sexta-feira, 18 de abril de 2008

Mulheres nas Relações Internacionais


A teoria clássica das relações internacionais é cega com relação a gênero. Os textos descrevem um mundo sem sexo, habitado por abstrações como “equilíbrio de poder” e grandes potências que se comportam como crianças mimadas. Quando comecei a lecionar RIs na universidade, me deparei com turmas de maioria feminina. Surgiu um problema: como aquela matéria se relaciona com o cotidiano, expectativas e preocupações das minhas alunas?

Os filhos ensinam aos pais e os estudantes ensinam aos professores. Há autoras feministas que incoporam as questões de gênero à teoria de RIs, como Christine Sylvester e Cynthia Enole e costumo citá-las. No entato, as contribuições das próprias alunas têm sido muito mais interessantes, me forçando a refletir sobre temas que num primeiro momento não faziam parte da minha agenda de pesquisas.

Por exemplo, a situação das mulheres nos países islâmicos. Na minha turma de 2007, duas estudantes fizeram excelentes estudos a respeito do assunto – uma abordou os filmes do Irã e do Afeganistão que tratam dos direitos femininos, outra realizou uma série de entrevistas com refugiadas dos países muçulmanas no Rio de Janeiro. Conheço pouco ou nada da cultura islâmica, e tenho aprendido muito com elas, muito mais do que ensinado.

Uma perspectiva que tem me interessado é a do papel das mulheres na resolução e mediação de conflitos políticos, sobretudo aqueles que envolvem violência. Me parece que esse olhar é um modo de superar a visão tradicional das mulheres como vítimas em confrontos armados (situação que, evidentemente, é gravíssima, em particular pelo uso do estupro como crime contra comunidades em casos de massacres étnicos).

Esta é uma época promissora para as pesquisas de gênero, quando mais não seja pela grande quantidade de mulheres em chefia de Estado ou postos de proeminência política, da Alemanha à Libéria, passando por Argentina, Chile, EUA e Brasil. O destaque latino-americano não deve causar espanto: apesar do machismo da região, foi no continente que se gestou um dos movimentos feministas mais bem articulados do ponto de vista internacional.

Mais do que hora da academia se abrir para essas perspectivas.

14 comentários:

Patricio Iglesias disse...

"Me parece que esse olhar é um modo de superar a visão tradicional das mulheres como vítimas em confrontos armados"
Concordo com você. A visäo que ainda muitos tem da mulher como sujeito pasivo näo se limita às situaçöes de violéncia, senäo também na paz. Parece que näo podem ver a renovaçäo que há em todos os continentes!
Ainda näo sai pra bater panelas. :)
Boa sorte com a tese!
Saludos de seu amigo

Patricio Iglesias

Ramon Blanco disse...

Olá Professor, tudo bom?
O tema é realmente muito interessante, inclusive quando existem estudos que não só as mulheres como mediadoras tendem a chegar a mais acordos, como os acordos mediados por elas tendem a durar mais.
Não somente na mediação mas no processo como um todo seja nas forças de paz ou em missões humantárias a presença de mulheres é cada vez mais decisiva.

Algumas referencias que talvez você já tenha:

J. Maxwell e D Maxwell (1989), "Male and Female Mediation Styles and heir effectivenes"
Stamato, Linda (1992)"Voice, Place and Process: Research on gender, negotiation, and Conflict Resolution" Mediation Quaterly, Vol 9, N4, Summer, pp 375-386

E um mais recente:

Lamptey, Comfort and Sighu, Gretchen (2000) (eds.) Women at the Peace Table: Making a Difference. New York: UN Development Fund for Women (UNIFEM).

Um abraço,

Ramon

Anônimo disse...

Sou estudante de Relações Internacionais, estou no 1º Semestre e adorando o curso.

Leio o blog sempre que posso, e tem me ajudado muito na faculdade.

Beijos,
Marjorie

Maurício Santoro disse...

Hola Patricio,

A tese está pronta! Defenderei no fim de maio.

Grande Ramón,

não conhecia as referências que você citou, obrigado. Como temos conversado, o tema da resolução de conflitos é uma perspectiva muito rica para as RIs.

Olá, Marjorie.

Que bom! Fico feliz que os textos ajudem. Onde você faz seu curso?

Abraços

Ramon Blanco disse...

Salve Maurício,

realmente é um tema bem interessante mesmo e é por onde estou indo...

Tenho mais algumas outras referências. No livro em pdf que deixei no arquivo do grupo da pós tem um capítulo só sobre a discussão de gênero nos conflitos e na resolução deles.

É o capítulo 10 se eu não me engano. É só pegar lá.

Um abraço!

Ramon

SAM disse...

De fato, enquanto não conseguirmos assumir a humanidade como uma espécie de ave com duas asas (homens e mulheres) na qual ambas devem ter a mesma força e capacidade complementares, dificilmente poderemos aspirar voar aos mais altos céus do progresso e desenvolvimento humano e global.

Anônimo disse...

Faço na Universidade Belas Artes de São Paulo.

Beijos

Anônimo disse...

Arrumando o comentário, eu esqueci de escrever meu nome, desculpa!

Faço na Universidade Belas Artes de São Paulo.

Beijos

Maurício Santoro disse...

Sem problemas, Marjorie. Dei uma olhada no site da sua universidade, a grade curricular do curso parece boa. Boa sorte com o curso!

Abraços

Anônimo disse...

Olá Maurício, sou formada em relações Internacionais, fiz minha IC baseada na discussão de gênero e desde então fiz alguns ytrabalhos para disciplinas na faculdade sob a perspectiva do feminismo nas RIs. Fico feliz por saber que você leciona e esteja disposto a descobrir mais sobre estas discussões. Fiquei feliz em saber que a sua saçla tenha aceitado bem a discussão do tema,o que não ocorreu na minha, quando aluna.

Tenho um artigo publicado no meu blog discorrendo sobre a nãio atenção e impotãmcia do tema nas grades curriculares de RI no país.

Lá tb disponibilizo minha pesquisa em licença Creative Commons.

Daqui por diante terei mais tempo para escrever. Espero poder contribuir mais para este debate no Brasil.

Boa sorte!

Mariana
www.espelhodevenus.wordpress.com

Anônimo disse...

Genial post and this fill someone in on helped me alot in my college assignement. Say thank you you seeking your information.

Anônimo disse...

Easily I agree but I think the list inform should acquire more info then it has.

Unknown disse...

comunidade para mulheres internacionalistas
Visualize uma mulher inteligente, bem-humorada, charmosa, viajada, capaz de discutir sobre política, história, economia e ainda debater sobre as tendências mundiais.
Imagine que ela ainda tenha conhecimento sobre diversas culturas e alguns idiomas. Acrescente assertividade, polidez, boas-maneiras e conversas agradáveis - afinal, ela está sempre bem informada e costuma ler diariamente sobre as notícias relevantes.
Imaginou essa mulher? Pois essa comunidade está repleta delas, as mulheres que fazem Relações Internacionais (R.I.) ou Negociações Internacionais (N.I.), as Internacionalistas.
Comunidade dedicada à essas mulheres maravilhosas, e aos homens que admiram elas.
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=102056162
P.S. Se nao puder ter topicos assim, me desculpem. Mas achei interessante a comunidade, bastante.

Yohanna disse...

Boa tarde Mauricio, sou aluna do curso de Relações Internacionais da PUC-GO, estou escrevendo uma monografia a respeito do papel da mulher na sociedade e atraves desta perspectiva estou realizando um estudo de caso a respeito da mulher islamica da Arabia Saudita (berço do islamismo). Gostaria de sua ajuda, se possivel pois estou em duvida sobre qual teoria devo analisar neste caso. Caso queira entrar em contato comigo meu email é yofaria@hotmail.com
Obrigada!