O Brasil ocupa uma posicao curiosa no congresso da Associacao de Estudos Latino-Americanos. Como o maior e mais populoso pais do continente, esta no centro das atencoes. Ao mesmo tempo, a lingua portuguesa e os academicos brasileiros ocupam um espaco nitidamente secundario nas discussoes por aqui.
Comecemos pela lideranca. A abertura oficial do congresso contou com a participacao de varias autoridades canadenses, como a chefe de Estado, os reitores das universidades do Quebec e a ex-chanceler e ex-sub-secretaria-geral da ONU. Todos ressaltaram a importancia da America Latina para o Canada, como convinha para as circunstancias. Contudo, a chefe do Estado, discursando em portugues, cobriu o Brasil de elogios e apontou o pais como exemplo da papel de destaque na politica internacional. Foi a unica nacao latino-americana que ela cumprimentou e imagino que deve ter sido um pouco constrangedor para os cidadaos dos outros paises.
Eu diria que a lideranca brasileira e uma forte tendencia, mas ainda nao e uma realidade. A Associacao de Estudos Latino-Americanos e muito concentrada nos EUA, apenas 25% dos seus membros estao na America Latina. A principal lingua de trabalho por aqui, sem sombra de duvida, e o ingles. O espanhol desempenha papel importante. So se fala portugues em mesas sobre o Brasil e na qual os estrangeiros demonstrem pouco interesse.
Por exemplo, ontem assisti a um debate sobre "Machado de Assis, escritor latino-americano". O nome foi propaganda enganosa, porque se falou muito mais da relacao do autor com a literatura europeia, mas me chamou a atencao da total ausencia de hispano-americanos ou pessoas dos EUA e do Canada na plateia.
Tambem ontem aconteceram as "reunioes de negocios" como sao chamados os encontros das principais sessoes em que se organiza a Associacao. Fui para a do Cone Sul, ja que escrevo sobretudo sobre os paises da regiao. Eu era o unico brasileiro na reuniao, o que me tornou bastante requisitado. Nao pelo meus belos olhos, e sim por uma questao pratica - o proximo congresso da Associacao sera no Rio de Janeiro, em 2009, e todos queriam ouvir o que eu tinha a dizer sobre as condicoes de infra-estrutura para o encontro. Acabei me comprometendo a ajudar na organizacao de uma serie de eventos.
Eis meu ponto - para exercer a lideranca internacional que comeca a se desenhar no horizonte, o Brasil tera que romper seu isolamento. O pais vai precisar de uma grande quantidade de profissionais - no governo, nas empresas, na academia, no jornalismo - capazes de construir pontes com colegas em outros paises, aprender linguas estrangeiras e pensar alem dos preconceitos nacionalistas e de visoes de mundo restritas.
Neste dia que celebramos a festa patria, desejo ao Brasil menos independencia e mais o que os teoricos de relacoes internacionais chamam de inter-dependencia, mas que um poeta e diplomata que escreveu sobre a "patria minha, tao pobrinha" talvez preferisse batizar de arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
3 comentários:
Olá Mauricio,
Gostei muito do seu Blog. Principalmente de como fala da política. Percebe-se que tem paixão pelo que faz. Ah, vinícius de moraes foi demais... adorei o link que fez. Ah, já que é um estudioso da "ciência política", gostaria de saber sua opinião sobre outro assunto de política internacional. Qual é o seu e-mail? Meu e-mail é: karin_nery@yahoo.com.br. Até breve, Karin Nery.
Vinícius sempre é Vinícius. Mesmo tendo sido expulso e depois promovido, postumamente, a embaixador. Eles se deram foi conta da besteira que fizeram ao abrirem a porta de saída para o poeta, isso sim...
Certamente, o Brasil precisa romper com seu isolacionismo acadêmico. Este mês fechou o Centro de Estudos Brasileiros que existia em Oxford por falta de recur$o$ para continuar aberto. O centro acabou tendo que ser reincorporado pelo Centro de Estudos Latino-Americanos, do qual havia se tornado independente no ano 2000, com direito a presença do FHC. Acho que o exemplo já é significativo por si mesmo e dispensa maiores comentários, né?
Abraço saudoso
Olá, Karin.
Seja bem-vinda ao blog, tem mais coisa chegando por aí. Meu email é msantoro@iuperj.br e fique à vontade para escrever.
Salve, Igor.
Não sabia do fechamento do Centro de Estudos de Oxford, mas é uma péssima notícia. Lá estudaram vários dos meus professores.
Me espantou como a maioria dos professores universitários brasileiros - inclusive os titulares da USP - não conseguem sequer apresentar seus trabalhos em inglês, tendo que recorrer a um portunhol constrangedor.
Abraços
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