Os Estados Unidos podem ganhar guerras. Podem ganhar revoluções?
Henry Cabot Lodge, político, militar e diplomata americano, ex-embaixador no Vietnã do Sul
Uma das maneiras de se entender a Guerra Fria é como o choque entre dois modelos antagônicos de desenvolvimento – o de economias de mercado, capitaneadas pelos Estados Unidos e pela Europa Ocidental, e os dos sistemas comunistas liderados pela União Soviética e pela China. Em “The Right Kind of Revolution – modernization, development and US Foreign Policy from the Cold War to the Present”, Michael Latham (Universidade Fordham, Nova York) critica as abordagens americanas para lidar com o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo, avaliando que eram modelos simplistas, autoritários e que contribuíram para o agravemento das tensões daquele período conturbado e que continuam a pautar a ação dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão.
Para Latham, a chave política desses modelos era o desejo dos Estados Unidos em exercer influência sobre os países que estavam se tornando independentes após a Segunda Guerra Mundial, impedindo que os soviéticos se tornassem a força dominante sobre eles. Nesse processo, os acadêmicos americanos criaram diversas fórmulas que procuravam explicar o processo de desenvolvimento de países pobres e propor soluções para que chegassem ao patamar das nações ricas.
A principal abordagem desse tipo foi a teoria da modernização, que atingiu o auge de sua influência na década de 1960 e foi importante na política externa de John Kennedy e Lyndon Johnson, servindo de base intelectual para iniciativas como a Aliança para o Progresso e as doutrinas de contrainsurgência no Vietnã. O cerne dessa perspectiva era uma divisão dos países em “tradicionais” e “modernos”, e a discussão sobre quais as políticas públicas para fazer a transição de uma etapa para outra – em geral, por investimento estrangeiro maciço. Walt Rostow, o autor do mais influente desses tratados, “The Stages of Economic Growth: a non-communist manifesto”, foi conselheiro de Segurança Nacional dos EUA.
Os teóricos da modernização acreditavam que a democracia era o destino final dos países em desenvolvimento, mas desconfiavam dela no curto prazo e em geral advogavam elites mais ou menos autoritárias impondo reformas de cima para baixo. A busca desse tipo de líder foi um fracasso constante dos Estados Unidos no Vietnã e o país também falhou em lidar com governantes que tinham um perfil desse tipo, mas cujo nacionalismo os tornava difíceis de controlar, como Gamal Nasser no Egito.
Latham faz a síntese das críticas que foram feitas à teoria da modernização. Por exemplo, como ela considera “tradição” e “modernidade” como conceitos absolutos e dicotômicos, ao passo que no mundo real a relação entre ambos é bem mais próxima e ambígua – autoridades tradicionais com frequência são agentes de modernização e podem legitimar novas instituições, como partidos políticos. Ele menciona também as abordagens da CEPAL e da teoria da dependência, que ressaltam que a pobreza não é só questão de más escolhas de governantes mas de trajetórias históricas de exploração colonial ou agressões estrangeiras.
“The Right Kind of Revolution” é um ótimo livro na fronteira fértil entre relações internacionais e estudos sobre o desenvolvimento, uma área que demanda novas abordagens e um olhar mais detalhado por parte dos brasileiros.
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