segunda-feira, 18 de maio de 2009

O Homem de Obama para a América Latina


Foi bem-recebida a nomeação do cientista político Arturo Valenzuela para ser o mais graduado diplomata americano no que toca à América Latina. Nascido no Chile, Valenzuela vive nos EUA desde os 16 anos e escreveu dez livros sobre o continente, com ênfase nas questões ligadas à democracia – sua destruição ou reconstrução. Ele lecionava na Universidade Georgetown, e no governo Clinton havia exercido cargos elevados no Departamento de Estado e no Conselho de Segurança Nacional.

Gosto de seu trabalho acadêmico, em particular de suas análises do colapso da democracia no Chile e da ênfase que ele dá à importância de partidos de centro, que possam mediar os principais debates políticos. A América Latina precisa de mais diálogo com os Estados Unidos. Em particular com a Venezuela, e não acho impossível que as coisas melhorem entre Chávez e Obama.

Valenzuela criticou a política externa de Bush para a América Latina, afirmando que a região tinha caído no esquecimento para os líderes políticos em Washington. É o tipo de frase que soa bem num palanque, mas se examinarmos a história da diplomacia dos EUA, desde a Segunda Guerra Mundial os temas latino-americanos estiveram em segundo ou terceiro plano, salvo poucas exceções, como a Revolução Cubana e as guerras civis na América Central.

Não me parece que essa situação vá passar por uma reviravolta. As questões centrais para a política externa dos Estados Unidos estão nos campos de batalha do Afeganistão, Paquistão e Iraque, na ascensão da China como superpotência, nas negociações com os aliados europeus para enfrentar a crise econômica mundial e nas tentativas de lidar com o Irã e o conflito árabe-israelense.

Contudo, há uma série de temas importantes na agenda de Obama com a América Latina: imigração (em particular do México e América Central); combate às drogas (sobretudo México e América Andina), o degelo nas relações com Cuba e, acredito, a redefinição do diálogo com o Brasil. A tendência é enxergar o governo brasileiro cada vez mais como um interlocutor nos grandes temas globais (Rodada Doha da OMC, G20 financeiro, mudança climática, biocombustíveis), para além do papel de mediador de crises regionais que o país tem desempenhado ao longo da última década, na região andina e no Haiti. Nem que seja porque o presidente brasileiro é, nas palavras de Obama, “o cara”, o político mais popular do planeta.

Há até uma especulação muito interessante lançada pela Foreign Policy, de que o próximo presidente do Banco Mundial poderia ser.... Lula! Explicação: os EUA estudam nomear pela primeira vez um não-americano para a função, e o mandatário brasileiro é visto como um forte candidato, pela capacidade de construir pontes entre os países ricos e as nações em desenvolvimento.

3 comentários:

Ramon Blanco disse...

De neo-cons ao Lula, realmente a presidência do Banco Mundial está bem variada.
Isso realmente se concretizando, seria interessante ver as políticas e principalmente as doutrinas formuladas por ele. Mas o que realmente seria interessante, seria ver a cara do FHC.

Grande abraço Maurício!!
Espero que esteja correndo tudo bem pela Corte.

Ramon

Patricio Iglesias disse...

Meu caro amigo:
Sem dúvidas. Concordamos totalmente em que América Latina sempre foi o "patio trasero" (sic) do Novo Mundo pelos EUA. Sem dúvidas é mais importante o que acontece na Europa, China, Oriente Médio (eu agregaria também Japäo e os outros paises desenvolvidos), etc.
Saludos!

Maurício Santoro disse...

Salve, Dom Ramon.

Seria muito interessante termos um brasileiro ou indiano à frente do BM. Mas os comentários ao texto da Foreign Policy que sugerem o nome de Lula são bem agressivos, na linha de "nós, americanos, que pagamos os impostos que sustentam o banco, é que deveríamos mandar".

abraços