quinta-feira, 22 de maio de 2008

Idéias, Diplomacia e Desenvolvimento



Está quase no fim. No próximo dia 30 será a defesa da minha tese de doutorado: “Idéias, Diplomacia e Desenvolvimento: política externa argentina de Menem a Kirchner”. Nestes dias tomei as últimas providências, como preparar a apresentação de power point para a ocasião e encomendar o serviço de coquetel, porque ninguém é de ferro...

A tese tem cerca de 150 páginas, pequena para os padrões do IUPERJ, onde os trabalhos desse tipo costumam ter o dobro, ou até o quádruplo, do tamanho! Vícios de repórter, que fez o aprendizado profissional limitado por algumas dezenas de centímetros na página do jornal do dia seguinte. A tese foi escrita em nove meses, tempo curto que me permitiu entregá-la no prazo regulamentar de quatro anos – algo que só 25% da minha turma conseguiu cumprir.

São cinco capítulos. O primeiro trata das bases teóricas do “realismo periférico”, a doutrina de política externa implementada no governo Carlos Menem (1989-1999) e continuada a contragosto no mandato seguinte, de Fernando de la Rúa (1999-2001). Consistiu numa leitura liberal da história contemporânea argentina, criticando o modelo de desenvolvimento por substituição de importações, o distanciamento dos Estados Unidos e as relações conturbadas com Brasil e Chile. O receituário: reformar a economia com base no Consenso de Washignton e promover a integração regional como primeiro passo para uma liberalização comercial mais ampla, que culminaria na adesão a um acordo com os EUA.

Os capítulos 2 e 3 tratam das agendas bilaterais da Argentina com os Estados Unidos e o Brasil. Argumento que a aproximação a Washington levou benefícios em termos do aumento dos investimentos e do comércio, mas que os ganhos foram em grande medida eliminados por erros da política econômica, como a sobrevalorização extrema do peso e a falta de atenção aos problemas sociais, como o aumento do desemprego. Também afirmo que o discurso da aliança com os Estados Unidos foi matizado por distanciamentos práticos em questões importantes, como o combate ao narcotráfico e ao terrorismo, e que as posições na ONU foram moderadas, mais próximas ao Brasil e ao Chile.

No que diz respeito à formação do Mercosul, meu ponto principal é que houve contradições entre o ótimo impacto do bloco para o comércio exterior argentino e as tensões entre os modelos de desenvolvimento da Argentina e do Brasil, com este país mantendo muito do ativismo estatal na economia e o governo Menem insistindo na possibilidade de acordos com os Estados Unidos.

O capítulo 4 é um estudo sobre a grave crise argentina de 1998-2002 e seu impacto para as relações internacionais do país. Analiso as razões do colapso da economia e examino como o turbilhão levou ao descrédito do realismo periférico e à retomada da integração com o Brasil. Destaco a fragmentação e instabilidade crescente do sistema político argentino, com o surgimento de novos movimentos sociais (piqueteros, o sindicalismo mais autônomo da CTA) e reviravoltas nos principais partidos, com o surgimento de siglas.

O último capítulo aborda o governo Kirchner. Argumento que sua frágil base doméstica o levou a posturas confrontacionistas na política externa, com EUA, Chile e Uruguai. O mesmo ocorreu incialmente com o Brasil, mas as divergências foram superadas, em grande medida. Abandonou-se o regionalismo aberto e buscou-se integração mais próxima aos padrões do desenvolvimentismo. Novos atores regionais entraram em cena, como Venezuela e México.

Concluo afirmando que o debate argentino sobre política externa é inseparável da discussão sobre modelo de desenvolvimento, mas que a instabilidade do país impediu a formulação de estratégias de longo prazo para ambos. No entanto, chamo a atenção para a prevalência da integração sul-americana na agenda diplomática da Argentina. A questão é definir qual será o papel do país na região, o que passa por clarificar qual o lugar que ocupará diante da ascensão internacional do Brasil.

7 comentários:

Suhayla Khalil disse...

Olá, Mauricio!
Puxa, gostaria tanto de estar no Brasil para poder assistir à sua defesa. O tema é realmente muito interessante. Quero muito ler a sua tese. Já estou com algumas coisas encaminhadas para a minha dissertação. Depois te mando por e-mail. Quero a sua opinião!

Aqui na terra de los hermanos, o que se anda dizendo é que a Argentina vai passar por uma nova crise forte ano que vem. Espero sinceramente que não...

Bjsss,
Su.

Anônimo disse...

Opa!! Coquetel dia 30?? Será isso um relax pór-prova? Hahaha

Embora quisesse muito assitir a defesa, pelo momento extremamente pecualiar que estou passando, ficarei impedido.

Os votos de boa sorte, sei que nem são necessários, dado o quilate do autor, contudo insisto em manifestá-los!!

Abraço grande

Ramon Blanco disse...

Grande Maurício!!
Infelizmente tb não vou conseguir ir na defesa. Vou estar só um pouquinho longe... rss... mas assim como a Su, gostaria bastante de ler. Principalmente o capítulo 4, me chamou bastante a atenção.

Que tudo corra bem para vc na defesa! Infelizmente tb vou perder o coquetel!

Por aqui tudo certo, tudo correndo bem! Estou cada vez mais e mais me embranhando pela resolução de conflitos e reconstrução pós-bélica. Dps mando um email detalhando p ouvir a sua opinião.

Grande abraço!

Ramon

Anônimo disse...

Salve Jogador,

Fico feliz pela conclusão de seu trabalho.
Defenderei minha dissertação no dia 18/06 graças aos atrasos da minha da minha "orientadora".
Você tem alguma dica para apresentação no Power-Point?

abração!!!

Helvécio.

Maurício Santoro disse...

Salvem, meus caros.

Um por um:

Su, em breve será você... O mestrado voa! Acompanho com apreensão o que se passa na Argentina e acredito que virão problemas sérios. No entanto, apesar das dificuldades econômicas (inflação, problema fisca) me parece que a crise é, sobretudo, política.

Dom Igor,

ausência mais do que perdoada. Boa sorte amanhã. Que a Força esteja com você!

Caro Ramón,

vale para você o mesmo que disse à Su. Quero muito ler seu trabalho, me avise quanto estiver pronto. Já respondi ao seu amigo da Universidade Kent.

Grande Helvécio,

vou te mander o rei de todos os Power Points, que é a apresentação que o João Daniel fez na academia militar. De cair o queixo.

Abraços a todos,
Maurício

Ramon Blanco disse...

Salve Maurício!
Valeu pela ajuda à ele... ele veio me contar a proposta dele e tal, ai pensei logo: "Se vc vai falar qq coisa de AL, tem que falar 1º com um professor meu". Ai passei o seu contato!

E quando vai se inscrever naquela bolsa do CES e ficar um mês por aqui?! Agora o período está terminando, mas abre outra em Outubro.

Pode deixar que aviso sim!

Grande abraço,
Ramon

Maurício Santoro disse...

Ramón, meu caro.

Os planos para depois do doutorado são os de descansar um pouco a cabeça, o corpo e o espírito. Não penso em me candidatar a nenhuma bolsa neste ano, a idéia mais imediata é passar as férias no Peru e conhecer as ruínas incas.

Abraços