sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Qual Democracia?



No mesmo dia em que discursou na ONU exigindo a volta da democracia em Honduras, o presidente Lula se reuniu com seu homólogo Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, que se mantém no poder após eleição marcada por acusações de fraudes, violência, prisões e torturas. Lula creditou as denúncias sobre irregularidades no voto a maus perdedores, e renovou o convite para que Ahmadinejad visite o Brasil.

Com freqüência meus amigos na Argentina e no Chile questionam a política externa brasileira no que toca à promoção da democracia e à defesa dos direitos humanos. Fazem o contraste entre a participação intensa de seus países nos fóruns internacionais com as posições de obstrução a investigações e sanções, adotadas pela diplomacia do Brasil, que afirma preferir o “engajamento construtivo”.

Os interesses políticos e econômicos na África e na Ásia levam o Brasil a colocar os assuntos humanitários em segundo plano, para não melindrar os aliados que busca nas rodadas da OMC ou na campanha pelo assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Essa postura vem desde a ditadura militar, foi menos acentuada sob Collor e Fernando Henrique Cardoso, mas voltou à tona com a ênfase de Lula nas relações sul-sul.



Mas os tempos mudaram. General Geisel, saia deste corpo, que ele não te pertence: a democratização da sociedade brasileira, a abertura econômica e a expansão das telecomunicações ampliaram o número de atores sociais envolvidos com a política externa, e muitos deles valorizam temas de direitos humanos, opondo-se às posturas do governo. O Itamaraty optou por não incomodar a ditadura de Robert Mugabe no Zimbábue, mas os sindicalistas pressionam em solidariedade a seus colegas perseguidos no país. Lula trata Ahmadinejad com honras, mas sua visita ao Brasil enfrenta resistência de grupos (judeus, baha´i, homossexuais) que condenam as violações de direitos humanos no Irã.

A política externa brasileira precisa estar conectada aos anseios e valores da sociedade. O Brasil não é a China ou a Rússia, que podem prescindir de considerar importantes os assuntos humanitários. Infelizmente, a democracia brasileira ainda não se encontra tão consolidada quanto as da Europa Ocidental ou as de algumas nações de sua vizinhança continental (Argentina, Chile, Costa Rica, Uruguai).

Mesmo nessa escala imperfeita e intermediária, o país pode ter uma diplomacia mais afinada com ideais progressistas, que priorize a estabilidade democrática na América Latina, com a exclusão de apoios a grupos armados e caudilhos autoritários. E adote equilíbrio nas alianças na África, priorizando relações com Estados moderados (África do Sul, Benin, Gana, Libéria) e mantendo distâncias de regimes asquerosos (Gabão, Líbia, Sudão, Zimbábue). A recente visita de Obama à região foi exemplar nesse aspecto.

32 comentários:

André Egg disse...

Maurício,

qual o critério para afirmar que a democracia no Brasil não esteja tão consolidada como as de Argentina, Chile, Uruguai ou Costa Rica?

Não que eu ache que a democracia brasileira seja grande coisa, mas realmente não vejo o que seja mais democrático nos vizinhos.

Somos farinha do mesmo saco. Recém saídos de regimes autoritários. Aliás, neste quesito a democracia no Brasil é até mais consolidada.

Talvez você esteja pensando em indicadores sócio-econômicos? Taxas de pobreza e analfabetismo? Distribuição de renda?

André Egg disse...

"O Brasil não é a China ou a Rússia, que podem prescindir de considerar importantes os assuntos humanitários."

Coloca os Estados Unidos em primeiro nesta lista. Um bom exemplo de forte democracia interna (mas longe do ideal), com nenhuma atenção para defesa dos direitos humanos na política externa.

Aliás, será que as sociedades mais democráticas demandam mesmo direitos humanos? Ou isso é uma demanda de minorias progressistas?

Tendo a desconfiar que a ascenção da xenofobia na Europa não coloque o velho continente tão em vantagem...

Maurício Santoro disse...

Salve, André,

Meu critério principal para afirmar a primazia democrática de outros vizinhos sul-americanos é sua rejeição às ditaduras militares. No Brasil, o período autoritário ainda é visto com simpatia por muitas pessoas, que o associam a crescimento econômico, segurança e estabilidade.

O tema dos indicadores sócio-econômicos também pesa - países educados quase nuncam descambam para ditaduras - e nesse sentido, novamente, os vizinhos nos dão um banho. Temos muito o que aprender e evoluir.

Discordo de você quanto aos EUA. Democracia e direitos humanos importam muito para a população do país e também influem em sua diplomacia. Naturalmente, as contradições entre os interesses de uma grande potência e seus valores são muito grandes, mas isso não significa a ausência dessas preocupações. Em particular na sociedade.

Abraços

Marcelo L. disse...

Prezado Mauricio,

Acredito que essa dúvida todos nós temos, acho que aqui mesmo já escrevi que é difícil dizer por exemplo que o Irã ou Israel são democracias, mais me parece que vivemos em um mundo de onitorrincos qual "reino" eles são vai da vontade do freguês, mesmo nos EUA de Bush teve eleição fraudada e leis que não dignas dos regimes iraniano e israelense.

Mas, para mim é clara essa nova diretriz do Itamaraty que deve mudar muito pouco seja quem for o próximo presidente, a agenda "imposta" para negociações privilegiou até o momento a América Latina como um todo (sei que vc já deve ter lido, mas deixo o link
http://www.nuevamayoria.com/index.php?option=com_content&task=view&id=1791&Itemid=51).

Com essa agenda vasta, discute-se vários temas que são importantes até por que parte de um organismo multilateral que é a OEA, vêm até com a perspectiva de sermos no futuro um grande bloco comercial, ou quem sabe em uma fase posterior algo como a União Européia.

Quanto a Ásia e África, o foco esteja mais voltado para trocas econômicas e científicas. Tirando o caso de Israel e Gaza não me lembro nenhum caso que algum governo brasileiro tenha colocado em sua agenda o tema dos direitos humanos fora do nosso continente.

O pior da política do Itamaraty em casos americanos é não discutir mais firme a questão dos direitos humanos em Cuba, claro que um lado pode dizer que Cuba não faz parte da OEA e não tem a obrigação "legal" de seguir os memos tratados de direitos humanos, sim é verdade, mas se o Brasil quer não ter dor de cabeça mais para frente quando a Ilha terá fortes investimentos de firmas tupiniquim, é bom já começar a pensar em uma agenda mais ativa de mudanças.

Democracia é sim um fator a se discutir, mas como ainda saindo da casta discuti-la em âmbito multi-lateral com quem tenha tratado de direitos humanos conosco, já que nossa área de influência deve ser do agora do Sul do México até a Patagonia, quando nossos sócios argentinos tiverem melhor, provavelmente daremos o próximo passo juntos.

COncluindo: O maior perigo para o Brasil é cairmos em tentação de alienar nossos hermanos ou achar que serão sócios menores nesse novo passo que demos. As discussões sobre direitos humanos e democracia discute onde se é sua esfera de influência no caso brasileiro/Argentino, América Latina menos o México.

Maurício Santoro disse...

Salve, Marcelo.

Acho que precisarei de outro post para comentar todas as suas análises, mas adianto que concordo com você em relação à Cuba. O Brasil poderia ter papel mais firme sobre os direitos humanos na ilha, ao menos ter evitado situações como a extradição dos boxeadores durante os jogos pan-americanos.

O Brasil tem atuado com certo destaque no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em temas como Sudão, Zimbábue e outros conflitos, mas essa ação tem se dado de maneira frágil e confusa. O país quis evitar sanções até contra a Coréia do Norte!

Acredito que poderíamos ter uma ação mais concertada com Argentina e Chile, e avançar em muitos da agenda de DH. Meu palpite é que essa será uma tendência da política externa, embora mais por mudança gradual do que por grandes reviravoltas.

Abraços

Helvécio Jr. disse...

verdade jogador,

No Brasil houve uma transição planejada pelo smilitares sem stasis em grandes proporções ou revoluções sociais. Isso nos torna hoje mais tolerantes diante de visões turvas como as que Lula apresenta em suas bravatas de apoio a Kadaf e Ahmadinejad.

A política externa dos EUA se preocupa sim com a matéria de DH. ALiás, foi a grande promotora do regime internacional no pós-guerra, vide as conferências de 1966 e de 1993. A diplomacia de Bush que manchou um pouco essa história, mas Obama voltou a demonstrar o papel tradicional dos EUA nessa área. Entraram no conseho de DH da ONU.

Acho lamentável essa posição dúbia da diplomacia rasileira em um tema tão essencial. Como você bem recordou, não temos um status de grade potência para nos darmos ao luxo de negligenciar tal agenda.

carlos disse...

salve, santoro,

pegou pesado hoje, hein?

fiquei surpreso com sua análise pessimista da política externa posta em prática nesses sete anos do governo do presidente lula. nisso o lula cumpriu o que prometeu. transformou-se num mascate e ganhou o mundo. diversificou nosso comércio exterior e pode, com isso, transformar o tsunami numa marolinha, não é mesmo? as publicações estrangeiras e os organismos internacionais atestaram o sucesso. e a propósito, só a grande imprensa tupiniquim, salvo raríssimas exceções,apostou no fracasso. não passou, infelizmente, da opção partidária de cunho conservador pra não dizer coisa pior.

engraçado, onde anda a moçada do twitter das eleições do irã? o povo hondurenho está acossado pelos golpistas de lá e eles nem se manifestam do leblon ao morumbi. que coisa?!

volto a afirmar, caro santoro, o presidente lula aposta na democracia e isso é um processo, por sinal, humano, logo, histórico, não técnico e determinístico.

por fim,o comentário do marcelo l. coincide, em linhas gerais, com aquilo que penso. já o seu, creio ter um viéis conservador que muito me admira num jovem tão bem preparado intelectualmente. fiquei chateado, mas o debate é esse e vamos em frente que a vida não para como disse o cazuzaa.

abçs

carlos anselmo -eng° - fort-ce

marcos disse...

Nessa você pisou fortemente na bola. Argentina (do Clarin) com democracia mais

E o seu critério em resposta ao André também é muito furado, conheço muito mais chilenos adoradores de Pinochet do que brasileiros realmente saudosistas do sistema política.

Tenho absoluta certeza que você sabe melhor o motivo da maior 'simpatia' brasileira pelos tempos da ditadura (dica: comparativamente menos violenta e mais bem sucedida economicamente).

Maurício Santoro disse...

Salve, Helvécio.

É verdade, a transição gradual da ditadura para a democracia no Brasil manteve uma continuidade grande também no que toca à relutância da política externa em lidar com temas de democracia e direitos humanos. O contraste com a Argentina e o Chile não poderia ser mais marcante. E acho que a sociedade brasileira já se tornou madura o suficiente para diminuirmos a lacuna com os hermanos.

Caro Carlos,

Este post trata apenas da promoção da democracia e dos direitos humanos, e não do aspecto do comércio exterior, que de fato melhorou muito - mais do que triplicou na última década, e os parceiros comerciais se tornaram mais diversificados. Ainda que haja alguns problemas sérios, em particular o aumento da dependência das exportações de commodities.

Num panorama geral da política externa de Lula, minha avaliação é que ela está correta em reforçar os laços com os países em desenvolvimento, mas a meu ver o pêndulo foi em excesso para essa direção. Teríamos muito a ganhar buscando trabalhar de modo mais próximo aos EUA e à União Européia em diversos temas, em particular direitos humanos, democracia e meio ambiente. No G20 financeiro, já vemos isso acontecendo.

Minha experiência pessoal no governo federal me deixou com um certo receio das visões de mundo de muitos dirigentes do PT, que continuam a se pautar por ideologias e visões políticas da década de 1970, marcadas por anti-americanismo e terceiro-mundismo. Talvez fizesse sentido gritar vivas a Mugabe e Kadaffi naquela época, hoje é um anacronismo perigoso, que infelizmente continua a ser praticado.

Como você bem lembrou, Cazuza cantava que o tempo não pára, mas para muitos de nossos líderes políticos vale a observação do poeta, na mesma canção: "Suas idéias não correspondem aos fatos".

Abraços

Maurício Santoro disse...

Caro Marcos,

Não penso que o governo argentino seja mais democrático do que o brasileiro - o caso Clarín é um exemplo, bem como a intervenção no Indec - mas a sociedade argentina é bem mais oposta às ditaduras militares do que a brasileira.

Nosso país continua a se pautar por muitas posturas nostálgicas com relação à ditadura. Mesmo na esquerda. Líderes petistas tecem loas ao general Geisel, de uma maneira que seria inimaginável em outros países sul-americanos.

Por exemplo, quando eu vivia na Argentina, minha senhoria era uma exilada chilena. No dia em que Pinochet morreu, tomamos um café para celebrar e ela criticou a reação de Lula, que havia elogiado o regime militar brasileiro como uma "ditabranda" em comparação à de Pinochet.

Nas avaliações internacionais, como a do Latinobarômetro, a adesão brasileira aos valores democráticos é baixa, às vezes menos do que 50% da população. Nos países que citei, costuma ser maior do que 70%.

Com tão pouco apreço pela democracia, inclusive na esquerda, não me surpreende que tenhamos uma política externa tão simpática a caudilhos, ditadores e genocidas. Mas há um campo de luta, que vale ser ampliado.

Abraços

carlos disse...

salve, de novo, santoro,

o governo brasileiro do presidente lula nunca, me desculpe contrariá-lo, se distanciou dos esteites ou da comunidade européia. fex foi, acertamente, multiplicar seus parceiros.

creio,que não temos nenhum "destino manifesto" que supostamente são detentores os estados unidos. o que fizemos foi participar intensamente de todos os fóruns multilaterais existentes e nos inserirmos politica e economicamente no mundo. tivemos, assim, nossa importancia reconhecida. basta consultar as instituições e a mídia internacionais. um fato inconteste, quer queiramos ou não.

como cidadão, não acredito em salvadores da pátria. no ungido pelo carisma para nos levar à terra prometida. isso é muito próximo de fascismo. lula, o conciliador, por excelência, tem acertado em vislumbrar oportunidades de inserção do brasil no mundo. daí, o desespero dessa parte da elite nacional, retrógada, entreguista, americanhalhada,anti-américa latina e que não acredita na democracia. estadão, folha, abril, globo e assemelhados são os exemplos que confirmam a regra.

a sandice é tamanha que se indignam com aqueles dirigentes de paises demonizados pela matriz, ao se encontrarem diplomaticamente com o presidente lula, representante de um país livre e soberano. queriam o quê? que o lula metesse a mão na cara dessa moçada? o complexo de vira-lata ainda assombra a gente ... eu, hein?

o interessante é que a onu, a oea, a cee, e o raio que o parta elogiam a diplomacia brasileira e veem esses merval pereira e lampreia da vida meter o malho em nossa honrosa atuação no golpe de honduras. inveja mata e dá urticária, amigos.

por último, estarei aqui de novo quando a coisa amornar lá em honduras.

abçs

Helvécio Jr. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helvécio Jr. disse...

Vou me unir ao Merval e ao Lampréia...

O comentário do Maurício é factual. Não há nada ideológico nele. Qualquer um que tenha atuado na esfera estatal sabe da influência do Garcia, que tem uma cabeça pré-89, sobre a política externa lulista.

A discussão não precisa ser partidarizada no estilo Zé Dirceu defendendo Lulinha paz e amor durante o mensalão. Se é que havia algo a defender! Além disso, as OIs não tem entre suas funções elogiar a diplomacia deste ou daquele país. Mas a ONU, FMI, OMC, etc. elogiaram FHC também. Isso não muda em nada. Aliás, FHC foi até cotado para ser secretário geral da ONU.

Essa estória de EUA imperialista, imprensa contra Lula, a elite conspiradora é bem típica dos devaneios à la Galeano e sua visão de "nós, os coitadinhos da América Latina".
Aproxima-se também do chavismo. Voltaremos ao antiamericanismo contraproducente? Nem os militares estão mais nessa.

No fim, a imprensa tem sido benevolente em relação ao Luiz Inácio. O apoiou em vários editoriais e na Globo nesta semana a diplomacia foi elogiada. Ainda bem que existe espaços alternativos para criticar o lulismo-petismo.

E, por fim, não há registro na nossa história diplomática de um governo que tenha permitido o uso de uma de suas embaixadas para comícios políticos estimulando a guerrilha como o que Zelaya fez hoje.

Maurício Santoro disse...

Salve, Carlos.

O Brasil tem uma boa relação de cooperação com a União Européia em diversos temas técnicos ligados ao comércio exterior e ao diálogo científico e tecnológico, com divergências no tema do protecionismo agrícola. Mas me parece que poderíamos aprofundar o debate político de alto nível. Temos a excelente relação com a França, na agenda de Defesa, por que não ampliarmos a interlocução com Espanha, Reino Unido e Alemanha, numa aproximação que envolvesse direitos humanos e meio ambiente?

Há uma bela tradição diplomática brasileira em servir como ponte entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, e que é bastante próxima ao estilo conciliador do presidente Lula. Infelizmente, há no PT dirigentes com visões muito agressivas sobre relações internacionais, no limite das teorias da conspiração, e isso tem levado o país a perder oportunidades e escorregar em dircursos vazios.

Não acho bom que o Brasil prestigie o presidente do Irã após uma eleição tão controversa e violenta, e que o faça no mesmo momento em que o governo iraniano é colocado na berlinda até por aliados como a Rússia, em função de seu programa nuclear. O Brasil nada tem a ganhar com essa briga, um pouco de cautela não faria mal.

Grande Helvécio,

De fato, a "tomada" da embaixada brasileira em Tegucigalpa não tem precedentes na nossa história diplomática, e não consigo pensar em exemplos semelhantes nem nesmo nos momentos mais caóticos da política latino-americana.

É muito triste ver algo desse tipo acontecendo, em particular porque pode macular a idéia de que direitos humanos e democracia são importantes na política externa, devido aos abusos que a retórica oficial têm feito sobre o tema.

Os comentários do Lampreia sobre a crise estão muito bons. Afinal, ele lidou com mediações semelhantes, e talvez até mais duras, como no Suriname (quando era embaixador) e depois no Paraguai e na guerra Peru e Equador, já como chanceler.

Abraços
Maurício

Anônimo disse...

Deveríamos então esfriar as relações com Israel, após o massacre dos palestinos?

Mário Machado disse...

O Presidente nunca visitou Israel,e sempre se posicionou como favorável aos palestinos, então creio, que as relações com Israel correm normmalmente, nem quentes, nem frias, tendendo ao distanciamento.

Mário Machado disse...

Mauricio,

Tenho que parabenizar pelo texto por que evidenciou que não obstante suas simpatias e proximidade com movimentos sociais (pode ser até que vc se considere um homem de esquerda, irrelevante nesse contexto). Esse envolvimento não corrompeu seu senso axiológico.

Essa é a coisa mais dificil nas ciências sociais, fazer ciência e não engajamento, claro há quem creia que as ciências sociais são ontologicamente desprovidas de compromisso com a descoberta da verdade, então o engajamento é desejável.

De qualquer maneira um alento constatar que ainda há ciencia no Brasil.

Maurício Santoro disse...

Anônimo,

Não creio que nossas relações com Israel estejam quentes (para que necessitem ser esfriadas) e durante o conflito de Gaza houve declarações muito duras de dirigentes do PT contra os israelenses. Apareceu até um manifesto do partido criticando essas posições, lembrando que a posição tradicional do Brasil é pela convivência pacífica dos povos.


Salve, Mário.

A consciência e a análise crítica da realidade ainda são as melhores guias para nos orientarmos nessa selva obscura da política.

Estou bastante preocupado com as conseqüências das aventuras brasileiras em Honduras. Isso não é bom.

Abraços

athalyba disse...

"No fim, a imprensa tem sido benevolente em relação ao Luiz Inácio."

Nuuuuuuussa !!! Que imprensa o Helvecio lê ??? A imprensa helvética ???

(kkkkk não resistí à piadinha)

Helvécio Jr. disse...

Athalyba, mas você é um piadista, não resista às piadas...kkkk

No Jornal Nacional as matérias não criticaram o governo. Você viu?

Vai dizer que há um complô das elites contra o o Lulinha peace and love também é?

Murillo Victorazzo disse...

Interessantes os textos aqui. Mas gostaria de contestar alguns senões:
- É fato que a política externa americana sempre primou pela defesa dos direitos humanos? Parece que não foi Bush só que manchou essa marca. Ou já esqueceram do apoio norte-americano aos golpes e ditaduras na América Latina nas décadas de 60 e 70?

- Os editoriais do Globo nessa semana em momento algum apoiaram o refúgio do Zelaya na nossa embaixada. Nem acho até que devesse. Mas que mais me incomoda é o modo maniqueísta e reducionista da cobertura do Globo. A mesma cantilena de chavismo e anti-chavismo, de que a diplmacia estaria a reboque dos bolivarianos. Sabe-se que o caso é muito mais complexo do que isso.

- Até então o jornal havia apoiado o repúdio brasileiro ao golpe, no que concordo. Mas parece que, para criticar o fato novo do abrigo ao Zelaya, ele mudou de opinião. Criticar o ato do Itamaraty seria perfeitamente compreensível. Mas não posso concordar com o tom enviesado da coluna do Merval Pereira, que agora diz que estamos a reboque de uma "farsa chavista" e ,para isso, usa a opinião de um certo advogado e pasmem, do Wall street Journal, o jornal dos neocons, único a critica a posicão de Obama no caso.Por que não fala que o NYT, Washington Post, El País e todos demais das grandes potências apoiaram a postura de Obama, OEA e União Européia de repúdio ao golpe? Do modo que está se tratando agora o ocorrido parece que só o Brasil e Venezuela apoiam Zelaya. Deve-se frisar que nenhum páis ou orgão reconhece Micheletti. E buscar esclarecer o porquê. A ausência de entrevistas com especialistas em direito internacional ou RI nas matérias me chama atenção. Ou será que a comunidade internacional toda se tornou "chavista"?...Seria bom que se separasse o repúdio ao golpe, ou seja lá o nome que se dê, do "refúgio" na embaixada. Assim como retóricas ideológicas ultrapassadas de uma certo tipo de esquerda me incomodam, o mesmo se dá com as posturas do outro lado da moeda, tão ideológica ou polarizada quanto.

Murillo Victorazzo disse...

Não poderia deixar de dar mais uma opinião: como jornalista e certo conhecimento de mídia comparativa, me causa espanto falarem que a imprensa tem sido benevolente com o governo Lula...Estou longe de ser petista, (já votei em FHC, Lula e Cristovam Buarque), mas negar a realidade já é demais. Pode até ser que seja merecida - e muitas vezes é - mas não notar a oposição do Globo ao governo atual é demais. De cada 10 editoriais, 1 ou 2 são elogiosas, e geralmente relacionado à economia. Não vou fazer juízo de valor dessa postura oposicionista, mas que ela existe, existe...Frise-se, porém, que isso nada tem a ver com conspiração, é claro. Sobre o caso Honduras, em momento algum o JN foi elogioso como o Itamaraty. Fez matérias rápidas,como inevitável pela restrição de tempo, narrativas e pouco opinativas. Talvez o fato de não ser crítica seja, para alguns, já sinal de elogiosa..rs..

Helvécio Jr. disse...

Olá Murillo,

Concordo em linhas gerais contigo. Embora acredite que a tal "imparcialidade" não exista. Valores pessoais sempre atuam tanto na ciência quanto no jornalismo né!

Prefiro uma mídia mais crítica a uma mais governista.

Mas veja. A minha crítica é contra essa idéia de complô, conspiração, etc. De que somos os coitadinhos latinos, de que há perseguição das elites contra o Lulinha de origem pobre.

Mário Machado disse...

Bom a Veja essa semana bate duro no Itamaraty, portanto veremos que agora será "cool" pra boa parte dos blogueiros defender o Itamaraty.

A América central só interessa aos EUA diretamente grande parte da chamda "comunidade internacional" (falta definição do que seria) viu um presidente de pjamas e formou opinião.

Se o Merval acha que o Brasil é ator do CHávez tem muita gente que acha com alguns elementos até que o Chavez é na verdade títere do Brasil...

Sem entrar em teorias da conspiração ou coisa assim o fato é que não podemos tratar duas coisas separadas e tres ações distintas como uma só.

As coisas a deposição (golpe) de Zelaya e o Papel Brasileiro agora abrigando-o.

As ações são sua deposição e exilio, seu retorno temerário e o abrigo na embaixada.

tudo acaba sendo um pacote só? pode até ser mas cada uma dessas etapas tem um peso e uma avaliação.

Eu como um democrata entusiasta lamentei o fato de o processo não ter se dado no devido espaço legal, com direito ao controverso.

Acho temerária a volta dele pq expõe o país (já enfraquecido pelas violentas maras) ao risco de ruptura.

E o abrigo nas condições que se dá é uma clara violação dos institutos constitucionais de auto-determinação e não ingerencia.

André Egg disse...

Os EUA não apoiaram só as ditaduras na América Latina (como forma de evitar uma nova Sierra Maestra - risco bastante real).

Apoiaram ditaduras sempre, onde quer que lhe fossem favoráveis. Ou guerrilhas onde os governos não lhe fossem simpáticos.

Realmente me soa muito pueril apresentar os EUA como paladino dos direitos humanos ou da democracia. País com tantos problemas de violência racial, negação de direitos a minorias, abuso de poder econômico (sem nenhum mecanismo contrapartida para o sistema eleitoral).

Não vejo como apoiar Musavi no Iran seja lutar por direitos humanos. Será algo melhor que Ahmadinejad?

A questão é se deve-se ou não isolar países "infratores" em questões de direitos humanos.

E acho que não existe receita única. No caso do Apartheid sul-africano parece que o isolamento internacional ajudou.

Mas em todos os outros casos que conheço, o isolamento aumenta o poder dos ditadores.

Afinal, diplomacia é isso, não? Negociar com crápulas mesmo. E creio que no caso do Brasil, os interesses nacionais devem ter prioridade na agenda. A pressão por direitos humanos pode ser bastante sutil.

Alguém aí se lembra do brasileiro que foi expulso como funcionário da ONU por querer inspecionar as armas químicas dos EUA?

Maurício Santoro disse...

Salve, Murilo.

Bom, são duas questões principais que você aborda:

- Crise de Honduras como Chavismo/Anti-Chavismo: Acho inevitável que a cobertura da imprensa adote essa linha, uma vez que o pivô do golpe contra Zelaya foi sua tentativa de implementar no país um modelo político próximo ao da Venezuela. No que toca à ação do Brasil, acredito ser preciso distinguir entre os elementos corretos (o apoio à restauração da democracia) e os errôneos (intervenção nos assuntos internos de Honduras, com Zelaya usando a embaixada brasileira para fazer proselitismo político).

Honduras não é um país relevante para o Brasil e minha avaliação é que a reação do Itamaraty aos acontecimentos na América Central tem sido exagerada, acima de seus impactos para os interesses brasileiros. De certo modo, a chancelaria entrou a reboque da agenda chavista, com conseqüências negativas.

- EUA e DH:

Direitos humanos são importantes na política externa americana, mais do que na brasileira, mas isso obviamente não significa que a diplomacia dos EUA seja defensora incondicional do tema. Os conflitos entre segurança (combate ao comunismo, regimes hostis etc) levaram os Estados Unidos a apoiar diversas ditaduras e regimes asquerosos. Pesosalmente, prefiro as abordagens diplomáticas do Canadá e da UE em seu tratamento de DH.

Abraços

Maurício Santoro disse...

André,

O movimento democrático no Irã faz uma enorme diferença com relação ao governo estabelecido pela Revolução Islâmica. É provavelmente a rebelião política mais importante do Oriente Médio nos últimos 25 anos, e uma das mais relevantes no mundo. O candidato à presidência é um dissidente do regime conservador, mas sua base de apoio social é extremamente relevante e me frustra ver o deboche com que o presidente Lula trata sua mobilização, pois os iranianos lutam o mesmo combate que Lula travou contra a ditadura nos anos 70 e 80.

Com relação à OPAQ, o dirigente a que você se refere é o embaixador brasileiro José Maurício Bustami. Contudo, ele foi exonerado porque estava conseguindo levar o Iraque à organização, e a partir do momento que o país entrasse na fiscalização da instituição, seria mais difícil para os EUA construírem o argumento da guerra preventiva pela posse de armas de destruição em massa. Após o conflito, evidentemente, ficou claro que a ação da ONU havia sido eficaz para desarmar o regime de Saddam Hussein.

Abraços

André Egg disse...

Perfeito quanto aos EUA e ao Bustami.

Mas pra mim faz mais sentido comparar Musavi a Sarney, afinal ele já foi governo, na mesma linha dura, é do clero muçulmano, também matou centenas de opositores nos anos 80, etc. Ou seja, não é uma oposição ao regime, é uma disputa interna. Quanto à fraude nas eleições há sérias controvérsias.

Voltando à questão da AL. Se e burrice falar em ditabranda no Brasil, também aqui não foi bombardeado o palácio do governo com o presidente dentro. Em relação a Chile, Uruguai e Argentina, têm problemas sérios com a democracia sim. Inclusive não conseguem dar oportunidades viáveis para seu próprio povo, com um percentual altíssimo da população procurando melhor sorte no Brasil, Espanha ou EUA.

A principal força política popular na Argentina (peronismo, que controla inclusive os sindicatos) sempre foi abertamente pró-nazista.

No Chile, os camisas-pretas faziam assassintos nas ruas a rodo, antes e depois de Allende. Os movimentos populares (trabalhadores das minas, p. ex.) não conseguiram nem apoiar o governo socialista, provocando locautes para pressionar por mudanças mais à esquerda, e jogando o país nas mãos do Pinochet (com apoio dos EUA).

Para mim a experiência da esquerda chilena e argentina sempre me vem à mente quando alguém critica o conservadorismo praticado por Lula. De leve com as mudanças, para não por tudo a perder.

Maurício Santoro disse...

Caro André,

Você está severamente enganado quanto ao Irã. O que está em jogo por lá é uma fissura enorme no regime islâmico. O movimento democrático vai muito além do candidato (que de fato, tem muitas semelhanças com Sarney) e resultou inclusive num inédito conflito entre a liderança política e a elite clerical de Qom. As fraudes foram disseminadas, bem como prisões ilegais e torturas.

Sua visão sobre o Cone Sul é igualmente equivocada, além de preconceituosa com os peronistas - o que houve foi o apoio de facções significativas do Exército aos nazistas, na década de 1940. E um antissemitismo arraigado entre os militares, que se revelou com força na ditadura de 1976-1983.

Apenas o Uruguai possui um percentual significativo de cidadãos vivendo no exterior, por razõe ligadas às crises econômicas, e não a problemas na democracia. E o Brasil tem 4 milhões de cidadãos nas mesmas circunstâncias, mais do que toda a população uruguaia!

Repito meu argumento: as nostálgicas declarações de amor à ditadura feitas com frequencia no Brasil, inclusive por líderes de esquerda, seriam inimagináveis anos outros países do Cone Sul. Isso para não falar do domínio de muitos bairros pobres brasileiros por grupos do crime organizados, que não encontra paralelos nas nações que mencionei.

Abraços

André Egg disse...

A questão do crime organizado e da violência endêmica é um sério problema para a democracia no Brasil. Creio que não tem mesmo paralelo no continente.

Mas os 4 milhões de brasileiros são pouco mais de 2% da população. Do Uruguai é muito mais. Creio que da Argentina também, mas não tenho os dados. A falta de oportunidades econômicas também é um entrave à democracia.

Não acho que seja uma visão preconceituosa do peronismo, não. Era mesmo a diplomacia do governo Perón. Assim como os EUA foram o berço do eugenismo, tiveram campos de concentração e aproveitaram bastante do pessoal da Gestapo depois da guerra.

Acho que o mundo em geral continua com sérios problemas para desenvolver uma democracia que tenha como base o respeito aos direitos humanos. Países nórdicos e o Canadá realmente estão muito à frente nessa questão, mas desconheço como se comportam na política externa.

Também acho, como você, um grande anacronismo que a ala stalinista do PT seja tão importante nos setores que formulam estratégias de governo.

Marcelo L. disse...

Prezado Mauricio,

Qual seria o acordo comercial que o Brasil pretende fazer com o Irã? Li que seria na área de petróleo, mas os detalhes são vagos em todo lugar que saiu...em termos de valores pareciam muito bons ou não?

Maurício Santoro disse...

André,

Sem dúvida problemas econômicos e sociais são entraves à democracia, mas lembre-se que o IDH brasileiro é bem inferior aos dos vizinhos do Cone Sul, que além disso tem menor índice de desigualdades - embora a Argentina e o Chile tenham piorado muito nos últimos anos.

Marcelo,

Trata-se de um acordo pelo qual o governo brasileiro financiará negócios de empresas daqui com o Irã. É uma prática bastante comum em comércio exterior e o presidente Lula tem cobrado dos órgãos públicos sua extensão para países da África e do Oriente Médio, onde firmas privadas relutam em fornecer seguros a essas atividades, devido ao medo da instabilidade político-econômica.

Abraços