terça-feira, 1 de setembro de 2009

Manu Chao: música para a dança da América Latina



Uma das minhas glórias como repórter foi ter entrevistado Manu Chao, quando ele lançava o CD Clandestino. Conversamos no restaurante Nova Capela, no bairro carioca da Lapa, num papo descontraído e aberto que tratou de México, Colômbia, EUA, movimentos sociais e, claro, música. Me fascina como ele é capaz de colocar num liquidificador criativo as principais tendências culturais do século XXI e tirar dali canções maravilhosas em francês, inglês, espanhol, português, o que for.

Há poucos meses assisti a um show de Manu aqui em Brasília, e o achei em plena forma. Agora leio sobre o lançamento de seu novo disco: “La Colifata”, gravado num hospital psiquiátrico na Argentina, é uma parceria do cantor e compositor com as pessoas internadas na instituição. Você pode baixar as canções pela Internet, gratuitamente, é só clicar no link.

A BBC organizou um debate online no qual Manu conversa com seus fãs, sobretudo os da América Latina, e fala da “crueldade e poesia” que caracterizam o continente. Naturalmente, há certa ironia em gravar num hospício um disco sobre a região, mas a metáfora bem pode se aplicar a qualquer canto do planeta nestes dias que correm.



Em junho, quando estive em Porto Alegre para um evento acadêmico, os cordialíssimos alunos da UFRGS me levaram para tomar um café no Centro Cultural Mário Quintana. Conversando, descobrimos inquietações comuns com o enfoque tradicional de estudo/ensino de relações internacionais no Brasil, ainda muito voltados para a história diplomática, do que o chanceler fulano disse ao embaixador sicrano. Um dos nossos desejos é reforçar o aspecto da cultura, tão rico em possibilidades.

Manu Chao oferece várias. Nascido na França, filho de exilados políticos da Espanha, ele sempre transitou por diversas culturas. Na América Latina, sua turnê artística-social do Expresso de Gelo merece uma boa análise acadêmica. Tratou-se de uma viagem pela Colômbia, num trem fretado, atravessando a zona da guerrilha e dos paramilitares, parando em pequenas cidades e vilarejos para conversar com as pessoas e ouvir suas histórias.

Quando o entrevistei, Manu destacou em diversos momentos esse desejo de estar com a gente comum, de escapar ao cerco do show-business e poder passear por mercados e estações rodoviárias. Mais de uma vez pensei nessas palavras, em minhas andanças por Quito, La Paz ou Ciudad del Este. Acadêmicos e artistas podem e devem andar mais próximos.

3 comentários:

Renata disse...

Você conhece a proposta que poderá isentar a música brasileira dos impostos?

A PEC da Música está para ser votada na Câmara e pretende dar à música nacional o mesmo tratamento que já é dado aos livros e revistas: isenção total de impostos, no caso para CD, DVD e, também, formatos digitais.
Contando com o apoio de artistas, músicos e muitos outros, a proposta, já aprovada em comissão especial, vai a plenário. É aí que você pode ajudar muito!
Sendo o responsável por um site que aborda o tema, é importantíssimo que você divulgue e informe os leitores, a fim de pressionar os deputados a votar a favor da proposta.
Qualquer dúvida, estamos à sua disposição pelo email: renata@otavioleite.com.br
Aproveito para parabenizá-lo pelo seu blog!
Assista ao debate promovido pela MTV na semana passada:
http://mtv.uol.com.br/debate/videos/mtv-debate-baixar-o-imposto-aumenta-venda-do-cd-clique-e-assista-na-%C3%ADntegra

O programa CQC também fala sobre a proposta aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=M_8FJEDdLD4

Acompanhe: http://twitter.com/otavioleite

O que saiu na imprensa sobre a proposta:
http://www.otavioleite.com.br/pesquisa.asp?q=pec+da+musica

A íntegra da proposta:
http://www.otavioleite.com.br/conteudo.asp?proposta-de-emenda-a-constituicao-no-98-de-2007-pec-da-musica-2303

Pedro Lobato disse...

Legal, muito bom. Fina essa ideia de estudar as relações internacionais do Brasil através da cultura.

Maurício Santoro disse...

Oi, Renata.

Não tenho acompanhado o debate sobre a nova lei de incentivos culturais, mas espero conhecer mais sobre o assunto.

Salve, Pedro.

Na verdade, penso mais num enfoque transnacional do que em algo tradicional, no sentido relações-do-Brasil-com-tal-e-qual-país.

Abraços