sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Guernica
Grande livro na praça: “Guernica: a história de um ícone do século XX”, de Gijs Van Hensbergen. A obra-prima de Pablo Picasso não é apenas uma pintura estupenda, mas um elemento importante da política da Espanha ao longo do turbulento período que vai da guerra civil da década de 1930 à redemocratização dos anos 80.
Picasso pintou Guernica em apenas cinco semanas, angustiado pelas sucessivas vitórias dos fascistas na guerra civil, e o bombardeio de seus aliados alemães à cidade basca o deixou enfurecido. Contudo, Hensbergen lembra que Guernica não foi a primeira povoação a sofrer os efeitos da guerra aérea. Ataques piores foram realizados nas rebeliões coloniais na África e no Oriente Médio. A diferença é que no conflito espanhol as vítimas eram européias.
Hensbergen lista as influências de Picasso ao pintar Guernica, mas não se detém muito no ponto. Aparentemente, o principal foram os próprios trabalhos anteriores do artista, como a série sobre touradas, e referências da arte religiosa espanhola.
O foco do autor são as repercussões políticas de Guernica. As reações iniciais foram contraditórias, mas em pouco tempo o quadro se consolidou como símbolo da arte moderna, bandeira de luta para a esquerda no contexto da luta anti-fascista. A obra estava nos Estados Unidos quando eclodiu o conflito. Picasso viveu na França durante a ocupação nazista, assustado e deprimido, mas a fama mundial o protegeu. Houve até o célebre episódio em que um oficial da Gestapo lhe perguntou se Guernica era obra sua. “Não, é sua”, respondeu o pintor.
A Guerra Fria colocou Picasso numa situação incômoda. Aderiu ao comunismo, mas da maneira romântica e anárquica que caracterizava seu temperamento. A URSS saudava sua posição política, mas considerava sua arte “degenerada”. Nos EUA, Picasso era o mestre do modernismo, no entanto era condenado por suas simpatias ideológicas. O FBI reuniu dossiê de 200 páginas sobre o artista, com informações como a de que a pomba da paz era na realidade um pássaro russo! Mas Guernica influenciou bastante a arte contemporânea americana, em especial as pinturas de Jackson Pollock.
A ditadura de Franco sobreviveu a Picasso. Contudo, a modernização econômica da Espanha a partir da década de 1960 também significou um esforço – limitado e contraditório – do regime autoritário em aceitá-lo como parte do grande patrimônio cultural do país. Mas Guernica continuou em Nova York, centro da romaria de turistas e refugiados espanhóis.
O quadro só voltou à Espanha em 1981, no centenário de nascimento de Picasso. A imprensa chamou a pintura de “o último exilado” e houve uma batalha entre Madri, Barcelona e Guernica para ficar com ele. Ao fim, foi para a capital espanhola. Ao ser pendurado, Dolores Ibaurri exclamou: “a guerra civil acabou”. Talvez tivesse razão.
O quadro ficou por anos no Museu do Prado, depois atravessou a calçada e foi para o Rainha Sofia, dedicado à arte moderna espanhola, onde ocupa o lugar simbólico de centro da coleção. Foi lá que o vi, no inverno de 2002, em meio a uma horda de turistas japonesas.
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3 comentários:
Nossa, realmente parece ser bem interessante. Valeu pela dica!
; )
Bjs, Rafa.
Disponha!
Para você relaxar das suas leituras de teoria crítica e pós-positivismo...
Abraços
Oi Maurício, só pra te avisar que tem um sujeito que está fazendo plágio do teu texto.
http://apatadogaspar.blogspot.com/2009/10/guernica-e-o-espirito-da-revolta.html
Ele também copiou um texto meu e estou tentando ser citada ou que ele retire o meu texto do blog.
Um abraço.
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