Na primeira metade do século XX, Brasil e Estados Unidos tiveram relações muito próximas, uma "aliança não-escrita" ou mesmo um pacto formal, como na Segunda Guerra Mundial. Esse entendimento era calcado na economia (o mercado americano era o maior para os produtos brasileiros) e numa barganha eficaz pela qual o governo brasileiro apoiava a liderança internacional dos Estados Unidos em troca do auxílio americano para as ambições do Brasil na América do Sul - então bem modestas e centrada na definição das fronteiras e na manutenção de um vantajoso equilíbrio de poder diante da Argentina.
O modelo da relação especial começou a ser questionado com força na década de 1950 e não há sinais de que tão cedo ele voltará a ter vigência. Vários fatores explicam a guinada brasileira em busca de uma política externa mais diversificada: o aprofundamento do desenvolvimento e do comércio exterior, o relativo desinteresse americano no Brasil diante dos grandes conflitos da Guerra Fria na Europa e na Ásia e contenciosos em vários temas, complicados pelos novos e mais amplos interesses brasileiros.
Ouvi aqui em Washington que o governo Obama não trata o Brasil como uma grande potência, ao contrário do que faz, por exemplo, com a Índia. As razões são evidentes: os americanos precisam dos indianos para (tentar) equilibrar o jogo com a China e o poder militar da Índia é crescente, e inclui armas nucleares. As dimensões da importância do Brasil são outras: a força de sua economia e seu papel de moderador de crises na América do Sul, uma região secundária para os Estados Unidos. A Bolívia não é o Afeganistão e a Venezuela não é o Irã, nem nos dias de mau humor de Chávez.
Não é a melhor base para uma "relação especial", mas é campo sólido para construir uma boa agenda diplomática, contanto que mais ajustada a expectativas reduzidas. Ambições exageradas e estereótipos mútuos há muito prejudicam o entendimento entre Brasil e Estados Unidos.
7 comentários:
Maurício,
Na sua opinião, seria possível alterar essa "Relação Especial" de forma que os EUA passasse a tratar o Brasil como uma grande potência? ou isso é impensável?
Forte abraço.
Nixon
Caro Nixon,
A meu ver, para que isso acontecesse, seria preciso que ao menos uma de duas mudanças ocorresse:
- A economia brasileira passar por transformação qualitativa e quantitativa e se equiparar à posição desfrutada hoje por China, Alemanha ou Japão.
- A América do Sul tornar-se uma região tão importante para os Estados Unidos quanto são hoje o Oriente Médio ou a Ásia-Pacífico.
Abraços
Obrigado!
"estereótipos mútuos"
Ah, sim é claro.
O Brasil patrocinou um golpe de Estado nos EUA.
Bem lembrado!
Ironias a parte, grande abraço!
Espero por palestras na EAESP!
Rafael,
Existe um esteriótipo forte do Brasil nos Estados Unidos como um país de samba, futebol, sexualidade exuberante. E as pessoas no Brasil com frequência tem uma visão igualmente preconceituosa dos americanos, considerando-os arrogantes e autoritários, o que é muitíssimo diferente da realidade.
Abraços
Maurício, meu caro, isso sem falar na relação estremecida entre os EUA e o Paquistão (aquele que abrigou o Bin Laden),que, certamente, influencia na valorização indiana na agenda diplomática dos "yankees"!
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