quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Parceria Estratégica entre Brasil e UE



Nas últimas semanas o trabalho me levou a cursos e oficinas sobre as relações entre União Européia e Brasil. Há processos interessantes em andamento que exemplificam o papel protagonista que o país começa a exercer na política internacional.

Durante a década de 1990, o diálogo entre Brasil e Europa se deu sobretudo por meio dos blocos regionais, isto é, MERCOSUL e UE. Foi assinado um acordo-quadro que serviu de base para as negociações entre uma futura área de livre comércio. No entanto, esse processo estagnou em meio aos impasses em campos sensíveis, como agricultura e telecomunicações, e buscou-se um novo enfoque.

Ele veio em 2007 na elevação do status internacional do Brasil a “parceiro estratégico” da União Européia, categoria que compartilha com um grupo seleto de países – EUA, Canadá, Japão e os demais BRICs. A posição facilita ao Brasil o recebimento de cooperação e está centrada em temas da agenda global na qual o país se tornou interlocutor privilegiado: segurança, meio ambiente, biocombustíveis e políticas sociais.

No fim de 2008, Brasil e UE estabeleceram um Plano de Ação conjunto que delimita os pontos de diálogo para cada tema. Por exemplo, na questão da segurança internacional se destacam os entendimentos no sistema ONU (Assembléia Geral, Conselho de Segurança etc). A cooperação também se estabelece na política pública doméstica, como entre o Ministério da Integração Nacional e os fundos europeus de combate às desigualdades regionais.

Ênfase recente, e muito interessante, é a experiência brasileira na reconstrução de países destruídos por conflitos, como o Haiti. Aspectos inovadores da ação do Exército e da diplomacia do Brasil têm chamado a atenção da comunidade internacional, que pretende aplicar tais métodos em outras regiões, em particular na África. Isso tem se refletido na demanda pela chamada “cooperação trilateral”, na qual dois países agem juntos para auxiliar uma terceira nação.

O Plano de Ação também prevê o diálogo regional, entre América Latina/Caribe e União Européia. Sem dúvida, a liderança continental exercida pelo Brasil é parte importante na parceria estratégica com a UE. Contudo, chama a atenção o quanto a agenda européia para a hispano-américa (centrada em temas culturais, como a celebração dos bicentenários das independências, ou em auxílio humanitário) distancia-se do diálogo com o governo brasileiro, tratado como potência emergente.

No primeiro semestre de 2010 a presidência da União Européia será exercida pela Espanha, tradicionalmente a principal impulsionadora do aprofundamento das relações entre o Velho e o Novo Mundo. Acredito que veremos novidades na agenda.

3 comentários:

carlos disse...

caro santoro,

de fato, o protagonismo do brasil nas relações internacionais foi um salto de qualidade inconteste do governo do presidente lula.

os sobressaltos com os governos da bolívia, paraguai, equador e quejandos só exigiram a lucidez e o equilíbrio do líder continental da américa do sul.

o que me preocupa no nosso incipiente multilateralismo, as relações com a ue - confirmado em seu post - usa e brics, é a futura continuidade dessa estratégia. quer tenha continuidade ou não a direção política do país.

abçs

em tempo: o último encontro do obama com o netanyahu parece que não interessou a grande imprensa daqui. talvez por que o dirigente israelense so fez cozinhr o galo do processo de paz com os palestinos. o quê acha o amigo?

Chris disse...

Querido Maurício,
não sabia que estava com mais um blog. Acabei te achando por acaso, depois de um comentário do Rogério Pacheco que tem seu blog 'linkado' no dele. Nossa senhora esse mundo é muito pequeno mesmo!

Maurício Santoro disse...

Oi, Carlos.

Posso te garantir que as relações entre Brasil e UE são política de Estado, mais do que a orientação deste ou daquele governo, e provavelmente o mesmo se dará com os BRICs, embora eu acredite que há espaço para certos ajustes e mudanças conforme o presidente.

Acompanhei a reunião entre Obama e o premiê isralense mais pela imprensa internacional, no Brasil vi apenas algo na TV. Não me pareceu que houve qualquer intenção de colocar em segundo plano o encontro, minhas críticas à cobertura brasileira vão mais pela falta de informações sobre o contexto recente, do Mapa da Paz, da conferência de Anápolis, etc.

Querida,

O Rogério Pacheco a que você se refere provavelmente é o rapaz que eu conheço por Rogério Jordão, não é? (risos). Trabalhamos juntos no IBASE, vocês estão fazendo algo em conjunto no CEBRI?

beijo