domingo, 21 de outubro de 2007
Os Blogs na Guerra do Iraque
Os blogs são os novos atores da política internacional e já têm força suficiente para influir até mesmo no debate sobre a Guerra do Iraque. A edição atual da Military Review, editada pelo Exército dos Estados Unidos, traz excelente artigo sobre os blogs militares. O texto é da autoria da major Elizabeth Robbins, que trabalha como assessora de imprensa e professora para as Forças Armadas americanas.
Robbins defende os blogs militares como a “face humana” do Exército e louva sua capacidade de funcionar como elo de comunicação entre os soldados e uma sociedade que ela julga cada vez mais distante do cotidiano das Forças Armadas. Também elogia a capacidade dos blogs em fornecer uma válvula de desabafo emocional para pessoas em situações de tensão, como é obviamente o caso dos soldados servindo em guerras, em locais estranhos a sua cultura, como Iraque e Afeganistão.
É evidente que muito do que esses soldados têm a dizer pode ser embaraçoso, desagradável e mesmo perigoso para o Exército, desde fofocas sobre colegas de tropa até informações que comprometam a segurança de missões, ou mesmo denúncias de crimes cometidos pelas Forças Armadas. Robbins discute as melhores maneiras para censurar o material produzido pelos blogs militares, mas seu tom geral é que os benefícios superam os eventuais problemas.
Pouco depois de ler seu artigo, foi publicada a excelente entrevista que Elaine Guerini realizou com o cineasta americano Brian de Palma (outra do Valor, jornal do qual cada vez gosto mais). De Palma completou filme sobre o massacre de Mahmudiya, no qual cinco soldados americanos estupraram uma adolescente iraquiana e depois assassinaram ela, os pais e sua irmã caçula. Quem conhece a obra de De Palma percebe de imediato a semelhança com seu filme sobre o Vietnã, “Pecados de Guerra”. Todos os roteiros de atrocidades se parecem.
A novidade é que desta vez De Palma recorreu a muito material documental disponível na Internet, principalmente fotos, vídeos e blogs de soldados. Nas palavras do cineasta:
“Com a internet e as webcameras, os soldados agora fazem pequenos filmes sobre suas experiências no campo de batalha. Além daquelas mensagens protocolares do governo, anunciando como estamos fazendo progresso no Iraque, felizmente também temos acesso à verdade. A grande novidade nessa guerra é o fato de os soldados poderem se comunicar com o resto do mundo em tempo real. Eles estão na internet o tempo todo. Morrendo de tédio, acabam dando testemunhos, muitas vezes surpreendentes. Fiquei perplexo ao perceber que eles são os primeiros a contestar o ridículo discurso de que os Estados Unidos foram até lá para levar democracia ao povo iraquiano.”
Houve um tempo em que tarefas como essas eram desempenhadas pelos correspondentes de guerra e De Palma é bastante crítico em sua entrevista à acomodação da grande imprensa dos EUA com os atos de seu governo, em particular com a cobertura do que acontece no Iraque.
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2 comentários:
Realmente, muito boa a entrevista.
Quanto aos blogs, eles realmente são uma contribuição inestimável ao jornalismo. Que eles se multipliquem e exponham esse outro lado do mundo.
Procure o livro Cartas no Front, da Cia das Letras. É uma compilação de cartas escritas por soldados em diversos fronts de diversas guerras. As cartas são separadas por temas e não por países, o que muitas vezes faz vc se emocionar com os sentimentos de soldados nazistas e odiar determinados exércitos libertadores...
Abração
ps: continuo na busca pelo filme... :-(
Salve, Igor.
Me lembro de que quando houve a guerra do Líbano, em 2006, a melhor cobertura veio dos blogs. Descobri excelente material tanto de israelense quanto de libaneses e de funcionários de orgs internacionais no local.
Vi o livro que você mencionou e me pareceu interessantíssimo. Boa pedida para próximas leituras.
Abs
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