segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Bolivianos em São Paulo



No fim de semana descobri uma revista recém-lançada chamada “Qual É?”, que me atraiu pela matéria de capa sobre a comunidade boliviana em São Paulo. A boa surpresa prosseguiu na leitura do texto, de autoria de duas jovens jornalistas, Amanda Romanelli e Juliana Mezzato. As duas descrevem com muita empatia o cotidiano dos bolivianos que migraram para o Brasil, ressaltando suas contribuições à vida cultural paulistana e as difíceis condições de trabalho nas confecções, que agrupam talvez 80% deles. Há várias histórias de sucesso entre esses imigrantes e elas situam o grupo numa lista que inclui italianos e japoneses, outros povos que enfrentaram obstáculos mas deixaram sua marca em São Paulo, e no Brasil.

A revista me agradou muito, várias das reportagens tratam de temas ligados aos direitos humanos, e numa perspectiva muito simpática, de associá-los às coisas boas da vida – por exemplo, a feira da Kantuta, epicentro da vida cultural dos hermanos em Sampa. Assim, há um artigo sobre hip hop e auto-estima (outro tema que aparece na pesquisa sobre juventude sul-americana, na qual trabalho) e até um ensaio fotográfico sobre Darfur. Além disso, a revista é voltada ao público jovem, segmento absolutamente prioritário no projeto em que estou envolvido.

A leitura da reportagem me lembrou de uma conversa que tive com os colegas do Instituto Pólis, nosso parceiro na pesquisa sobre juventude. Quando começamos a debater o projeto, eles fizeram uma excelente apresentação sobre como a imprensa aborda a questão das migrações internacionais em São Paulo. A conclusão deles é que os órgãos de comunicação apresentavam visões positivas dos italianos, japoneses, libaneses, mas que os imigrantes de outros países latino-americanos, sobretudo Bolívia e Peru, eram associados principalmente ao crime e a problemas sociais.

Ou sequer apareciam. Pensem numa novela como "Belíssima", de Sílvio de Abreu, uma tremenda homenagem às comunidades de imigrantes que ajudaram contruir São Paulo. Colocaram até gregos - com direito a um sotaque horrendo do Tony Ramos. Mas os demais latino-americanos, onde estavam?

Esse também é um tema quente em Buenos Aires, onde essas comunidades – e acrescidas dos paraguaios – são ainda maiores do que em São Paulo. A capital argentina também tem, como a metrópole paulistana, uma longa história de receber e aceitar estrangeiros: espanhóis, italianos, judeus de diversos países etc. Quero acreditar que o racismo atual será somente uma fase passageira e que o futuro será marcado por mais integração e abertura. São Paulo terá um papel simbólico muito importante nesse processo, "possível novo quilombo de Zumbi", como profetizaram os Novos Baianos que passeavam por sua garoa.

3 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Aqui a figura do inmigrante latinoamericano näo é valorada, mas os européus estäo no imaginário colectivo como o origem de todos os argentinos. Espero que algum dia desaparecam os preconceitos contra os povos hermanos.
Obrigado pela inclusäo na lista de blogs amigos!
Saludos do Sul

Anônimo disse...

Pensei que se tratasse de um blog de literatura argentina ou 'cortaziana' e me surpreendo com recortes incisivos sobre política e cultura latinas. Parabéns pela iniciativa do blog e obrigada pela agradável engano em que incorri!

Maurício Santoro disse...

Hola Patricio,

Bom, a Argentina mais do que o Brasil é um país de imigrantes e fiquei realmente fascinado com a riqueza da vida das comunidades bolivianas, paraguaias e peruanas em Buenos Aires. Mesmo sabendo das dificuldades que eles enfrentam por aí.

Ainda assim, acho que a Argentina tem o potencial para apresentar as melhores soluções sobre a questão das migrações latino-americanas, até por causa da quantidade que vive aí.

Olá, Diana.

Cortázar é sempre uma referência preciosa, embora eu não escreva sobre ele há algum tempo. Mas vira e mexe aparece algo sobre outros mestres latino-americanos. Agora ando empolgado com o chileno Roberto Bolaño.

No blog que precedeu o Todos os Fogos, escrevi alguns posts sobre Cortázar. Os links são:

http://osconspiradores.blogspot.com/2005_12_01_archive.html

http://osconspiradores.blogspot.com/2006_09_01_archive.html