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O israelense Amós Oz está rapidamente se tornando um dos meus escritores favoritos. Começou quando li “A Caixa Preta”, uma história de amor devastadora sob o pano de fundo da ascensão do nacionalismo religioso. E continua agora com o lançamento no Brasil de seu romance “Uma Certa Paz”. Publicado pela primeira vez em 1982, é um triângulo amoroso ambientado às vésperas da Guerra dos Seis Dias, com protagonistas que representam o conflito entre a geração dos fundadores da Israel e seus filhos, para quem os ideais trabalhistas dos pais não servem mais como bússola, num mundo que se tornou estreito demais para o anseio por liberdade.
O protagonista do romance é Ionatan, uma espécie de rapaz-modelo da primeira geração a crescer em Israel. Seu pai é o secretário-geral do kibutz (fazenda coletiva) onde mora, e Ionatan sempre fez o que se esperava dele. Serviu lealmente ao Exército nas guerras, casou-se com uma colega de organização e trabalha com dedicação nas atividades agrícolas. Mas Ionatan se sente angustiado com as regras rígidas que regulam sua vida, e deseja com intensidade e urgência algo que ele não sabe bem o que é. Seu casamento é vazio de amor, a rotina lhe entedia e ele sente vontade de partir e conhecer o mundo.
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O elemento que detona a decisão de Ionatan é a chegada ao kibutz de Azaria, um jovem excêntrico e um tanto desajustado, uma espécie de proto-hippie que traz em si algo do idealismo dos fundadores de Israel. Ele se esforça para se integrar à comunidade da fazenda e se apaixona por Rimona, a esposa de Ionatan, que corresponde a seu amor.
O pano de fundo político do romance é a tensão crescente entre Israel, Egito e Síria, que eclodiu em 1967 na Guerra dos Seis Dias. O pai de Ionatan, Iulek, é um líder respeitado, que foi ministro no governo de Ben Gurion e é um interlocutor, ainda que crítico, do primeiro-ministro Levi Eskhol, que faz algumas aparições na trama.