quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Ao Mestre, com Carinho: Nobel para Vargas Llosa
No mês passado, dei de presente a uma amiga o romance “Travessuras da Menina Má”, de Mario Vargas Llosa, pouco antes de que ela viajasse ao Peru. Almoçamos há poucos dias e ela me contava da sua fascinação pelo escritor, que é um dos meus favoritos. E eis que agora o Prêmio Nobel de Literatura finalmente é concedido a Vargas Llosa. Mais do que justo para aquele que é, ao lado de Gabriel García Márquez e Carlos Fuentes, um dos grandes autores latino-americanos vivos, expoente da geração do boom literário da década de 1960.
“O romance é a vida privada das nações”. A frase de Balzac, que Vargas Llosa usa como epígrafe em sua obra-prima, “Conversa na Catedral”, bem pode sintetizar sua produção artística. Seus mais de 30 livros passam em revista a história peruana – e o fluxo mais amplo da América Latina - no século XX. O autoritarismo das ditaduras militares (Conversa, Festa do Bode), as ilusões da luta armada (História de Mayta, Travessuras da Menina Má), a tragédia do Sendero Luminoso (Lituma nos Andes), as dificuldades de profissionalização dos escritores (Tia Júlia e o Escrevinhador), as utopias do passado, pelo olhar terno e algo cético do presente (O Paraíso na Outra Esquina), as hipocrisias e contradições de sociedades ainda muito tradicionais, mas desafiadas pelos ventos de mudança (A Cidade e os Cachorros, Pantaleão e as Visitadoras). Fora suas incursões pela história de outros países, como sua visita aos sertões brasileiros de Antônio Conselheiro (A Guerra do Fim do Mundo).
A política é essencial na obra e na vida de Vargas Llosa. Militante de esquerda nos anos 60 e 60, seu entusiasmo pela Revolução Cubana o levou a trabalhar na Prensa Latina, a agência de notícias criada pelo governo da ilha como uma tentativa de contraponto às grandes cadeias dos EUA e da Europa. Vargas Llosa se desgostou com a perseguição aos artistas cubanos e acabou rompendo com a Revolução, tornando-se politicamente um homem de direita. Concorreu à presidência do Peru nos anos 90, com uma plataforma liberal, mas foi derrotado por Alberto Fujimori, que manteve sua agenda econômica mas não seu compromisso democrático, e com o autogolpe de 1992 implementou um governo autoritário por 8 anos.
A obra ensaística/jornalística/política de Vargas Llosa não é, a meu ver, do mesmo altíssimo patamar de qualidade de seus textos literários. Mas a boa nova é que ele segue com seus romances. O mais recente é “O Sonho do Celta”, sobre um diplomata irlandês que denunciou as violações de direitos humanos no Congo, e terminou enforcado pelos britânicos, como traidor do Império (clique no link para ler as primeiras páginas).
No Brasil, os livros de Vargas Llosa estão sendo republicados pela Editora Alfaguara.
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11 comentários:
Um Nobel bem endereçado para um autor que continua ativo e com qualidade.
Preferia o Roth :-/
Daniel,
Roth ainda tem muitos anos pela frente :=)
Que tal o romance novo dele?
Abraço
Espero que isso te anime a ler "A Festa do Bode". Um belo retrato político, social e econômico da República Dominicana. Foi sem dúvida uma excelente leitura sobre a vida íntima de Rafael Trujillo e a tentativa de golpe de Estado no país na década de 60. Torço para que a gente possa discutir esse livro um dia.
Salve, Flávio.
Todo mundo me recomenda esse livro, e prometo que um dia encontrarei o tempo necessário para lê-lo, resenhá-lo e comentá-lo!
abraços
Fiquei muito contente "a cidade e os cachorros" (o meu se chama: "batismo de fogo") foi uma das minhas primeiras leituras e derrubou um monte de preconceitos que eu tinha sobre a américa latina, "pantaleão e as visitadoras" é pra mim a melhor piada sobre um regime militar.
Caro Rafael,
Na minha edição também é "Batismo de Fogo", mas as novas mantiveram o original, Ciudad y los Perros, como eles chamavam os calouros no colégio militar. É um romance estupendo, e uma das melhores anatomias que conheço da burocracia, junto com o Pantaleão. Vargas Llosa é um mestre. Merecidíssimo Nobel!
Abraços
Meu caro:
Muito merecido o Nobel! Espero que algum dia Sábato e Gelman recevam o prêmio. E por qué não Paulo Coelho? Você qué opina?
Abraços
Patricio Iglesias
PS: Espero que também sejam premiadas as Abuelas... é triste pensar que estão morrendo sem ver nem aos netos nem o reconhecimento internacional.
Fantástico o seu blog!!! O nosso blog é primo do seu..r.s.r..s. visite-nos e nos dê a honra de um comentário:
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Se gostar nos siga, pois estou seguindo o seu!
Abração, Maquiavel!
Salve, Patricio.
Pois é, ao menos a Santíssima Trindade Sábato, Borges e Cortázar o mereciam. E na outra margem do prata, ao menos o Mario Benedetti.
Dom Nicolau,
Grazie mille, meu príncipe. Vou checar o blog, adorei o nome!
Abraços
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