terça-feira, 7 de agosto de 2007

Que Venha o México!


A visita do presidente Lula e do chanceler Celso Amorim ao México ilustram a intensa aproximação que ocorre entre esse país e o Brasil. Em 2006 o Brasil exportou cerca de US$4,5 bilhões para lá – quatro vezes mais do que no início da década. Já é o quinto maior mercado brasileiro e o governo quer dobrar as vendas até 2010.

Além disso, as empresas mexicanas se tornaram as maiores investidoras latino-americanas no mercado brasileiro, capitaneadas pelas decisões de Carlos Slim, o homem mais rico do mundo e magnata das telecomunicações no continente. Se você é assinante da NET ou usuário da Claro e da Embratel, usa serviços de seu império.

O comércio exterior brasileiro dobrou nesta primeira década do século XXI, impulsionado pela demanda extraordinária da China e da Índia. Mas o México, tradicionalmente, foi um competidor brasileiro, que disputava mercado nos mesmos produtos. Quando o Nafta entrou em vigor, em 1994, o Itamaraty julgou o país “perdido” para os interesses brasileiros A percepção era de que México, Caribe e América Central entravam em definitivo na órbita dos EUA.

Só que o mundo tomou outro rumo. A aposta mexicana era de que o Nafta tornaria o país uma plataforma de exportações para os EUA e Canadá, baseada no baixo custo da mão-de-obra. Faltou combinar com os chineses, que viraram a mesa do jogo e se estabeleceram como alternativa ainda mais em conta. O Nafta provocou um surto de indústrias no norte do México, o problema é que essas fábricas em geral apenas montam componentes externos. Geram empregos, mas agregam pouco valor às cadeias produtivas locais, preferindo usar fornecedores de outras partes.

Os governos mexicanos descobriam que precisavam diversificar seu comércio exterior. Assinaram mais de 30 acordos de livre comércio e voltaram a olhar para a América Latina, com tratados firmados com Venezuela, Colômbia e passando ao status de “membro observador” no Mercosul, que agora o chanceler Amorim que tornar essa participação mais profunda. Ruptura com relação ao tempo em que os diplomatas brasileiros se referiam à nação azteca como “Cavalo de Tróia dos EUA”, muito influenciados por más experiências do tempo da crise da dívida externa, em que os países latino-americanos tentaram sem sucesso formar uma frente comum de negociação.

Agora, nos revela Sergio Leo, “O México quer se aproximar dos países da América Latina, e começou a consultar os maiores da região sobre a possibilidade de uma negociação regional, uma espécie de Área de Livre Comércio das Américas (Alca) sem Estados Unidos ou Canadá. “ O artigo completo está aqui, só para assinantes do Valor. Enquanto não se iniciam as negociações, o que vem pela frente é o aprofundamento do acordo de preferências comerciais que já existe.

Há áreas complicadas, como têxteis e eletrônicos, e campos onde a cooperação flui melhor, como energia (petróleo e biocombustíveis) e a indústria automobilística. O Brasil também terá que aumentar as importações do México e os investimentos no país, porque a balança comercial é muito desfavorável ao parceiro – situação que aliás se repete com freqüência na América Latina.

5 comentários:

Patricio Iglesias disse...

O presidente Kirchner visitou nos últimos dias o México e signou acordos comerciáis. Também aproveitou para presentar à Cristina "en sociedad". Está se especulando com o acercamento mexicano ao Mercosul com status similar ao Chile o Bolívia.
Saludos

IgorTB disse...

É engraçado como esse jogo internacional em tabuleiros multilaterais vai mudando as prioridades e percepções que temos uns dos outros.

Só não estou entendendo bem essa pressa que o Kirchner vem aparentando de trazer o México para o Mercosul...

Abraço grande

Maurício Santoro disse...

Salve, Patricio.

Pois é, li a notícia. Mas a aproximação entre Argentina e México vem de mais longe, seu país está buscando no irmão do norte uma opção comercial à dependência do Brasil.

Olá, Igor.

Dê uma olhada no comentário acima, acho que ele explica sua dúvida.

Abraços

Sergio Leo disse...

Vi que fiquei mais tempo que devia sem voltar aqui, no blog, caro maurício, obrigado pela referência. Quando quero sugerir algum artigo do Valor para leitores do blog, recomendo o clipping do Itamaraty, que não exige exclusividade, lá no www.mre.gov.br...
.
Ainda é grande a resist~encia a uma integração México-Mercosul, por parte de setores no México e no Brasil. Não deixaram que o tema assumisse um papel muito relevante durante a viagem do Lula. Mas a aproximação é real, e uma questão de tempo.

Maurício Santoro disse...

Obrigado pela dica, Sergio, farei isso. A não ser, claro, quando você reproduzir o artigo no seu blog.

Abraços