sexta-feira, 9 de março de 2012

A Cidade e a Inovação

O mundo nunca teve tantas tecnologias que permitem comunicação instantânea mesmo entre pessoas que estão muito distantes, no entanto, a convivência cotidiana continua a ser um elemento essencial para diversas atividades, inclusive para fomentar a inovação intelectual e científica. Minha estadia em Nova York tem me feito conversar bastante sobre isso, pois essa percepção é comum na cidade e está presente até nos projetos de reformas arquitetônicas das instituições acadêmicas.

As excelentes oportunidades profissionais e culturais fazem de Nova York um imã para pessoas inteligentes, criativas, talentosas, inquietas e ambiciosas, de todas as partes do planeta, e o ritmo e a intensidade do trabalho por aqui impressionam. Há especialistas de todo o tipo na cidade, com frequência a uma distância muito curta uns dos outros - alguns quarteirões de caminhada, poucos minutos no metrô. Os variados círculos sociais se misturam em festas, eventos, coquetéis, reuniões e pelo circuito amigos-dos-amigos se pode conhecer bastante gente, ou receber indicações de emails e telefones para entrar em contato com aquele sujeito que trabalhou com seu colega no Banco Mundial, ou aquela amiga que tem um cargo de direção na ONU, ou o aluno que tem um pé no teatro off-Broadway e pode dar boas dicas sobre a vida cultural.

Para quem está interessado em desenvolver um projeto qualquer - uma pesquisa acadêmica sobre um tema pouco estudado, a criação de uma empresa para preencher um nicho de mercado inexplorado - basta soltar a idéia numa roda de conversa e sempre se sairá com meia dúzia de sugestões de pessoas a quem procurar. Basta uma delas topar para que a faísca da inovação seja aceita.

Muitas dessas idéias nascem de interações espontâneas ou acidentais, conversas ocasionais no café, um bate-papo no refeitório, um encontro inesperado no metrô. Construir espaços sociais que permitam esse tipo de convívio é uma preocupação explicíta das universidades. A New School está construindo um grande prédio na 5a Avenida, para colocar no mesmo campus especialidades acadêmicas distintas que estão espalhadas por vários edifícios. Esse mesmo objetivo marcou projetos em outras cidades, como a sede da Apple em Cupertino, na Califórnia ou o Instituto de Estudos Avançados de Princeton.

Minha própria pesquisa acadêmica tem sido muito beneficiada pelos estímulos e sugestões que tenho recebido por toda a parte em Nova York. Principalmente pela convergência de pessoas de dezenas de países, com experiências profissionais diversas - universidade, diplomacia, imprensa, Nações Unidas, organizações não-governamentais. O debate fica mais elétrico, provocador e interessante.

No domingo embarco para Washington, onde ficarei por alguns dias, realizando entrevistas e indo a eventos em centros de pesquisa na capital americana.

3 comentários:

Guilherme disse...

Ótima descrição da cidade (sou TOTALMENTE suspeito, afinal moro e amo esse local, amo quase tanto quanto amo Porto Alegre). A idéia do prédio da 5a Avenida eu desconhecia mas dou total apoio. Como egresso da Administração da UFRGS sempre fui um feroz crítico do fato da nossa faculdade ser uma unidade isolada, isolada em vários sentidos da palavra (a própria UFRGS assim a denomina, mas o curso também é isolado nas suas idéias, para citar um exemplo). Enfim, belo texto!

Anônimo disse...

Por favor, escreva um artigo sobre a Rio +20. Obrigada.

Maurício Santoro disse...

Salve, Guilherme.

Fiz minha graduação na UFRJ, que sofre do mesmo problema da UFRGS, talvez até de forma mais aguda - ela nasceu como universidade pelo amálgama de várias faculdades que já existiam de forma separada por muitos anos.

NY tem uma energia e um dinamismo fantásticos, é sem dúvida uma grandes cidades do mundo.

Anônimo,

Tenho postado algumas coisas sobre a Rio+20 no Twitter, colocarei algo por aqui quando conseguir informações suficientes para escrever sobre a conferência.

abraços