domingo, 27 de dezembro de 2009
Massacre no Suriname
Nas aulas e palestras que tenho dado no Exército, destaco com frequência o risco de ataques às comunidades de brasileiros no exterior, e examino a importância desses grupos para as políticas externa e de defesa do Brasil. Contudo, sempre aponto Paraguai e Bolívia como áreas de maior potencial de conflito. Foi uma surpresa para mim a escala da violência que ocorreu no Suriname contra os brasileiros que lá vivem. Na pequena cidade de Albina, de apenas 10 mil habitantes, um grupo de 200 pessoas atacou com facões 80 brasileiros. As notícias ainda estão confusas e imprecisas, mas há relatos de uma morte, uma grávida esfaqueada que perdeu a criança, sete homens internados em estado grave e denúncias de estupros. O estopim da selvageria foi um brasileiro ter matado um morador local, durante uma briga por dívidas. A cidade é uma área de garimpo, de precária manutenção da lei e da ordem.
A migração de garimpeiros entre o Brasil e os países amazônicos tem dado origem a muitos conflitos nos últimos anos. Além do choque no Suriname, houve problemas com Venezuela e Colômbia. Um aluno militar que serviu em um Pelotão Especial da Fronteira me contou que certa vez ele e seus soldados capturaram uma quadrilha de policiais venezuelanos que atuava na região roubando os garimpeiros brasileiros – e ainda por cima se apresentavam fardados como militares colombianos! Em todos casos, é uma combinação explosiva da ausência do Estado com a presença de ouro e a possibilidade de ganhos fáceis.
No Suriname, há uma complicação extra, de cunho racial. A região de Albina é de forte presença de maroons, quilombolas. Os descendentes dos escravos tem péssima relação com o governo do país e com os estrangeiros que lá vivem e trabalho. Esses conflitos remontam à época colonial – o Suriname só se tornou independente da Holanda em 1975 – quando houve choques violentos entre os maroons e empresas de mineração que se estabeleceram na região.
O governo do Suriname reagiu de modo exemplar à onda de barbárie contra os brasileiros e tem prestado toda a colaboração às autoridades do Brasil. Um avião da Força Aérea Brasileira foi enviado para evacuar aqueles que queiram deixar o país.
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8 comentários:
Olá Mauricio,
Apesar das notícias confusas a turba dos maroons atacou brasileiros, chineses e comerciantes, parece-me que o problema é bem complexo e envolve como vc bem colocou a oposição desse grupo ao governo central.
Meu caro:
Uma vergonha. Tenho pesquisado no Clarín e no La Nación e não encontrei nada sob a massacre. Os paises americanos da última geração ainda são totalmente desconhecidos na Argentina. Com sorte, um argentino va dizer "Surinam... ¿La Guayana Francesa, la Holandesa o la Inglesa? ¿Cuál era?".
Meu apoio ao povo brasileiro e surinamese nas horas difíceis.
Policiais venezuelanos com disfarces de militares colombianos roubando brasileiros! Só pode acontecer aqui...
Abraços
Salve, Marcelo.
O Suriname tem uma história étnica complicada, e o Estado local vai ter problemas em controlar a região onde houve os ataques.
Caro Patricio,
Imagino que amanhã a imprensa argentina já deva trazer algumas notícias sobre o conflito, pelo fato de que ele ocorreu numa região remota, em época de Natal, é natural que demore um pouco até que tudo seja conhecido.
Abraços
Desde aquele fatídico dia do massacre procuramos por nosso irmão que trabalha na área do Garimpo de Albina no Suriname enão obtivemos nenhuma noticia.
Estamos desolados, pois bem que a embaixada brasileira naquele país já poderia ter feito uma busca e publicado o nome dos que ainda estão por lá ferido ou não para aliviar as nossas vidas
Eurlene Arruda
Cara Eurlene,
Lamento pelo seu irmão e torço para que você e sua família consigam notícias dele.
Sugiro que vocês entrem em contato com a Igreja Católica, pois os missionários brasileiros são muito ativos no Suriname e provavelmente têm mais conhecimentos sobre o que se passa no país do que as próprias autoridades brasileiras.
Boa sorte!
Abraços
É grande Maurício esse lamentável ataque deixou uma coisa clara a lentissima força de reação do goveno brasileiro.
Eu tenho uma hipotese que terei que provar ou descartar de que o Presidente Lula odeia se vincular a tragédias e sempre some quando essas ocorrem.
Não lembro dele visitando uma area de desastre, mas posso estar errado, antes que me mandem para o Gulag
Um outro ótimo artigo sobre o tema é http://igorreno.wordpress.com/2010/01/01/suriname-e-maroons-outras-informacoes/
Oi, Mario.
É verdade, o presidente Lula poderia (e deveria) ter visitado o Suriname e mostrado interesse na sorte dos brasileiros atacados por lá.
Isso teria dado um recado importante, para toda a América do Sul, da importância que os brasileiros no exterior têm para a política externa brasileira.
abraços
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