segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
O Brasil em Copenhage
A Conferência foi um fiasco, uma decepção mesmo para os que tínhamos poucas expectativas. Mas o Brasil se saiu bastante bem, atuando de maneira construtiva. Duas constatações: o Meio Ambiente ganha força na agenda política brasileira (doméstica e externamente) e a diplomacia do país brilha quando encampa teses de direitos humanos.
Começando pelo primeiro ponto: a delegação brasileira foi encabeçada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, o que mostra a importância política de Copenhague. Tradicionalmente, em fóruns desse tipo, tal posto cabe ao ministro do Meio Ambiente. O titular brasileiro da pasta, estava lá, mas em geral foi desautorizado e corrigido por Dilma.
A ministra tem pouca familiaridade com o tema e em geral o tratou de forma hostil, como nos diversos conflitos que opuseram o Ibama e a Casa Civil por exigências ambientais que retardaram obras do PAC. Caso da preocupação com a biodiversidade no Rio Mandeira, atrasando a contrução das usinas na área, e da espécie rara de perereca colocada em risco pelo arco rodoviário no Rio de Janeiro.
A conversão de Dilma se explica em função da candidatura da senadora Marina Silva, a líder ambientalista mais respeitada do Brasil, cujo período como ministra do Meio Ambiente do governo Lula foi um acúmulo de decepeções e frustrações. Ironicamente, ela tem mais influência sobre a política pública na oposição, fazendo seus colegas se esforçarem para provar seu compromisso com o assunto. Como coerência política não se improvisa, o resultado foram diversas gafes de Dilma, em particular aquela em que chamou o Meio Ambiente de “ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Veja o vídeo, abaixo:
Dois dos pré-candidatos da oposição também estiveram presentes. Marina e o governador de São Paulo, José Serra. Naturalmente, aproveitaram a ocasião para criticar o governo e apontar as contradições da posição brasileira. Um exemplo, levantado por Marina, foi a recusa do Brasil em contribuir com o fundo que ajudará os países mais pobres do mundo a combater o aquecimento global. Era boa ocasião para que o governo brasileiro assumisse a liderança nesse ponto importante e construísse pontes para envolver de modo mais intenso os as nações mais frágeis. Lula sinalizou que isso poderia ocorrer, Dilma disse que não. Mais um exemplo da falta de coordenação entre as principais autoridades do país.
Apesar dos problemas, Lula saiu-se muito bem, foi aplaudido na Conferência e bastante elogiado pela imprensa internacional, que ressaltou seu domínio do tema e capacidade de síntese das principais questões em discussão na Conferência. Como destaques negativos, a incapacidade dos Estados Unidos e da China em chegarem a consensos mínimos para avançar a agenda, e o papel patético desempenhado pelos anfitriões dinamarqueses, que num dado momento chegaram a tentar negociar um acordo às escondidas dos EUA.
Os maiores desafios para o Brasil na questão do Meio Ambiente não virão do plano externo, mas da política doméstica. Em particular, os obstáculos colocados pela bancada ruralista no Congresso, já que muito do desmatamento no país vem da pecuária.
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5 comentários:
Prezado Mauricio,
Tento nunca discutir política nacional por que é sempre complicado principalmente no fim de ano, quando temos as famosas com amigos que trabalham para governos, mas no fundo a Marina que pese todo meu respeito, o discurso é fantasioso, dar dinheiro em fundo perdido é alimentar a corrupção via Ongs ou se for para fundo controlado pelas economias centrais é ajudar as políticas externas delas com o nosso dinheiro.
Sobre fundo do Lula me parece que é a política pensada do Itamaraty para África de intregrar-se através de concessões financeiras e tecnológicas (via embrapa principalmnete) para etanol tornar-se um produto de multiplos países e portanto viável (já que não será um monopólio) do ponto de vista ambiental não sei se não desastre, mas...
Em síntese a Marina bateu em uma desafeta, os governadores passearam, a Dilma foi apresentada para comunidade internacional, e o Lula fez um discurso para platéia que queria agradar.
No mais, com tantas divisões e interesses na sociedade brasileira prestes a ter uma eleição pelo menos não saíamos massacrados e ganhamos até aplausos, sinceramente não acreditava nisso, mas de tudo que li não vi uma proposta exequivel todos os países e ONGs jogaram por poder, e o bem do planeta foi lembrado nos discursos apenas.
Abs e feliz natal...
Salve, Marcelo.
A questão da Embrapa e do etanol é um bom ponto, mas o discurso do governo brasileiro ainda é muito frágil com relação ao desmatamento, que tem sido um problema sério ao Brasil.
Outra questão é que o país sempre afirma ser a favor do fortalecimento da ONU. Essa é boa ocasião para colocar a doutrina em prática. Programas e agências como PNUD, PNUMA e UNCTAD podem ajudar bastante na questão.
Dilma tem acompanhado o presidente em outras viagens e já começou a fazer declarações sobre política externa. Ainda não li nenhuma análise sobre como ela se saiu aos olhos dos estrangeiros em Copenhage, minha impressão inicial é que foi abafada pelo sucesso de Lula.
Abraços
Grande Maurício, tudo bom?
Concordo com você quando diz que muito dos avanços na matéria virão das políticas domésticas. Assim à primeira vista, gostei bastante da iniciativa do Arnold Schwarzenegger ao pelitear uma conferência similar, mas no âmbito de cidades a ser realizada na Califórnia.
Agora pergunto, como especialista em Políticas Públicas, como acredita que nós cariocas nos sairíamos? Como especialista em RI, como acredita que nós cariocas nos sairíamos?
Temos aparato (material e intelectual) no âmbito de estado e cidade para chegarmos com peso? Ou pensa que é algo que ainda temos que construir mais?
Grande abraço,
Ramon
Salve, Ramón.
A gente percebe que tem algo errado com o mundo quando as propostas mais construtivas em Copenhage vêm do Exterminador do Futuro...
Há uma agenda bem interessante de políticas públicas no Rio voltadas para o Meio Ambiente, principalmente por meio de incentivos fiscais a empresas que cuidem do tema.
O problema para o estado é a estratégia de desenvolvimento de concentração no pré-sal, e investimentos em tecnologias poluentes, como a siderúrgica que os alemães constróem em Santa Cruz.
Abraços
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