sexta-feira, 31 de julho de 2009

Juventude: promessa, ameaça, sonhos



Quando eu representava organizações da sociedade civil em conselhos de políticas públicas, tinha certeza de que o governo nos escondia informações. Agora que trabalho para o Estado me pergunto onde diabos estão esses dados, porque não descobri nenhuma arca secreta com revelações estupendas sobre a realidade. Daí a importância de pesquisas como “Juventudes Sul-Americanas: diálogos para a construção de uma democracia regional”. O projeto foi coordenado pelo IBASE pelo Instituto Pólis e como vocês sabem trabalhei nele em 2007 e 2008. Tinha ido ao belíssimo evento de lançamento no mês passado, mas só nesta semana terminei de ler o relatório final, que analisa os dados de 14 mil entrevistas realizadas pelo IBOPE na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

O sociólogo francês Alan Touraine escreveu que a juventude costuma ser vista simultaneamente como “promessa e ameaça”. É uma síntese feliz que reflete bem a ambigüidade da mídia ao lidar com jovens, por um lado associando-os à violência, comportamentos transgressores e agressivos, por outro os destacando como símbolos de beleza, energia, sensualidade e alegria. O dado que mais me impressionou na pesquisa foi a força das imagens negativas da juventude, compartilhadas por pessoas de todas as faixas etárias, inclusive pelos próprios jovens. Me pergunto como essas percepções afetam, por exemplo, o trabalho de um professor.

Outra surpresa foi a constatação de que a faixa etária pouco influi nas opiniões sobre política e sociedade, salvo poucas exceções como posturas mais tolerantes por parte dos jovens a respeito de sexualidade e uso de drogas, além de maior facilidade para lidar com as novas tecnologias da informação. O Uruguai foi o país com as respostas mais progressistas, Bolívia e Paraguai, os mais conservadores.

Na América do Sul, a diferença mais expressiva entre jovens e pessoas mais velhas diz respeito à escolaridade. A juventude é tem muito mais anos de ensino formal do que seus pais e avós, e isso se destaca sobretudo no nível médio. No caso do Brasil e do Paraguai, mais de 40% dos jovens chegaram a esse patamar, enquanto o percentual dos adultos é de pouco mais de 10%. Salto bastante considerável para o curto espaço de uma geração.

Um bloco inteiro da pesquisa diz respeito às políticas públicas, meu ofício. Imaginava que haveria certo descrédito com as ações governamentais na região, mas o resultado é pior do que eu esperava. A maioria dos entrevistados acredita que a melhor maneira de mudar seus países e por meio das famílias, ou do esforço pessoal. Muitos sequer conseguem citar uma política oficial para a juventude, embora os dados sejam bem melhores para o Brasil do que para os demais países do continente.

Ilustração que abre o post: “A Dança da Juventude”, Pablo Picasso

2 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Parabéns pelo trabalho. Acredito que na Argentina o governa esconde informação, só um pouquinho. Especialmente respeito à inflação. Uma impressão... he, he, he!
Na Argentina as diferenças na formação não são tão marcadas, salvo pelo segmento de maiores a 80 anos. Veja os dados do Censo 2001, aunque são pouco interativos: http://www.indec.gov.ar/censo2001s2/ampliada_index.asp?mode=01
Saludos!

Maurício Santoro disse...

Hmmm... quanto à inflação, creio que você tem razão! :-)

Abraços