sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Copenhage



A Conferência de Copenhage sobre Mudança do Clima prossegue até o dia 18, mas as linhas de batalha já estão demarcadas de forma clara: os países desenvolvidos querem que as nações em desenvolvimento arquem com parte do fardo para reduzir as emissões de gás carbônico, mas estas aceitam apenas adotar compromissos voluntários, que não sejam vinculados a um tratado internacional, e querem que os Estados ricos paguem a conta. Há poucas possibilidades de que se consiga um acordo abrangente, em grande medida devido às restrições da crise internacional, mas também pela relutância dos dois principais poluidores, China e EUA.

O principal referencial diplomático é o Protocolo de Quioto, adotado em 1992, que expira em 2012. Ele estabeleceu o princípio de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ou seja: os dois grupos reconhecem o dever de agir para combater a mudança climática, mas apenas as nações ricas adotaram metas obrigatórias. E nem todas: os Estados Unidos permanecem de fora, e não está claro se haverá mudanças signicativas vindas de Washington. Em abril deste ano, o governo Obama declarou as emissões de gás carbônico um “risco para a saúde”, o que aponta para medidas mais duras para combater o problema. Contudo, o plano que apresentou ao Congresso é muito modesto e prevê diminuição de apenas 5%, se tomamos por base os dados da década de 1990. Muito aquém do necessário.

Há polêmicas entre os cientistas sobre a extensão dos compromissos que o problema exige, mas as estimativas mais comuns oscilam entre 25% e 40% de redução até 2020. Se isso não ocorrer, as temperaturas podem aumentar entre 1 e 6 graus C nas próximas décadas. A escala da divergência é grande, mas mesmo expectativas moderadas significam dificuldades monumentais para adaptar países às novas condições ambientais.

As nações em desenvolvimento, em particular os BRICs, adotaram posturas bem mais flexíveis do que em épocas anteriores. China, Índia e Brasil aceitam reduções em torno de 40%, embora recusem compromisos legais e demandem transferência de tecnologia limpa e auxílio financeiro. O Brasil acena com promessas de combater o desmatamento na Amazônia e com o desenvolvimento dos biocombustíveis, apesar de comentaristas céticos observarem que a exploração do pré-sal continua a amarrar a economia brasileira à energia fóssil. A Rússia é um caso curioso: o colapso do Estado soviético reduziu muito as emissões de carbono do país, de modo que Moscou está ironicamente bastante à frente do que foi acordado na ONU, e agora quer compensações por isso.

Outro tema polêmico é quanto custará adaptar a economia global para combater as emissões de gás carbônico. A União Européia apresentou o pacote mais ambicioso, cerca de US$150 bilhões por ano, mas certas estimativas apontam que seria necessário quatro vezes mais do que isso. Num cenário de crise generalizada, é claro que mesmo que seja negociada alguma quantia, ela será bem menos do que isso.

Boa sorte para os delegados em Copenhage, e para todos nós que vivemos neste planeta. Precisamos.

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