quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Corrupção e suas Percepções



Nesta semana houve o debate repleto de acusações mútuas entre os candidatos à presidência do Brasil. No mesmo dia, luminares do PT e do PSDB prestavam depoimento na Polícia Federal sobre o que fizeram no verão passado. E para completar, saiu a pesquisa da Transparência Internacional sobre percepções da corrupção. Logo depois, o Polvo Paul apareceu morto. Vamos falar sério: sei reconhecer uma queima de arquivo quando vejo uma.

Naturalmente, a polícia alemã irá alegar que foi morte natural, ou crime passional. Como não somos obrigados a acreditar nisso, vamos aos fatos. O Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional mostra como o problema é sério no mundo todo, atravessando as fronteiras de regimes políticos – democracias e ditaduras, direita e esquerda sofrem com o tema – religiões e regiões geográficas.

Os países que os cidadãos percebem como menos corruptos são as nações escandinavas, o Canadá, Austrália, Nova Zelândia e algumas nações da Europa Ocidental, como Islândia, Holanda e Suíça. No Velho Continente, as crises políticas e/ou econômicas da Itália e Grécia repercutiram mal, tais países estão classificados mais ou menos na faixa da América Latina e da África. Os EUA também experimentaram piora no índice.

A percepção elevada da corrupção não parece ser um obstáculo ao crescimento econômico. Os BRICs, a parcela mais dinâmica da economia global, apresentaram todos maus resultados. Naturalmente, podemos especular que seu desenvolvimento seria ainda maior se contassem com instituições transparentes. É possível, mas tenho minhas dúvidas no caso da China – leis de propriedade intelectual aplicadas com rigor provavelmente atrapalhariam a vida dos empreendedores chineses, ávidos em copiar e melhorar projetos alheios.

Na América Latina, os destaques positivos são Chile, Uruguai e Costa Rica, como é habitual nesse tipo de pesquisa. Países de governos moderados ou conservadores tenderam a se sair melhor do que os regimes bolivarianos. Cuba teve o mesmo desempenho que o Brasil, o que dificilmente é um elogio às práticas da Revolução. A África se saiu mal, mas com bons indicadores no Cone Sul do continente e em algumas nações reformistas, como Gana e Tunísia.

A pesquisa trata de percepções, ou seja, do que cidadãos, empresários e analistas pensam sobre as práticas e instituições de determinado país. Não necessariamente essas observações correspondem à realidade, as opiniões podem ser muito melhores ou piores do que aquilo que realmente ocorre. No entanto, minha experiência de trabalho em pesquisa semelhante – o Índice Latino-Americano de Transparência Orçamentária – me faz acreditar que as observações estão corretas, de maneira geral, embora precisem aqui e ali de ajustes na metodologia.

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