quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A Expulsão da Odebrecht


A decisão do presidente Rafael Correa em expulsar do Equador a empreiteira brasileira Odebrecht me pegou de surpresa. Eu acreditava que suas ameaças à empresa eram apenas uma manobra para ganhar popularidade eleitoral às vésperas do referendo, e que passada a votação o governo fecharia um acordo com a empresa, como chegou a ser noticiado que ocorrera.

As autoridades brasileiras vinham negociando nos bastidores, sem criticar publicamente os governos vizinhos que entravam em conflitos com empresas do Brasil. Agora houve mudanças. O Itamaraty retaliou o Equador e cancelou uma missão de ajuda encabeçada pelo ministro dos Transportes. O Brasil depende da Bolívia para obter o gás que abastece a indústria. Não há impedimento semelhante com relação ao Equador, o que me faz crer que a reação brasileira será bem mais dura desta vez. Não é bonito ver esse tipo de confronto ocorrendo, mas diante dos fatos, não resta alternativa ao Brasil.

Enquanto isso, em Quito, a situação também está instável. O presidente exonerou o ministro do Petróleo, porque ele não conseguiu fazer as empresas estrangeiras aceitarem a nova regulação proposta pelo governo, que aumenta muito os impostos. Há cerca de 10 firmas do exterior extraindo aproximadamente 40% do petróleo no Equador. Correa tem ameaçado expulsá-las - incluindo a Petrobras. Seu antecessor, de quem ele foi ministro da Economia, fez isso com uma companhia americana, a Occidental, que era a maior investidora estrangeira no país.

O barril de petróleo chegou a valer US$140, a crise das últimas semanas o derrubou para US$90. Com EUA e Europa (o mundo?) à beira da recessão, é provável que a demanda diminua e os preços continuem a cair. As rendas petrolíferas garantem mais de 1/3 do orçamento equatoriano, o que será um problema significativo para o presidente, ainda mais com a expansão de serviços públicos prevista na recém-aprovada Constituição.

Naturalmente, a instabilidade e a hostilidade que Correa tem demonstrado com relação às empresas estrangeiras não ajudam a atrair investimento externo. Desde a posse do presidente, o fluxo caiu de US$270 para US$179 milhões anuais.

4 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Mauricio,

Hoje tem uma notícia no El País dizendo que esse é um problema menor em comparação a integração latino-americana. Será que eles estão entendo direito a situação, por que me parece que o Equador quer endurecer em um instante que o Brasil pela falta de crédito terá que optar ou faz seus investimentos em energia no próprio país do pré-sal que é um volume vultoso ou nos vizinhos que tem sérios problemas internos e um discurso volúvel com regras frágeis.

Marcelo L.

Maurício Santoro disse...

Olá, Marcelo.

Obrigado pela dica, ainda não havia lido o artigo do El País. Me parece que o jornal espanhol exagera a importância do Equador para o projeto da integração física sul-americana. O Peru é bem mais importante nesse aspecto, pela rodovia bi-oceânica, e por lá as coisas estão bem entre empresas brasileiras e governo.

Estou com dificuldade em entender a lógica de Correa, e o mesmo acontece com outros amigos que estudam o Equador. Alguns deles acham que é um gesto de força, para mostrar quem manda após a vitória no referendo. Outros, que ele quer maior controle sobre a economia, mesmo que isso signifique confronto com os investidores externos.

Como você notou, em tempos de crédito escasso, a dimensão sul-americana deve diminuir. O BC brasileiro acabou de liberar R$100 bilhões ao mercado doméstico.

Abraços

Anônimo disse...

Mauricio,

Até onde eu entendo de Equador e de Correa, a atitude dele é sim firme na direção de aumentar o controle do Estado em relação à economia.

Não custa lembrar que a economia equatoriana passou boa parte dos anos 90 na mão de todo mundo e o povo equatoriano pagou muito caro por isso.

Correa não é Chávez, enquanto o segundo blefa bastante--mas de um modo friamente calculado--, o primeiro realmente mostra um compasso maior entre o que fala e o que faz.

Pode dar errado, mas seu discurso deve ser tomado em sentido literal e não lido nas entrelinhas como se deve fazer com os que Chávez faz.

Maurício Santoro disse...

Salve, Hugo.

Acredito que você tem razão. Os atos de Correa estão mesmo muito mais próximos do discurso do que no caso chavista, e suas ações caminham no sentido de maior nacionalização.

Abraços