segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Argentina, Brasil e a Segunda Guerra Mundial



Neste setembro faz 70 anos que começou a Segunda Guerra Mundial e o jornalista Ariel Palácios aproveitou o gancho para publicar excelente série de textos sobre a Argentina durante o conflito, e a influência do nazismo no país. Inevitável pensar na comparação com o Brasil, pois as escolhas feitas pelas duas nações nesse período crucial foram fundamentais entender a divergência nas trajetórias posteriores de ambas.


A ascensão de Hitler foi contemporânea da “década infame” na Argentina, época de golpes militares e regimes que se mantinham no poder por meio de eleições fraudulentas. No Brasil, foi período de instabilidade e levantes armados de comunistas e integralistas, culminando com a ditadura do Estado Novo, que atravessou toda a guerra. Ambos os países tiveram surtos de antissemitismo, lá mais forte do que cá.


A Argentina manteve-se neutra na Segunda Guerra Mundial até 1945, quando declarou guerra à Alemanha – declaração meramente formal, condição para a entrada na ONU. A neutralidade se devia a razões contraditórias: o desejo de continuar a abastecer o império britânico com alimentos e a simpatia de muitos argentinos pelo nazi-fascismo. Também havia, claro, importantes correntes da opinião pública favoráveis aos Aliados. Ficou famoso o gesto do general Justo, ex-presidente do país, que foi até a embaixada do Brasil em Buenos Aires e ofereceu sua espada para lutar contra o Eixo.


Divisões semelhantes às que existiam no Brasil à mesma época. Mas a tradição diplomática brasileira, desde o fim do Império, era de proximidade e trabalho conjunto com os Estados Unidos (o principal mercado para as exportações de café e açúcar) culminando na “aliança não-escrita” durante a longa gestão do barão do Rio Branco como chanceler. As relações da Argentina com os americanos haviam sido sempre tensas, em função de rivalidades comerciais. Impressiona como os líderes políticos da Argentina falharam em observar a decadência de seu aliado tradicional, a Grã-Bretanha, ao longo da primeira metade do século XX, e como não conseguiram perceber que o mundo que se desenhava estaria sob a hegemonia dos Estados Unidos.




Os britânicos compreenderam bem os dilemas da liderança política argentina durante a guerra. Os despachos dos embaixadores da Grã-Bretanha à época continuam a ser modelos de análise política e moderação. Mas os Estados Unidos embarcaram numa cruzada ideológica contra a Argentina, interpretando as decisões de seu governo como adesão ao nazismo. Tensões bem exploradas por Perón ao longo de toda sua carreira, lançando a cartada nacionalista de defesa da soberania contra a ingerência de Washington. Uma longa história de desconfianças e intransigências entre o peronismo e os EUA, que até hoje não terminou.

10 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Impossível não comentar.

"Impressiona como os líderes políticos da Argentina falharam em observar a decadência de seu aliado tradicional, a Grã-Bretanha".

Tinhamos analistas, como o Alejandro Bunge, que viam que o modelo que tinha feito crecer tanto à Argentina em décadas anteriores não podia servir mais, mas o problema foi que os grupos mais poderosos do momento, os latifundistas da Pampa, eram os que controlavam realmente o governo e eram capaces de todo antes de deixar as relações preferenciáis com a Grã-Bretanha. Pense-se no Tratado Roca-Runciman de 1933.
Respeito ao nazismo, que tivo lamentáveis exponentes como Patricio Kelly, creio que em grande medida muitos sintiam estar mais cerca do Eixo do que dos Aliados pelo odéio tradicional aos británicos e, nissos anos, também aos estadounidenses. Reconheço (com pesar) que na minha família materna paterna estivam mais cerca do bando germano, não por antissemitismo, senão por anglofóbia.
Saludos!

Patricio Iglesias

Maurício Santoro disse...

Salve, dom Patricio.

Nenhum texto sobre a Argentina neste blog está completo sem seus comentários!

De fato, o Bunge se destaca pela perspicácia das análises, e em grande medida também o que Raúl Prebisch defendeu nessa época, embora ele tenha passado a maior parte da década de 1940 no ostracismo político.

O que eu lamento é que todo o caráter conflituoso da guerra tenha persistido por muitos anos, atrapalhando as relações posteriores da Argentina.

abraços

Marcelo L. disse...

Vale a pena pensar se Brasil com a assinatura hoje do tratado militar/científico/político com a França já se posiciona muito para o futuro pensando em uma possível perda de influência dos EUA no mundo.

Maurício Santoro disse...

Olá, Marcelo.

Vejo o acordo com a França mais na continuidade de uma tradição brasileira de buscar tratados com a Europa para equilibrar a influência americana.

Pesa muito a disposição francesa para transferir tecnologia ao Brasi, algo bem mais complicado no caso dos EUA, que inclusive sofrem restrições jurídicas para isso.

Abraços

Denny Thame disse...

Lembrete: tratado Roca-Runciman foi firmado em resposta a medidas protecionistas inglesas (só importariam carne da Commonwealth), por ele concedeu-se isenção tributária aos produtos ingleses em troca da Inglaterra continuar comprando carne argentina (desde que esta estivesse abaixo do preço do mercado).

Maurício Santoro disse...

Oi, Dani.

Sim, e no contexto da década de 1930, das políticas de "implora-a-teu-vizinho", quando a maioria das potências buscava tratados desse tipo em sua área de influência, e os EUA se fechavam pela lei Smoot-Hawley.

Abraço

James disse...

Here's a place for Argentina for travelers to stay when they travel there.


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Unknown disse...

Então quem foram os milhares de soldados Argentinos que voltaram mortos da 2 guerra, soldados que lutaram ao lado dos nazistas?

Unknown disse...

Então quem foram os milhares de soldados Argentinos que voltaram mortos da 2 guerra, soldados que lutaram ao lado dos nazistas?

Unknown disse...

A Argentina apoiava antes durante e pós a guerra o Nazismos, tanto e que vários criminosos de guerra viveram morreram e foram capturados pós a guerra no país da Argentina