quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Iraque: Tomando Sopa com Faca


Nesta semana o tenente-coronel John Nagl anunciou que está deixando o Exército dos Estados Unidos. Sua decisão causou furor nos círculos especializados. Nagl é um dos militares mais respeitados e admirados do país, basicamente por seu trabalho como pensador de assuntos estratégicos.

Nagl é um Rhodes Scholar, ou seja, passou por um dos programas acadêmicos mais prestigiados dos Estados Unidos, e cursou doutorado na Universidade de Oxford, onde escreveu a tese “Learning to Eat Soup with a Knife: counterinsurgency Lessons from Malaya and Vietnam”. A escolha do Vietnã é óbvia, a da Malásia se explica porque os britânicos venceram uma ampla guerrilha comunista por lá, nos anos 50.

O militar havia servido no Oriente Médio na Guerra do Golfo, em 1991, e lutou no Iraque após os Estados Unidos invadirem o país em 2003. Depois disso, exerceu diversos cargos importantes como conselheiro político no Pentágono e foi um dos principais autores do novo manual de Contra-Insurgência do Exército americano, elaborado a partir da experiência dos combates recentes.

Nagl afirmou à imprensa que o Iraque lhe ensinou que ele nada sabe sobre contra-insurgência e resolveu deixar o Exército para se tornar pesquisador de um think-tank recém-criado, o Center for a New American Security.



Claro que a decisão de um oficial tão promissor coloca em questão a estratégia que os americanos implementam no Iraque. As estatísticas mostram que o desempenho das tropas melhorou bastante em 2007, mas a Economist chama a atenção para que a melhora é apenas relativa, diz respeito ao contraste com situação precedente, de desespero. Mais de 100 pessoas continuam a morrer na guerra, por semana, e o total de vítimas desde a invasão é estimado em 150 mil.

Ponto diretamente relacionado ao debate é o papel dos militares em tarefas de auxílio humanitário, reconstrução e cooperação para o desenvolvimento. Já escrevi neste blog sobre como o Pentágono assumiu tarefas crescentes na área, uma vez que após o 11 de setembro missões envolvendo atividades desse tipo no Afeganistão e no Iraque ganharam em importância.

Agora a maré começou a virar e analistas políticos como Matt Armstrong argumentam que a experiência no Iraque está ensinando que é melhor deixar a cooperação política a cargo dos civis. Traduzo trecho de seu interessante artigo:

“A militarização da ajuda humanitária reforça a imagem dos Estados Unidos militaristas e leva desconfiança às populações beneficiadas. Se os EUA só aparecem em botas de combate, os aliados tendem a não apoiar ou participar em missões que de outro modo seriam valiosas (...) Comandantes em combate têm procurado enfatizar a cooperação cívico-militar e maximizar a “face civil” do engajamento americano.”

Vários dos candidatos à presidência nos Estados Unidos têm destacado a necessidade de melhorar as políticas de auxílio ao desenvolvimento. Acredito que a reformulação dos órgãos do setor ocorrerá no próximo governo, e vale a pena acompanhar o debate.

2 comentários:

Paulo Gontijo disse...

Salve meu caro. Aqui nos states o Mccain esta se vendendo como o pai da nova estrategia e se associando aos resultados. O mais interessante eh a palavra de ordem eh mudança. Ate mesmo o Mitt Romney diz que vai mudar Washington. Acho dificil, mas veremos.
Um abraco.
Paulo

Maurício Santoro disse...

Salve, Paulo.

Aguardava notícias suas! Espero que você possa nos explicar as regras bizantinas das Primárias americanas!

Acompanhei a vitória do Romney em Michigan, mas continuo em dúvida sobre o que irá acontecer com relação a McCain e a Giuliani. Terei que esperar até a Super Terça? Ou mesmo depois? Olhando daqui, a impressão que dá é de uma tremenda confusão.

Boa temporada em Georgetown!

Abraços