sexta-feira, 20 de julho de 2007

Colorados e Jesuítas



O Partido Colorado governa o Paraguai há 60 anos, sendo que metade desse período transcorreu durante a ditadura do general Alfredo Stroessner. Partido e Estado se confundem, como no México dos 70 anos de domínio do PRI. O sistema clientelista montado pelos colorados impressiona e atinge todos os níveis do funcionalismo público e não poucas associações da sociedade civil. Contudo, esse controle está sob desafio. Começou a disputa pela presidência em 2008 e o favorito é o ex-bispo jesuíta Fernando Lugo.

A Igreja é a instituição mais importante da vida social paraguaia e seu papel na própria formação do país foi fundamental. A república guarani, afinal, é fruto das missões que os jesuítas construíram na era colonial. Muitos dos jovens com quem conversei me falaram da importância da participação em organizações católicas para sua mobilização social. Com freqüência, foi através delas que eles conheceram pessoas fora do pequeno círculo de familiares e vizinhos. Vários se queixam do conservadorismo dos padres, mas ainda assim há iniciativas excelentes como a do Parlamento Jovem, que está formando toda uma geração de líderes sociais no país.

Lugo lidera uma aliança de partidos e organizações de oposição aos colorados, batizada de Concertación à semelhança da coligação que governa o Chile. O arco de apoios é bastante amplo e inclui movimentos sociais, partidos de esquerda e de direita. Muito do noticiário político paraguaio vem das disputas e negociações dessa frente, que parece ter pouco em comum fora a rejeição aos 60 anos de governo do partido dominante.

A luta política no país é pesada e o governo já iniciou uma campanha de difamação de Lugo. A piada local é que em breve vão inventar filhos ou algum escândalo sexual para ele. Como está para nascer um jesuíta que não seja um político hábil, Lugo se apresenta com base na questão democrática, visitou Washington e mantém distância de Chávez. Vai ser uma briga boa, estou curioso para acompanhar os próximos lances.

Durante minha estadia no Paraguai, a jogada do governo foi um acordo com o general Lino Oviedo, que está preso depois de tentar um golpe militar em 1999. A libertação de Oviedo é iminente e se especula de que ele sairá candidato à presidência com apoio velado dos colorados, que esperam assim dividir a oposição. O general possui base eleitoral significativa e conta com a simpatia do principal jornal do país, o ABC Color – que tem atacado duramente Brasil e Argentina, por conta da divisão dos lucros das duas maiores empresas paraguaias, as usinas binacionais de Itaipu e Yacyretá.

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