sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Crise no Equador



Escrevo sem saber ainda do desfecho da crise política no Equador. Pelas informações iniciais parece uma espécie de “greve armada” entre os militares, que pode ser aproveitada de maneira explosiva pelo ex-presidente e coronel do Exército Lucio Gutierrez, que não por acaso se tornou um líder nacional ao comandar uma rebelião semelhante, em 2000, que culminou na renúncia do presidente Jamil Mahuad. Ele foi sucedido por Gutierrez, que por sua vez deixou o cargo em meio a protestos similares, em 2005.

Rafael Correa, o atual presidente, teve uma ascensão meteórica exatamente por conta dessa sucessão de crises. Era um tecnocrata econômico que assessorava o vice de Gutierrez, e foi promovido a ministro da Fazenda quando seu chefe assumiu a presidência. Acabaram por brigar, mas então Correa já era um nome famoso nacionalmente por sua defesa do nacionalismo, num país de economia frágil que chegou a adotar o dólar como moeda para tentar obter um pouco de estabilidade.

Na esteira do boom de hidrocarbonetos da década passada, Correa usou os recursos do petróleo para implementar um projeto de reforma social que fica a meio termo entre Bolívia e Venezuela. Como os bolivianos, os equatorianos têm fortes movimentos sociais e partidos indígenas, que são atores importantes no nível local, embora não tenham conseguido se tornar uma alternativa de poder nacional, como o MAS de Evo Morales. Com o mandatário venezuelano, Correa compartilha idéias políticas, mas com a desvantagem de não ter uma base de poder comparável a que Chávez desfruta entre as Forças Armadas da Venezuela.

Um amigo jornalista que entrevistou Correa em Quito saiu mal impressionado da experiência e o descreveu como “um Collor da esquerda”, um aventureiro sem um partido sólido de apoio e sem um projeto político definido. Pode ser uma boa análise, mas ela não conta a história toda – ninguém no Equador hoje tem um partido de apoio viável para conquistar a presidência e manter a estabilidade no governo.

É uma particularidade curiosa do Equador (e em menor escala, do Peru), porque ao contrário do que muitos pensam, a região andina da América Latina tem sido caracterizada por partidos fortes, sobretudo na Colômbia (liberais, conservadores) e na Venezuela (AD, Copei), mas até certo ponto mesmo na Bolívia do MNR e, agora, do MAS. Infelizmente, equatorianos e peruanos nunca lograram construir sistemas fortes que superassem as clivagens étnicas e regionais entre litoral, serra e Amazônia.

O estopim da crise atual no Equador são cortes nos gastos públicos para se adequar às turbulências econômicas internacionais. Medidas restritivas que afetam de maneira negativa a polícia e as Forças Armadas. Resta ver se as autoridades serão capazes de resolver o problema sem que ele vire uma ameaça para a democracia.

2 comentários:

Flavio Faria disse...

Isso é o socialismo; a revolução bolivariana de Chávez. Como Rodrigo Constantino disse em seu blog, "Segregação total, desestabilidade, violência, clima de insegurança e riscos golpistas de ambos os lados." Diminuir a máquina pública? Que cortem os benefícios das pessoas que lutam pelo país. Mas jamais cortar os privilégios e a mamada da burocracia estatal.

Maurício Santoro disse...

Os cubanos aceitaram as 500 mil demissões com mais calma e disciplina... Mas a democracia é mesmo um bicho complicado.

abraço