sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Pensar a América do Sul



Cada um de nós tem sua velocidade pessoal, mas que se desenvolve em meio ao tempo do mundo. Quando ambos sincronizam, o resultado é o sentimento de realização e pertencimento, do estar integrado a alguma maior e mais importante do que a rotina cotidiana. Meu período na cooperação internacional e como estudante de doutorado no Iuperj coincidiu com a formação do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) do instituto. Agora sou um jovem doutor, prestes a virar tecnocrata, e o OPSA completa com festa seus cinco anos de vida.

O Observatório é fruto do trabalho de diversas pessoas em vários países, capitaneadas por minha dileta professora Maria Regina Soares de Lima. Com freqüência digo a meus alunos frases como “Já dizia Maria Regina...” ou “Aprendi com a mestra tal e qual coisa...”. O OPSA procura pensar a América do Sul a partir da perspectiva da própria região. Simples e importante assim. Em outros países, sobretudo na Ásia, projetos semelhantes são conhecidos por nomes mais empolados, como Subaltern/Post-Colonial Studies.

A decisão é uma guinada. A vida acadêmica brasileira tradicionalmente dispensou pouca atenção aos vizinhos, preferindo se dedicar aos Estados Unidos ou à Europa. Os colegas do campo das Letras e das Artes reverteram primeiro o quadro, mas os cientistas sociais demoramos demasiado tempo para corrigir esse erro. Ainda há muito o que precisamos fazer.

Em cinco anos, o site do OPSA já disponibilizou dezenas de pesquisas e artigos, todos gratuitos. Atualiza semanalmente um boletim de notícias sobre a América do Sul e compilou um banco de dados sobre os principais eventos políticos da região. Lançou duas coletâneas de artigos e organizou seminários e debates. Tudo isso o transformou, sem dúvida, na principal referência sul-americana para o estudo do continente.

Embora eu tenha uma intensa vivência acadêmica, optei por não trabalhar em horário integral no mundo universitário. Não cheguei, portanto, a ser membro do OPSA, embora tenha sido assistente de seu embrião, o Grupo de Pesquisa em Política Internacional. Ainda assim, contribuí com diversos artigos para o Observatório. Em geral, textos escritos após alguma viagem a serviço de projetos de cooperação, uma tentativa de refletir sobre a experiência rica, mas de ritmo sempre apressado, que venho levando nos últimos anos.

O aniversário do OPSA foi comemorado pelo lançamento de uma coletânea sobre os governos de esquerda na América do Sul e pela publicação em livro da tese de doutorado do coordenador-executivo do Observatório – e meu amigo fraterníssimo – Marcelo Coutinho. É um estudo brilhante e detalhado sobre as crises políticas na região, com observações muito perspicazes sobre a maneira de superá-las. Um trecho de sua reflexão:

“O problema institucional sul-americano não é de natureza econômica, e sim política. Não há essa associação: crise econômica, crise institucional. Uruguai e Argentina passaram talvez pela pior crise da história da América Latina, entre 1998 e 2003. A crise no Uruguai é tremenda, mas as instituições políticas passam incólumes.”

Exato! Assim como a boa situação econômica vivida pelo boom dos hidrocarbonetos na Bolívia, Equador e Venezuela não resolveu o nó político desses países. Em seu livro, Marcelo se foca no contraste entre Brasil e Peru, e indica que o caminho mais inclusivo adotado pelos brasileiros aponta para boa parte do sucesso da estabilização daqui.

Em meio às celebrações do OPSA, tenho o gosto de ver a publicação de um dos meus artigos: “Políticas Públicas de Juventude no Mercosul”. Uma tentativa de pensar a área a partir das minhas experiências recentes como pesquisador e membro do Conselho Nacional de Juventude.

5 comentários:

SAM disse...

De facto, o problema é político e não económico. A América Latina é um dos pontos mais ricos de todo o globo ( o Brasil e.g. oscila entre a 8ª e a 10ª economia do mundo), mas sem medidas corretamente desenvolvidas do ponto de vista financeiro, pouco ou nada pode ser feito para por a América do Sul num panorama de relevância global.

O Uruguai, que você aqui menciona, junto ao Chile, foi considerado o país no qual a democracia melhor funciona, dentro da América do Sul.

O problema, como creio que já o terei dito aqui, está nas pessoas. Com a saída de Vazquez do Uruguai e a entrada de outro, ninguém sabe se o país continuará a sua estabilidade.

Primeiro, precisa-se de lideranças realistas mais que populistas, lideranças que desejem mesmo servir ao continente e aos seus povos, para poder se ter algum estabilidade e permitir o avanço do continente, unido!

P.R. disse...

parabéns para o OPSA! por pouco não trabalhamos juntos lá também.

Maurício Santoro disse...

Caro Sam,

Sem dúvida colocaria Chile e Uruguai como as democracias mais estáveis da América do Sul, justamente por terem sistemas partidários sólidos, com boas conexões com a sociedade.

É provável que Vazquez faça seu sucessor, a Frente Ampla tem sido bem avaliada e a economia cresceu depois da terrível crise do início da década - talvez até pior do que a Argentina, mas sem tanta visibilidade internacional.

Querida Pat,

Parabéns também a você, que é igualmente parte dessa história.

Devo chegar em BSB no próximo dia 10. Até breve!

Abraços

Anônimo disse...

Muito legal o conteúdo do OPSA.

Mas a navegção né *muito muito* ruim.

Achoq ue seria legal entregar o design do site para um proffisional da área, não para osprogramadores.

Abcs e continuem com o ótimo trabalho.

Maurício Santoro disse...

Oi, Athalyba.

O OPSA contratou webdesigners para criar o site, mas concordo com você que a navegação deixa bastante a desejar. Eu mesmo tenho dificuldades em diferenciar o conteúdo de várias seções.

Abraços