sexta-feira, 27 de julho de 2007

A Economia Política do Desenvolvimento


Pouco antes de eu viajar à Bolívia, terminaram minhas aulas no doutorado. Só preciso passar no IUPERJ para reuniões com meu orientador e para a defesa da tese, que planejo para o início do próximo ano. Com tantas tarefas em andamento, esse momento importante passou quase desapercebido. A vida é o que acontece conosco enquanto estamos ocupados fazendo outros planos, sabiamente trovou John Lennon.

Fiz dois cursos neste semestre - seminário de tese e a disciplina sobre nacionalismo no Brasil dos anos 50 e 60, que rendeu ótimas discussões, fartamente comentadas neste blog. Como trabalho final, escrevi um pequeno ensaio sobre “economia política do desenvolvimento”, comparando o pensamento de Roberto Campos e Celso Furtado a respeito de inflação, capital estrangeiro e o custo social do processo de industrialização.

A obra clássica de Ricardo Bielschowsky sobre o desenvolvimentismo cita justamente esses três temas como os pontos cruciais para diferenciar os economistas nacionalistas (como Furtado) dos não-nacionalistas (como Campos). Basicamente, os primeiros eram menos preocupados com inflação, mais restritivos ao investimento externo em setores como mineração e petróleo e chamavam a atenção para as desigualdades sociais e regionais crescentes do modelo econômico brasileiro.

Apesar das diferenças, Campos e Furtado tinham posições próximas nos anos 50 e 60 e inclusive foram colegas na direção do BNDE. Ambos eram figuras destacadas na nascente tecnocracia brasileira e estiveram entre os primeiros a cursar pós-graduações em economia no exterior – EUA e França – com carreiras que começaram no Itamaraty e na ONU e os levaram a postos ministeriais. Por exemplo, ocuparam a pasta do Planejamento com poucos anos de separação na década de 1960 e implementaram estratégias semelhantes de combate à inflação. Com a ressalva fundamental de que Furtado não mandou fechar sindicatos nem dar porrada nos trabalhadores.

Analisando o pensamento dos dois com a distância de muitas décadas, fica claro onde cometeram os piores erros. Primeiro, nenhum dos dois se preocupou com a dívida externa crescente – não era uma dor de cabeça num período de juros baixos, mas virou um pesadelo no fim dos anos 70, pelas turbulências financeiras internacionais. Depois, ambos subestimaram o impacto que a inflação teria na vida brasileira. Mas novamente, faço o papel fácil de profeta após o fato, pois eles escreveram num tempo em que a inflação anual ficava entre 10% e 15%, ao passo que cresci com 80% ao mês!

Fica também a admiração pelo alto nível do debate intelectual entre os dois, como no humor refinado de Campos ironizando os problemas brasileiros e nas críticas precisas de Furtado aos obstáculos ao desenvolvimento do Nordeste.

2 comentários:

Fernando disse...

Aonde esta o ensaio?

Maurício Santoro disse...

Ainda não o entreguei ao Iuperj, Fernando. Planejo publicá-lo na revista dos alunos do Instituto.

abraços