domingo, 4 de novembro de 2007

Chávezwood


Meu amigo Leonardo me chamou a atenção para reportagem na BBC sobre a Villa del Cine, o estúdio de cinema criado por Chávez para produzir filmes sobre a América Latina. A produção de estréia é “Miranda Regresa”, sobre uma das mais extraordinárias personalidades da história do continente: Francisco de Miranda, um dos grandes precursores da independência dos países sul-americanos. Intelectual iluminista, conspirador liberal, mulherengo, aventureiro. Napoleão o comparou a Dom Quixote, a imperatriz Catarina da Rússia o tomou como amante, San Martin, Danton, Alexander Hamilton e Thomas Paine foram seus amigos. Lutou pela Espanha contra os mouros na África e os ingleses no Caribe, foi marechal dos exércitos da Revolução Francesa, voltou à América e serviu como general junto a Bolívar. As fotos que ilustram os posts são do filme.

O que nós, brasileiros, sabemos sobre uma vida tão fantástica?

Nada.



O outro projeto da Viila del Cine também promete: uma biografia de Toussaint L´Ouverture, dirigida pelo ator americano Danny Glover. O astro de máquina mortífera tem compromisso na luta anti-racismo, que se traduziu em filmes sobre o apartheid. Natural que queria filmar a vida de um líderes da revolta negra no Haiti – que já rendeu o belíssimo romance “O Reino Deste Mundo”, do cubano Alejo Carpentier e o poema de Aimé Cesaire. Chávez deu US$18 milhões a Glover para o filme – o dinheiro veio da venda de títulos da dívida externa argentina, que o presidente comprou para ajudar aquele país no momento da renegociação do débito.

E de Bolívar, nada? Claro que sim. Também há o projeto de adaptar o romance de Garcia Márquez sobre os amargos dias finais do Libertador, “O General em seu Labirinto”.

Convenhamos: vocês conhecem outra produtora de cinema que tenha um catálogo tão apetitoso de projetos em andamento? A "Lulawood" da Petrobras e do BNDES andam mais ocupados financiando pastiches das novelas da Globo e o próximo melodrama envolvendo apresentadoras de programas infantis, duendes, golfinhos ou outra experiência destinada a provar a inexistência de cérebros nas platéias brasileiras.

Vivemos num continente com uma rica história e cultura, e vários dos momentos mais marcantes não chegam às telas. Abaixo, listo algumas situações que gostaria de ver transformadas em filmes latino-americanos:

1)Um épico sobre a Guerra da Tríplice Aliança, narrado pela perspectiva das quatro nações que lutaram o conflito. A rigor, o tema é tão vasto que ficaria melhor como uma série de TV.

2)Cinebiografias de Bolívar e San Martin.

3)Ascensão e queda de Perón.

4)A saga do arquiduque austríaco Maximiliano, que numa manobra de Napoleão III virou imperador do México, até ser deposto e fuzilado por seus oponentes.

5)A história contemporânea do Brasil através do samba, da MPB e do rock. Digamos, da Era Vargas aos anos 1980.

6)As transformações na Igreja latino-americana, da Conferência de Medellín à ascensão de João Paulo II.

7)Uma história sobre o movimento da reforma universitária da Argentina, contada atráves de estudantes de vários países, com a repercussão sobre cada um.

8)Adaptações cinematográficas de clássicos da literatura latino-americana, como “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Márquez, e “Conversa na Catedral”, de Mario Vargas Llosa.

E vocês? Quais sugerem?

7 comentários:

André Luiz Nahon Góes disse...

Uma boa seria "A festa do bode", não acha?

Anônimo disse...

Olá Maurício! Que bom que vc voltou a "ativa". Confesso que acabei me tornando fã dos seus textos, principalmente, por causa dos conteúdos que são fascinantes. Ainda, mais quando é escrito por um estudioso das ciências políticas como vc. E por falar em Chávez, acho que vc deve ter acompanhado os notíciários e visto o que está prestes a acontecer naquele país. Gostaria de saber qual é a sua opinião a respeito e até que ponto isto pode influenciar o Brasil? Ah, por falar no em ilustre escritor Gabriel Garcia Márquez, eu recomendo "Amor nos tempos do Cólera", acho que daria um belíssimo filme. Quem sabe?! rs Até mais!!

Maurício Santoro disse...

Autor,

Sem dúvida!

Karin,

"Voltei" à ativa? E desde quando saí dela?

Li em algum lugar que o Amor nos Tempos do Cólera estava sendo adaptado ao cinema. Vamos ver como fica, porque o Crônica de uma Morte Anunciada resultou numa péssima versão.

Prometo que o próximo post será sobre Chávez. Há muito o que falar.

abraços

Anônimo disse...

Caro Maurício,

Sobre uma adaptação cinematográfica da Guerra do Paraguai, li alhures que a mesma autora da minissérie global "A Casa das 7 Mulheres" - cujo pano de fundo é a Revolução Farroupilha - está escrevendo roteiro adaptado da obra de Doratioto, "Maldita Guerra". Pareceu-me interessante, não obstante saber que a TV Globo vai adoçar a história com algum romance de folhetim... Abraços, D.

Maurício Santoro disse...

Caro D,

o livro do Doratiotto é ótimo, e embora eu ache a autora muito água com açúcar para meu gosto, saudemos a notícia sobre o filme. Vale lembrar que o romance "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Ribeiro, também tem um excelente capítulo sobre a Guerra do Paraguai.

Abraços

Anônimo disse...

Adorei o post! Muito bom!
Bom, Cem Anos de Solidão foi uma ótima pedida!
As CPIs do Brasil dariam algum tipo de filme daqueles sobre máfia, típicos de De Niro, advogado do diabo...? Queria uma idéia bem feita sobre corrupção. E a guerra das malvinas?
Gostei dessa idéia de pensar situações para possíveis filmes. Agora não paro de pensar em possibilidades...hehe.
abraço.

Maurício Santoro disse...

Olá, Carla.

Certa vez pensei em escrever uma esquete teatral sobre um fanático por CPIs, o cara que era o primeiro a chegar para as sessões. Roubei a idéia de Aristófanes, um dia talvez a coloque em prática.

Há dois ótimos filmes argentinos sobre as Malvinas: "Los Chicos de la Guerra" e "Iluminados pelo Fogo".

Abraços