quarta-feira, 28 de março de 2012

O Papa em Cuba

Bento XVI está discreto em sua visita a Cuba e não criticou o governo do país, mas a Igreja Católica continua a ser o pilar dos movimentos sociais que se opõem ao regime autoritário cubano – papel que desempenha desde o fim da década de 1990. É um jogo de médio prazo, com o horizonte ao longo desta década e no futuro imediato o Vaticano segue na complexa barganha com os irmãos Castro, moderando pressões mais intensas contra as autoridades e recebendo apoio financeiro do Estado para recuperar a influência perdida desde a Revolução de 1959.

Não há dados confiáveis para o número de católicos em Cuba, mas a maioria das estimativas aponta até um terço da população – um palpite razoável após 40 anos nos quais o Estado cubano foi oficialmente ateu e as atividades da Igreja foram cerceadas. Muitos padres foram expulsos da ilha e novas edificações foram proibidas por décadas – o seminário erguido há poucos meses foi a 1ª construção da Igreja em Cuba desde a Revolução.

Dito de outro modo, a força social do catoliciismo na ilha ainda é de uma escala em que o regime pode arriscar a normalização das relações com a Igreja. Fidel recebeu João Paulo II em 1998 e o papa que ajudou a derrubar o comunismo na Europa Oriental e combateu a Teologia da Libertação na América Latina criticou a situação dos presos políticos em Cuba. O Vaticano se tornou o principal patrono externo de diveros movimentos de contestação ao regime, como o Projeto Varela, mas isso não impediu que o governo prendesse seus líderes e ativistas mais importantes. Ainda que a mediação da Igreja tenha sido importante para libertá-los, anos mais tarde.

Houve divisões no Vaticano com relação à conveniência da visita do papa. Segundo relatos da imprensa, cardeais temeram que Bento XVI seria manipulado pela propaganda do regime cubano. De fato, as autoridades prenderam vários ativistas e impediram os dissidentes mais radicais de participar dos eventos com o papa. Bento XVI rezou pelos presos e por suas famílias, mas sem se referir de maneira explicíta aos que foram condenados por suas opiniões políticas. Seus ataques ao comunismo foram feitos na imprensa internacional - a qual a população cubana não tem acesso - e não na ilha.

Hoje é o ponto alto da visita papal, com a celebração de missa na Praça da Revolução, em Havana. Será uma surpresa se tivermos críticas frontais de Bento XVI ao regime cubano.

2 comentários:

Unknown disse...

Paz e bem!

E fato singular:
Dias antes da chegada de Bento XVI
contrarevolucionários ocuparam uma igreja
e foram retirados de lá pelo governo
à pedido das autoridades católicas de Cuba.

Maurício Santoro disse...

Caro Eugênio,

Os dissidentes democráticos ocuparam a igreja e queriam ser recebidos em audiência com o papa. As autoridades eclesiásticas foram contra a revindicação, um choque frontal contra o regime cubano está fora de sua visão política, que mira nas mudanças de médio prazo em Cuba.

Abraços