terça-feira, 6 de novembro de 2007

Tudo é Iluminado



Não assisti a Uma Vida Iluminada quando o filme foi exibido nos cinemas, mas gostei muito de vê-lo em vídeo. A história é a adaptação do romance Everything is Illuminated, do americano Jonathan Foer – a má tradução para o português rouba o sentido das aventuras dos personagens.

Foer é também o protagonista da trama. Desde criança, ele é um colecionador, que recolhe pequenos objetos pertencentes a seus parentes, numa ânsia aparentemente irracional de preservar a memória da família, judeus que emigraram da Ucrânia para os EUA. Já adulto, decide viajar ao país natal do avô, em busca de uma misteriosa mulher que o teria ajudado a fugir dos nazistas.

Na Ucrânia, Foer contrata os serviços de um homem idoso e seu neto, ambos chamados Alex, que têm uma empresa dedicada a receber turistas americanos em busca das raízes judaicas. Na realidade, a história é narrada por Alex Neto, personagem em tudo semelhante a Borat por seu humor escatológico, anti-semitismo e grosseria cultural. Esse é o ponto fraco do filme: a trama correria muito bem sem precisar apelar para os esteriótipos americanos que enxergam como bárbaros todos aqueles que moram à leste de Viena.

À medida que os personagens se embrenham pelo interior ucraniano em busca da aldeia do avô de Foer, a história ganha em drama humano. Por que Alex avô está tão inquieto e sonhador? Por que ninguém nos arredores parece conhecer o vilarejo que os três procuram? Não me cabe responder a essas perguntas, mas adianto que o resultado é uma bela fábula sobre memória, identidade e culpa, e de como é possível tratar com sensibilidade e criatividade um tema tão repleto de clichês como o Holocausto.

O que me motivou a ver o filme por estes dias foi uma experiência que ocorreu com meu irmão, que aproveitou sua viagem à Itália para buscar a aldeia natal de nosso avô – Fuscaldo, na região da Calábria. Eu havia passado junto a ela quanto estudei no país, há sete anos, mas não tive nenhuma epifania ou revelação. Vovô emigrou da Itália quando criança e sempre achei que suas raízes, como as minhas, estavam muito mais pelo centro do Rio de Janeiro do que em qualquer lugar do Velho Mundo.



Genealogias sentimentais à parte, a jornada do meu irmão é bonita, ainda que eu não compartilhe do seu desejo de busca das raízes.

Breve curiosidade: o irmão de Jonathan também é escritor. Chama-se Franklin Foer e é autor do excelente “Como o Futebol Explica o Mundo”, que também tem um capítulo ambientado na Ucrânia, sobre choque cultural e racismo dos jogadores africanos no país. Que família! Vovô Foer deve estar orgulhoso da prole.

5 comentários:

Paulo Gontijo disse...

Assisti a esse filme semana passada. É impressionante como é tanto poético quanto surprendente.

Maurício Santoro disse...

Sim, "poético" é a palavra-chave, em especial na seqüência do campo de flores e das memórias junto ao Rio. Belo filme, belo filme.

Márcio Santoro disse...

Oi, irmão! Gostei muito do fator motivador para você ver o filme! hehehe E fiquei com muita vontade de vê-lo tb! Você pegou lá na locadora de Santa? Valeu pela lembrança! Abração!

Anônimo disse...

Olá Maurício,
Gostei da dica sobre o filme. Acho que vou gostar! Então, vc tb tem um "pé" lá na Itália?! Que bacana! Nunca estive lá, mas no início do ano vou ter a oportunidade de conhecer. Tb gosto da idéia de procurar "as raízes". Aliás, foi por isso que me interessei em estudar a língua. Espero gostar da viagem. Até mais!

Maurício Santoro disse...

Ciao, fratello.

Acho que você vai se identificar muito com a história. A jornada dele foi quase tão difícil com a sua!

Peguei o filme naquela locadora que foi inaugurada na esquina da minha rua, tem um acervo bem legal.

Olá, Karin.

Sim, minha família materna é italiana, tenho a cidadania do país (além da brasileira) e já estudei por lá, às custas do governo da região Piemonte.

Abraços