sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Onda



Outro dia eu conversava com uma amiga sobre o ótimo momento do cinema alemão, com filmes que discutem o trágico passado do país – o nazismo, a cisão durante a Guerra Fria (“Adeus, Lênin”, “A Vida dos Outros”) e o mal-estar atual, no qual a prosperidade material convive com o esvaziamento das utopias (“Edukators”). “A Onda” é mais um bom exemplar da série. Embora seu roteiro seja um tanto mais esquemático que as outras produções que mencionei, também vale um bom debate sobre o espectro dos fanatismos.

O filme é um remake de um original americano da década de 1980, e ambos foram baseados em um caso real ocorrido nos Estados Unidos. Resumidamente: um professor de escola secundária realiza uma oficina sobre o totalitarismo com seus alunos. Entediados, resolvem adotar alguns dos métodos de propaganda e mobilização do nazismo e a brincadeira logo escapa ao controle.



A grande sacada do roteiro é perceber como a participação em movimentos que apelam ao instinto de grupo supre as necessidades emocionais e preenche as carências de jovens com problemas de adaptação – e qual adolescente não se sente assim? Vemos como a moça que tem vergonha de suas roupas mais pobres encontra satisfação ao vestir um uniforme – mesmo que seja jeans e camisa branca – que a iguala aos colegas. Ou como o rapaz desajustado, com uma família desestruturada, mergulha na possibilidade de finalmente se sentir parte de algo. E acompanhamos aqueles que se unem à equipe porque buscam companhia ou querem ir a festas.

O elenco do filme é muito bom, com um grupo de jovens atores muito convincentes em seus papéis – bem mais, por exemplo, do que na maioria dos dramas americanos ambientados em escolas secundárias. Jürgen Vogel também está excelente como professor roqueiro, que gosta de Ramones e simpatiza com o anarquismo, mas aos poucos releva uma assustadora tendência para líder autoritário.

A mensagem do filme me fez lembrar o Albert Camus de “A Peste”: o germe do fascismo está em todos nós, à espera de despertar para assombrar outra cidade feliz.

2 comentários:

Mário Machado disse...

como já disse por aqui, talvez pela arrogância adolescente (que todos tivemos) ou por ser mais fácil para alguns seguir do que pensar as repercursões éticas e morais de cada um de seus atos, mas parece conviver no ser-humano o desejo de liberdade e o desejo de pertencer.

Aspirações legítimas que se conduzidas de maneira desastrosa ... bom temos ai o século XX pra nos mostrar o que acontece, na verdade todos os séculos tem seus exemplos do perigo que é seguir sem questionar.

No final acaba que essa mistura de cetismo e preguiça do Brasil, nos poupou de muitas coisas. Também, em muita coisa ruim contribui, mas não imagino a junventude brasileira, deixando de ir a um carnaval, micareta ou coisa assim pra seguir um líder....

E acho bom que seja assim. Acho que vou criar confusão pra mim..aahuahau.

Maurício Santoro disse...

Salve, Mário.

Fiquei pensando se seria possível uma versão brasileira do filme "A Onda" e acho que não. Alguma coisa por aqui impede a estrutura rígida necessária para a formação desse tipo de grupo, ao menos na escala do que ocorre na Alemanha.

Mas acho que seria viável uma adaptação da história para um nível local, como uma gangue de vizinhança. Bem, afinal, eu moro em Brasília!

Abraços