sexta-feira, 14 de março de 2008

A Crise Andina e a Política de Defesa do Brasil



Não lembro se conheci Fabian Calle pessoalmente quando estudei na Universidad Torcuato di Tella, mas meus colegas que fizeram seu curso sobre segurança internacional o elogiavam bastante. O Nueva Mayoria publica excelente artigo no qual ele examina os impactos da crise entre Colômbia-Equador-Venezuela para a política de Defesa do Brasil. É o texto mais completo que li sobre o assunto e revisa de maneira detalhada as novas iniciativas brasileiras.

Em resumo, Calle afirma que o Brasil começa a ter papel de liderança mais ativa no campo militar sul-americano. Do ponto de vista regional, a principal proposta brasileira é a criação de conselho de defesa, provavelmente no âmbito da União das Nações Sul-Americanas, que substitua o TIAR. Esse tratado, do início da Guerra Fria, prevê a ajuda mútua entre EUA e América Latina no caso de ataque por uma potência extra-hemisférica. À época, pensava-se na União Soviética. Desde a guerra das Malvinas o acordo está desacreditado. O México se retirou dele em 2001, poucos dias antes dos atentados, o Brasil chegou a evocá-lo para se solidarizar com os Estados Unidos.

A postura mais ativa em termos regionais tem duas origens. Uma delas é o sentimento – bastante disseminado entre as Forças Armadas brasileiras e certos setores do Itamaraty – de que há envolvimento crescente dos EUA na América do Sul, com o estabelecimento da base militar no Equador, de missões de cooperação na Colômbia e no Paraguai e dos riscos da instabilidade política na Venezuela. Pessoalmente, acho que os Estados Unidos estão muitíssimo mais preocupados com o Oriente Médio e a Ásia Central, pelo menos até que um hermano exploda a Estátua da Liberdade ou atire na Oprah Winfrey. Mas a Amazônia é sempre um tema sensível no Brasil.

A segunda razão é o fortalecimento do aparato de Defesa brasileiro, com o aumento de 50% nos gastos do setor, a assinatura de expressivos acordos militares e tecnológicos com França, Rússia, Índia e Argentina, a ampliação da Agência Brasileira de Inteligência e a retomada do projeto do submarino nuclear.

Neste contexto, como ficam os planos brasileiros diante da crise andina? Gostei da resposta de Calle:

Nada más alejado del proyecto de liderazgo regional del Brasil que una militarización y polarización del choque entre Caracas-Quito-Managua (con el visto bueno más o menos explícito de potencias como Irán, Rusia y China) y la alianza Washington-Bogotá-Tel Aviv (y los amplios sectores antichavistas dentro de Venezuela). Para atenuar esta posibilidad, uno de los cursos de acción posibles sería el de fortalecer el espacio de integración político-económico y militar en el Cono Sur. Tal vez, y de manera indirecta e inesperada como suelen ocurrir las grandes cosas en la política internacional, el 1M sirva en parte para darle una mayor carga de modestia a la intención brasileña de transcurrir de manera acelerada el camino hacia el club de los poderosos del sistema internacional y le brinde argumentos a los que favorecen en Brasil una mayor cooperación con la Argentina.

Assim é. E Condoleezza Rice esteve por aqui, elogiou a mediação brasileira na crise e pediu ao Brasil para apertar o cerco às FARCs. No fim, acabou tocando um pandeiro com o ministro Gilberto Gil na Bahia. Não há crise internacional que resista a este país.

3 comentários:

Anônimo disse...

Realmente o Brasil anda dando passos vigorosos na direção de se consolidar verdadeiramente como líder regional..

Quanto a Condoleezza, fico com a frase de Carlinhos Brown: "Oxe, que você é mesmo very sexy!" Depois disso, não há mais o que se comentar...

Quando podemos marcar o almoço esta semana? Saudade de conversar contigo!

Patricio Iglesias disse...

Sem dúvidas, mais do que a materializaçâo de um sentimento americanista, O TIAR foi uma estratagema dos EUA pra obligar ao resto da América a lhe ajudar no caso de uma guerra com a URSS. Os ilusos militares argentinos no 82pensaram que os EUA respeitariam o acordo.
Saludos argentinos!

Maurício Santoro disse...

Salve, Igor.

Nesta semana será difícil, por causa do feriadão. Que tal na próxima?

Olá, Patricio.

Exatamente, a Guerra das Malvinas é considerada por muitos como o marco da morte do TIAR.

Abraços