sua economia cresceu a 4,9% ao ano, o dobro dos últimos 20 anos, e o PIB chegou a cerca de US$1,6 trilhão – comparável ao do Brasil e da Rússia.
Em grande medida o crescimento foi impulsionado pelo boom nas commodities, que respondem por cerca de 24% desse aumento. Mas setores de serviços, como comércio (13%) e transportes/comunicações (10%) também foram importantes para o novo patamar econômico da África e refletem as tendências da expansão da infra-estrutura e das necessidades de uma população urbana mais numerosa.
O relatório divide as economias africanas em quatro grandes blocos, mostrados na figura que abre o post. O mais interessante é o que agrupa os países de maior diversificação e sofisticação: África do Sul, Egito, Tunísia e Marrocos e o caso bastante particular das Ilhas Maurício, uma zona de exportação muito bem-sucedida. Os seja, os extremos geográficos (sul e norte) do continente. Mas há uma parcela significativa de nações intermediárias, em progresso, como Quênia, Gana, Senegal, Uganda.
A McKinsey cita com admiração a urbanização acelerada do continente, que já alcançou 40% da população, taxa semelhante àquela observada na Índia. Interpreto esses dados de modo mais sombrio. As cidades africanas incharam na maior taxa mundial (52 têm mais de um milhão de habitantes), crescendo de maneira desordenada, abrigando refugiados de guerras ou simplesmente pessoas que fugiam da miséria rural e procuravam se inserir na rede de clientela e de serviços dos centros urbanos. As maiores cidades do continente, como Cairo e Lagos, são profundamente deficientes em termos de qualidade de habitação e saneamento.
Contudo, o acesso à escola melhorou muito. As taxas médias para a região são de 75% de crianças matriculadas no ensino básico, e 35% dos adolescentes no ensino médio. Naturalmente, a qualidade da educação é toda uma outra questão, mas ao menos o primeiro passo está dado.
Um gargalo que permanece é do infraestrutura. Os indicadores de energia e transporte para a África são apenas a metade daqueles registrados nos países dos BRICs. Mas esse quadro tem mudado com uma enxurrada de investimentos estrangeiros, em especial da China - o setor cresce a taxas de dois dígitos por ano.
A importância dos vínculos econômicos sul-sul também é ilustrada pelo comércio exterior da África – metade dele se faz entre nações do continente e outros países em desenvolvimento, sobretudo na Ásia. Mais uma vez, o impacto da locomotiva chinesa.
A África também tem sido importante como destino de negócios para as empresas do Brasil. O agronegócio é particularmente interessante. Segundo a McKinsey, a região dispõe de 60% das terras aráveis ainda não-exploradas do planeta. E a Embrapa brasileira abriu escritório em Gana para coordenar seus projetos no continente. A expectativa é grandiosa: que a empresa possa fazer pela savana algo semelhante ao que realizou pelo cerrado, transformando esse bioma numa fronteira agrícola em expansão.