domingo, 5 de agosto de 2007

Leituras Chinesas




O surgimento de uma grande potência, nos diz Martin Wight, repete os ritos de passagens de muitos povos antigos e se dá através do sangue, na vitória em uma guerra. De preferência contra outra grande potência. Isso pode ter sido verdade para a Prússia, os EUA ou o Japão, mas a consolidação da China como um ator de peso global se deu de modo bem mais banal: pelo roubo em escala mundial de tampas de bueiro. Isso porque a demanda chinesa por sucata fez que o valor desse material disparasse e como a ocasião faz o ladrão, aí estamos com uma epidemia planetária. Essa e outras análises estão no livro "A China Sacode o Mundo", do jornalista James Kynge, que por muitos anos dirigiu o escritório chinês do Financial Times.



Kynge é um repórter de primeira categoria e um mestre em tirar conclusões políticas e econômicas a partir da análise de gestos do cotidiano: o que as pessoas compram, quais seus sonhos, como o ritmo do mercado afeta sua vida etc. Seu livro é um apanhado de histórias da China nos últimos anos e sua maior contribuição ao debate sobre o país é mostrar o quanto muito do desenvolvimento se deve não a decisões da cúpula governamental, mas às escolhas de empresários, pequenos comerciantes, funcionários locais ou simplesmente às oportunidades criadas pelo ambiente caótico de uma nação em gigantesco processo de transição.

Os capítulos estão organizados a partir de histórias que não diferem muito de boas reportagens. Por exemplo, a abertura é a narrativa de uma siderúrgica alemã que está sendo desmontada para ser reconstruída na China e os impactos que a mudança provoca nos dois países. Outra foca a comunidade de imigrantes chineses nos centros da indústria têxtil na Itália e como essas pessoas estão montando seus próprios negócios na China, com euros duramente economizados, e mudando a face desse mercado. Uma terceira abordagem fascinante é sobre a cidade de Chongqing, a Chicago chinesa, que está em vias de se transformar na maior cidade do planeta.

Kynge afirma que a novidade recente é que as enormes mudanças na China não dizem mais respeito só a esse país, mas agora afetam o mundo inteiro, pelo impacto nos processos produtivos globais e pela demanda elevadíssima de diversas matérias-primas e combustíveis. O motor do crescimento chinês é uma massa de mão-de-obra barata, migrantes que escapam de uma situação de miséria rural e estão dispostos a trabalhar por salários muito baixos, mas que ainda assim são capazes de alta produtividade e mesmo de poupança considerável.

Ele comenta de passagem os problemas sociais mais graves, como a situação das mulheres, mas dá destaques para a questão da pirataria e da propriedade intelectual. Não se trata apenas de uma questão das empresas, mas de um risco de saúde pública grave. A crise desta semana com os brinquedos que a Mattel teve que tirar de circulação, por conterem níveis tóxicos de chumbo, é apenas mais uma numa longa lista de atos irresponsáveis que já mataram muita gente.

Para quem está em busca de uma narrativa mais convencional sobre a China, centrada nas decisões da cúpula política, recomendo "A China de Deng Xiaoping", do historiador americano Michael Martí.



Ele analisa a luta do líder chinês para implementar as reformas econômicas que impulsionaram o crescimento do país e como precisou construir uma coalizão de apoio que incluiu as Forças Armadas e as províncias do próspero sul para contrabalancear os setores conservadores do Partido Comunista, que morriam de medo que a China repetisse a história de fragmentação e caos da União Soviética sob Gorbachev.

4 comentários:

Bruno R disse...

comentario referente a um post lá de baixo:

"alguém precisa fazer urgente uma comédia pastelão para mostrar o quanto o autoritarismo era ridículo!"

o casseta e planeta fez, com "a taça do mundo é nossa"

e vc conhece um texto de jean-claude bernardet comparando o cinema pátrio ao argentino?

abraço

All Blog Spots disse...

nice blog

Maurício Santoro disse...

Oi, Erre.

O Casseta fez, mas o filme é uma porcaria. Gostaria de uma comédia que fosse, bem, engraçada.

Li algumas coisas do Bernadet, mas não conheço o texto que você mencionou. Você sabe o título?

abraços

Bruno R disse...

farei melhor: http://www2.uol.com.br/revistadecinema/edicao34/riofilme/jeanclaude.shtml

eu ateh q dei umas risadas com o "a taça". esse mais recente é que é ruim de doer..