terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Duas Eleições: Uruguai e Honduras



As eleições presidenciais do Uruguai e de Honduras, ambas realizadas no domingo passado, mostram duas faces opostas da política na América Latina.

No Uruguai, o ex-guerrilheiro Tupamaro José Mujica foi escolhido presidente numa campanha bastante tranquila, em especial se levarmos em conta que incluiu dois plebiscitos sobre temas extremamento polêmicos: a revogação da lei de anistia contra militares que cometeram violações de direitos humanos na ditadura e a descriminalização do aborto. Ambas as mudanças foram rejeitadas pela população.

Em Honduras, cinco meses após o golpe contra Zelaya, cerca de metade dos eleitores compareceu às urnas e elegeu o candidato conservador, Porfírio Lobo. Houve conflitos de rua no país e o alto nível de abstenção mostrou a fragilidade da votação. Mas a comunidade internacional já tende para a aceitação do novo governo. EUA, Colômbia, Peru, Costa Rica e Panamá já se manifestaram a favor, a Espanha deu indicações de que fará o mesmo. O Brasil segue recusando-se, mas levou reprimendado presidente da Costa Rica, Oscar Arias, veterano mediador de conflitos e Nobel da Paz, que criticou “certos países” que questionavam a democracia em Honduras mas acreditavam que estava tudo bem com as eleições no Irã.

O presidente eleito do Uruguai tem como vice o ministro da Fazenda de Tabaré Vázquez Danilo Astori, bastante conservador em sua gestão da economia. A escolha desse companheiro de chapa aponta para um governo que continue as políticas ortodoxas de Vázquez, natural já que ambos são da Frente Ampla. Mujica tem pela frente a tarefa de enfrentar a pressão internacional da OCDE contra os aspectos menos transparentes do sistema financeiro uruguaio. Curioso desafio para um ex-militante de um dos mais ativos grupos guerrilheiros do continente.



O novo mandatário de Honduras é o típico político centro-americano: um latifundiário conservador que, sinal dos tempos, acena com o desejo de implementar um programa ao estilo do Bolsa Família em seu país. Seria, claro, uma maneira inteligente de reaproximar-se do Brasil e pelo andar dos desdobramentos internacionais isso deverá acontecer mais cedo ou mais tarde. Sem consenso quanto às eleições hondurenhas mesmo na América do Sul, o desgaste para o governo brasileiro em sustentar sua posição atual será grande. E ainda há a questão da permanência de Zelaya na embaixada em Tegucigalpa.

14 comentários:

athalyba disse...

Caríssimo: comparar as eleições do Irã com as de Honduras apenas para tirar o foco da hondurenha é dose pra leão ...

Primeiro pq não comparam povos e circunstâncias. Segundo pq em Honduras houve flagrante ruptura da ordem democrática e os meios de comunicação foram censuradas antes e durante a campanha política, eqto no Irã isso não ocorreu (a eleição persa mereceria um olhar mais atento, mas independente das dificuldades midiáticas e as fraudes, a oposição tentou ganhar no grito). E finalmente em terceiro, a OEA não é exemplo de independência dos ianques, né não ???

Agora, cá pra nós: é bom estar no meio dessa confusão toda ... Querendo ou não, estamos ganhando muita visibilidade e em propaganda, ser visto e comentado ("falem mal, mas ...") agrega valor. Além do mais, é bom procurar problemas: assim se desenvolve a capacidade de resolve-los.

abcs

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Como lhe dizia numa messagem pessoal, foi grandemente difícil pra mim saver que a anistia continuaria no Uruguai. É um golpe muito duro para a expansão da revisão da história em nossos paises, coisa que creio fundamental pra consiguer um verdadeiro desenvolvimento.
Saludos

Patricio Iglesias

Juca Azevedo disse...

Um pequeno comentário: mais gente foi votar nestas últimas eleições do que naquelas em que Zelaya foi eleito, como mostra esta notícia do UOL: http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2009/12/01/ult1859u1962.jhtm

Portanto não podemos dizer relativamente que a abstenção foi alta.

Não se compara povos e circunstâncias, né ? Portanto não devemos querer levar a nossa realidade à Honduras. Assim, cada nação deve cuidar dos seus próprios interesses. O Brasil deveria respeitar sua Constituição e não interferir na autodeterminação dos povos.

Maurício Santoro disse...

Athalyba,

Discordo. Comparam-se exatamente povos e circunstâncias. Desde os gregos, ciência política se faz por meio das analogias entre culturas diferentes.

Tanto em Honduras quanto no Irã houve ruptura das leis e repressão política. A diferença é que no país centro-americano a violência foi cometida por golpistas, enquanto no Oriente Médio veio do próprio governo.

A OEA tem sido sob Insulza um importante fórum para a ação latino-americana, mas sofre das eternas divisões entre seus membros. O incomum foi o consenso inicial contra o golpe em Honduras, que infelizmente durou somente até as eleições.

Caro Patricio,

Sim, é como havíamos conversado. Mas admiro a coragem dos uruguaios em discutir um assunto dessa importância.

Abraços

Maurício Santoro disse...

Caro Juca,

Não consegui abrir seu link. O que encontrei na seção de últimas notícias do UOL foram condenações da União Européia e do grupo ibero-americano às "circunstâncias anormais" nas quais foram realizadas as eleições.

Abraços

Juca Azevedo disse...

Reduzi o link no migre.me. Veja se consegue agora:

http://migre.me/d2yu

Maurício Santoro disse...

Obrigado, Juca. Agora consegui ler. Não sei de onde o embaixador Rubens Barbosa tirou os números, porque os dados da imprensa internacional afirmam que a presença foi pouco superior a 40% (e não 61%, como ele afirma).

Também estranhei ele dizer que não houve violência, quando as notícias falam de choques de rua.

Concordo, no entanto, com a avaliação que ele faz acerca do isolamento do Brasil.

Abraços

athalyba disse...

Caríssimo,

Comparação eu entendo como sendo um conceito um tanto diferente de analogia. Mas acho que fiquei devendo em clareza na minha frase: não se deve comparar povos e circunstâncias usando análises "monodimensionais" (no caso, a dimensão eleitoral). Fazer analogias não significaria fazer comparações. Réplica 1.

A réplica 2: dizer que houve fraude na iraniana é uma redundância: o Irã é uma Teocracia e as eleições por lá são fraudes por si mesmas, haja visto que quem manda é poderoso clero do país. No fundo, todos os candidatos são candidatos da ordem, uns mais radicais, outros menos, mas todos coniventes com a farsa. Mousavi tentou ganhar no grito: mesmo que isso não justifique o horror que foi a repressão, quem brincou com fogo primeiro (e sabia das consequencias disso) foi ele e seus apoiadores-chave. Não tenho base suficiente pra dizer isso, mas o povo foi massa de manobra.

Abcs

André Egg disse...

Também concordo que Honduras e Irã são coisas bem diferentes.

No Irã o Ahamdinejad ganhou a reeleição, seja lá o que isso signifique num país que tem uma democracia de mentirinha.

Houve protestos em Teerã contra o resultado das eleições. (ou seria contra o regime extremante repressivo, do qual Musavi também faz parte?).

Em Honduras não sei se a democracia é muito melhor que a iraniana, mas houve golpe de Estado, com afastamento de um presidente eleito.

Acho que o Brasil está certo em não reconhecer eleições realizadas nessas condições.

Pensando mais pragmaticamente, em relação à democracia no Irã o Brasil não pode fazer nada. A não ser tentar algum tipo de aproximação amistosa. Acho correto. Não é bom o Irã longe da comunidade internacional. E os EUA não tem moral para fazer a aproximação.

Em Honduras o Brasil pode ter uma influência mais direta.

Aliás, se meter no que foi sempre o quintal dos EUA (Amércia Central) é um bom exercício de poder internacional. Aliás, é como "quintal dos EUA" que se pronuncia o presidente da Costa Rica, como boneco de ventríloco dos interesses norte-americanos.

Maurício Santoro disse...

Caros Athalyba e André,

Não entendo o ponto de vocês. Se ambos dizem que o Irã é um regime autoritário (teocracia ou democracia de mentirinha) por que sua violenta repressão aos direitos humanos deveria provocar menos indignação do que aquela ocorrida em Honduras?

Com relação à projeção de poder do Brasil na América Central, o que a crise hondurenha deixou claro é que ela é inviável. O país não possui recursos econômicos para pressionar o governo hondurenho, ou qualquer outro da região, que dependem fortemente do mercado dos EUA.

A meu ver, a única possibilidade do Brasil exercer peso na América Central seria articulando apoios junto aos outros países latino-americanos, o que foi possível no início da crise hondurenha (rejeição ao golpe) mas não depois, quando se tratou do resultado eleitoral.

Abraços

athalyba disse...

Mauricio,

Não estou dizendo que uma repressão é "menos ruim" que a outra ou passível de ser defendida frente a outra. O que estou tentado dizer é que não cabe comparar as eleições, pois uma foi feita numa liberdade relativa prevista em lei com os atores cientes das condições (Irã) e a outra foi feita num estado de exceção, onde nem a imprensa nem o direito de associação e expressão foram respeitos (Honduras).

Mas está claro que discordamos na questão geoplítica, mesmo que eu não tenha 5% da sua bagagem cultural para o assunto: acho que o papel do Brasil nesse enrosco (Honduras) esta servindo pra "marcar posição" e em termos de imagem, estamos no lucro: por mais que alguns países fora da órbita ianque estejam tentando dar um jeito de flexibilizar suas posições (vide UE), a posição brasileira ainda é a mais forte.

E política, temos de aguardar os próximos passos e até agora, eu, PARTICULARMENTE, estou gostando :-)

sds

2)

Maurício Santoro disse...

Athalyba,

Continuo sem entender sua posição. O governo iraniano claramente violou as regras do jogo, conforme aceitas pelos atores envolvidos, ao prender e torturar os opositores. E foi acusado de fraudar os resultados para garantir a vitória de Ahmadinejad.

É uma situação bastante semelhante àquela de Honduras, onde inclusive a oposição aos golpistas concorreu nas urnas, embora Zelaya tenha boicotado a disputa em função do não-cumprimento do acordo.

A própria ministra Dilma já declarou as eleições em Honduras terão que ser consideradas, o que aponta para o reconhecimento, por parte do Brasil, do novo governo. O risco de isolamento brasileiro é muito grande, caso isso não seja feito.

abraços

athalyba disse...

Maurício,

Desculpe a minha falta de clareza (2), estou tentando dizer que, em face do que eu expûs, as circunstâncias de violação das regras do jogo democrático no Irã aconteceram DEPOIS das eleições, e em Honduras ANTES delas. Mais: eqto no Irã a oposição tentou ganhar no grito a partir da justa desconfiança da população, esta, na eleição hondurenha, foi IMPEDIDA de se expressar, pelo menos aqueles que se opuseram a ela.

Quanto ao isolamento do Brasil, permita-me discordar: ele ainda não aconteceu, ainda que vc preveja isso. Até agora, só um reduzidíssimo grupo de países (não mais 6, creio) reconheceu a pataquada e os que estão em cima do muro lá permanecem, né não ??? Corriga-me se estiver errado ...

E sobre a imprecisão de vários comentaristas, que confundem "considerar" a eleição com "reconhecer" a eleição: podemos combinar de voltar à esse tópico depois de 27 de janeiro, que acha ???

abcs

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