terça-feira, 5 de agosto de 2008

Meu Irmão é Filho Único



Houve um tempo em que o cinema italiano era referência internacional e formou gerações de cinéfilos, encantados com ladrões de bicicletas, partigiani que lutavam contra fascistas ou com os heróis cômicos que povoam as impagáveis comédias do país. Não é fácil criar à sombra de talentos como Fellini, Rossellini, Antonioni ou Monicelli, e nas últimas décadas os filmes produzidos na bota foram de mediocridade assustadora. Agora, alguns críticos apontam para indícios de renascimento. Torço para que seja verdade, e quem sabe “Meu Irmão é Filho Único” seja um sinal promissor.

O belo filme de Daniele Luchetti conta a história de dois irmãos mergulhados até o pescoço na política extremista da década de 1960. A trama é narrada pelo caçula Antonio, dito “Accio” (aço) pelo hábito que possui desde a tenra idade de resolver suas discussões a tapa, em particular com o irmão Manrico, comunista, mulherengo e arrojado, não necessariamente nessa ordem. Accio passa uma breve temporada no seminário, mas troca a batina pela militância no fascismo, aderindo ao Movimento Social Italiano, o herdeiro das tradições de Mussolini. A lenha na fogueira entre os dois fratelli vem quando Accio se sente atraído pela namorada de Manrico, Francesca.



O filme é incrivelmente leve e bem-humorado, muito mais do que seria de se esperar para uma trama que envolve alto grau de violência política de extrema-esquerda e extrema-direita: há surras, bombas, tiros, assaltos, mas quase sempre num tom de chanchada, de um saudável não se levar muito a sério. A família de operários a qual pertencem os dois irmãos se comunica à base de gritos e pancadas e vivem em uma casa literalmente caindo aos pedaços, à espera de irem para um conjunto habitacional que nunca fica pronto, por artes da burocracia italiana.

Há pelo menos um personagem antológico no filme, o vendedor de toalhas e militante fascista Mario, que apresenta Accio às realizações do Duce e que será um mentor atrapalhado para o rapaz. Entre outros méritos, “Meu Irmão é Filho Único” é uma vitrine para o trabalho de dois jovens atores italianos: Elio Germano, o melhor em cena, que interpreta Accio com paixão e dedicação, e a bela Diane Fleri, no papel de Francesca.

Pena apenas que o diretor Daniele Luchetti pareça às vezes não saber muito bem o que fazer com um bom elenco. Sobretudo na parte final, ele adota um tom sombrio, de passar um sermão sobre a falta de perspectivas da geração que se bandeou para as Brigadas Vermelhas, algo que já feito com muito mais categoria em outros filmes (como “Bom Dia, Noite”).

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Mauricio!

Parece bem interessante o filme!
Não tenho o hábito de assistir filmes italianos. Talvez pelo fato de terem essa queda para comédia (gênero que confesso não ser fã). Mas a abordagem histórica parece ser bem feita! Ah! Consegui comprar o dvd do filme A História Oficial!! Ainda não assisti mas parece ser excelente também!

Beijos,

Isa.

Maurício Santoro disse...

Olá, Isa.

Há muitos bons dramas históricos italianos, também. Gosto especialmente daqueles dirigidos pelo Visconti (O Leopardo, Senso).

beijo