quarta-feira, 3 de março de 2010

Chile: depois das tragédias



Terremotos, tsunamis, incêndios, saques... Primeiro o Haiti, agora o Chile. O país andino sofreu o segundo pior tremor de terra da sua história – e com 8.8 graus na escala Richter, um dos maiores já registrados, pode ter alterado o próprio eixo de rotação do planeta! O terremoto chileno foi cerca de 500 vezes mais potente do que aquele que devastou o Haiti, contudo, matou quase 800 pessoas, contra mais de duzentas mil na nação caribenha. A diferença se explica pela força do Estado no Chile. Ou mais precisamente: pela eficácia da legislação de regulação da construção civil, adotada pelos governos democráticos ao longo da década de 1990, e pela reação da defesa civil, da polícia e das Forças Armadas para socorrer as vítimas, mesmo sem conseguir evitar tumultos e roubos na cidade de Concepción, a mais atingida pelos desastres.

Os danos à infraestrutura do país estão estimados em cerca de 20% do PIB, péssima cifra em qualquer época, ainda mais em um momento de crise para uma economia dependente da exportação de poucas commodities e que encolheu 0,9% em 2009. Os preços mundiais do cobre, principal produto chileno, já aumentaram em função da expectativa que a produção nacional diminua. Os danos aos portos causados pelo maremoto também atrapalharão muito no escoamento das exportações.

A situação emergencial é a pior notícia possível para o presidente eleito Sebastián Piñera, que tomará posse no próximo dia 11. Com a necessidade de ações imediatas por parte do Estado, a agenda liberal do mandatário, de corte de gastos públicos, está evidentemente suspensa. Dada a calamidade que se abateu sobre o país, Piñera provavelmente terá que utilizar os recursos economizados no fundo de estabilização, criado justamente para ser usado em momentos de dificuldades como este.

Há um forte precedente histórico. O planejamento governamental no Chile está vinculado à experiência com outras tragédias naturais, em particular o grande terremoto de 1939, que deixou cerca de 30 mil mortos. A catástrofe marcou os esforços da recém-eleita Frente Popular em criar órgãos estatais de promoção do desenvolvimento, e o resultado foi a criação da Coporación de Fomento de la Producción, que então era uma experiência pioneira no ramo, comparável ao que havia de mais avançado no New Deal dos Estados Unidos.

9 comentários:

Marcelo L. disse...

Prezado Mauricio, que tragédia, esperemos que nossos irmãos chilenos se recuperem.

Por sinal, vc que é do RJ é verdade que o canhão "cristão" pode ser enviado ao Paraguai?

Mariana Cabral disse...

Não sabia da possibilidade de ter alterado o eixo de rotação no planeta... como isso ocorre?? bjao!

Maurício Santoro disse...

Salve, Marcelo.

Não faço idéia. Sei que o Figueiredo (salvo engano) devolveu alguns trófeus de guerra ao Paraguai, e o mesmo foi feito na Argentina pelo Perón.

Oi, Mariana.

Também desconhecia a possibilidade, mas aparentemente nosso planeta é bem mais perigoso do que parece à primeira vista.

Abraços

Patricio Iglesias disse...

Meu caro Maurício:
Save qué é o que me produz muito dor? Que a vida humana parece ter um valor distinto segundo o pais. Nos EUA, como você apuntou faz um tempo, morreram dezenas de pessoas en 1989, no Chile, centas en 2010 (e com nova tecnologia, pensemos) e, no Haití, centas... de miles.
Não savia nada da devolução de trófeus de guerra ao Paraguai. É um exelente gesto. Aqui va a nova da que fala o Marcelo: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=7&id_noticia=125211
Minha cara Mariana, não savia nada, mas pesquisei e li que também (segundo científicos da NASA) acortou a duração do dia: http://www.thedaniex.org/2010/03/el-eje-de-la-tierra-cambia-por-el.html . Ahí tem uma explicação. Aqui você aprende até sob geologia!
Abraços!

Patricio Iglesias

Maurício Santoro disse...

Caro Patricio,

Ao menos parece que as estimativas de mortos no Chile estavam excessivas, o novo número divulgado pelo governo aponta para cerca de 80 mortos a menos.

Abraços

Marcelo L. disse...

Prezado Patricio,

Eu de minha parte não considero um grande gesto devolver qualquer coisa ao Paraguai, tanto que estou apoiando caso seja verdade forçar o MPF ou Estadual do Rio de Janeiro a entrar com uma ação na justiça.

Ou até como cidadão, uma ação popular para proteger o patrimônio público.

Até por que mais tarde pode ser que queiram uma indenização de uma guerra que eles começaram já que dia do Herói para o Solano Lopez com todo respeito a quem pensa ao contrário, mas isso ele não foi.

Abraços,

Marcelo

Maurício Santoro disse...

Salve, Marcelo.

A praxe internacional, sobretudo em países envolvidos em esforços de integração regional, tem sido pela devolução de troféus simbólicos. Casos de reparação financeira são raros, em especial após o fiasco que esse tipo de política experimentou após a I Guerra Mundial.

A política externa brasileira no Prata à época da guerra da Tríplice Aliança era extremamente agressiva, basta lembrar que a invasão paraguaia ao Mato Grosso e ao Rio Grande do Sul ocorreu em represália à ocupação imperial do Uruguai...

A própria reação brasileira de ocupar todo o Paraguai, numa longa e sangrenta guerra contra guerrilhas, foi desproporcional, transformou um conflito de fronteiras num massacre devastador, e terminou por destruir a própria monarquia, pois o Império nunca se recuperou do desastre financeiro que foi a guerra.

Abraços

Marcelo L. disse...

Prezado Mauricio,

Eu nunca reescrevo nada até por que nunca sei como as pessoas estão do lado outro lado vão receber, mas esse caso dá vontade de rasgar meu diploma de história na USP que não serve para nada mesmo, já que tenho outro...o Paraguai podia ter depois visto depois que sua ofensiva terminou ter feito um tratado de paz...Solano Lopes teve todas as chances até por que Caxias parou os ataques para arrumar o exercito aliado, preferiu por sinal matar todos que eram a favor de acordo entre eles seu irmão.

É interessante ver o ponto de vista de outras pessoas sobre o tema, mas morreram 50.000 brasileiros e muitos para tomar esse canhão...como frequento forum militar teve um forista que deixou o sentimento geral de lá:

"Confesso que estou deprimido.
Profundamente.

Porque eu compreendo o motivo real da devolução de um troféu de guerra: a incompreensão da nossa sociedade, para com o que é um conflito armado, suas dimensões e implicações. E aquilo que amargura: que tal perspectiva é viva no pensamento dos nossos dirigentes.
Que não sejam oportunistas, pois, nem a oposição se manifesta sobre isto. Para a sociedade civil, a entrega de tal canhão é “justa” e “adequada”. Não percebem que um troféu de guerra é um símbolo em honra daqueles que tombaram em uma luta pela pátria.

Estou amargurado. Deprimido mesmo".

Abs

Maurício Santoro disse...

Salve, Marcelo.

Sim, morreram 50 mil brasileiros no Paraguai, e infelizmente a maioria dessas mortes foi inútil, porque as Forças Armadas foram utilizadas como instrumento de uma política externa errônea.

O Império transformou o que deveria ter sido uma guerra limitada, de fronteiras, num conflito total que exauriu tanto Brasil quanto Paraguai, além de provocar rebeliões na Argentina.

A política externa imperial no Prata é um tema fascinante, que precisa ser melhor pesquisado e estudado, sem a agressividade patrioteira de outras épocas, levando em conta as novas perpeções sobre o mundo.

abraços