sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Dois Anos de Raúl Castro
Tomei um susto quando li as notícias que destacavam que Raúl Castro já está há dois anos como presidente de Cuba – ainda que só cinco meses como governante oficial. O general de 77 anos tomou algumas medidas liberalizantes, mas foram tão poucas e insuficientes que eliminam expectativas que conduziria a transição democrática na ilha.
O caçula dos irmãos Castro convocou funcionários e cidadãos a exporem suas críticas aos problemas administrativos do governo. Recebeu mais de 1 milhão de sugestões. Sua decisão mais importante é a reforma agrária: alocar 50% das terras produtivas do país para produtores privados, afastando-se do clássico modelo comunista de fazendas coletivas estatais. É uma decisão semelhante àquela tomada por Deng Xiaoping no início de sua revolução econômica na China. Embora a situação cubana seja bastante diferente, é de se esperar que a iniciativa resulte no aumento da produção agrícola no país.
Chama a atenção também como os investimentos e auxílio econômico da Venezuela e da China deram sobrevida ao regime cubano, melhorando as condições de vida da população em aspectos essenciais como transporte público e abastecimento energético. Foram permitidas as importações de eletrodomésticos e telefones celulares, bens comuns em muitos países, mas artigos de luxo na ilha.
Outras áreas apresentam situação bem mais problemática. A educação, um dos orgulhos da Revolução, passa por muitas dificuldades. Estima-se que existe um déficit de 8 mil professores, porque muitos docentes abandonaram as salas de aula e emigraram, ou foram para a indústria do turismo. O governo tem lidado com a crise contratando de forma temporária pessoas que têm apenas o ensino médio, sem formação específica para dar aulas. Surpreendentemente parecido com o Brasil, vejam só.
A grande frustração do governo de Raúl Castro é a ausência de medidas que apontem para a liberalização política do país. Concordo com Yoani Sánchez, a blogueira mais famosa da ilha, que compara o presidente ao comandante de um avião:
No esperamos ni piruetas en el aire, ni caramelos bajo la lengua que nos ayuden a soportar las turbulencias del viaje. Queremos que el piloto dé la cara, nos cuenten el itinerario y que nosotros decidamos la ruta. Que este discurso del sábado no se convierta en una exaltación a mantenernos en el aire, sino en un claro reporte de cómo y cuándo abordaremos otra nave.
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